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Serial killer Jeffrey Dahmer é tema de HQ que acaba de virar filme

Derf Backderf, autor de Meu Amigo Dahmer, estudou com assassino; "Continuo sem saber o motivo que o levou a se tornar essa criatura, mas documentei o processo", afirma

Ramon Vitral Publicado em 14/08/2017, às 18h09 - Atualizado às 18h32

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Jeffrey Dahmer foi condenado à prisão perpétua - ASSOCIATED PRESS
Jeffrey Dahmer foi condenado à prisão perpétua - ASSOCIATED PRESS

No dia 18 de junho de 1978, Derf Backderf deixou a casa dos pais rumo à faculdade. No mesmo dia, Jeffrey Dahmer, amigo dele, cometeu o primeiro de uma série de 17 assassinatos. O último encontro entre os dois havia ocorrido poucas semanas antes. Backderf, que se tornou quadrinista, voltou a ter notícias do colega em 1991, quando Dahmer foi preso e virou manchete no mundo todo por crimes envolvendo abuso sexual, necrofilia e canibalismo.

Backderf decidiu contar a história de sua relação com o criminoso em 1994, quando o serial killer foi morto na cadeia por um companheiro de confinamento enquanto cumpria as 16 penas de prisão perpétua às quais fora condenado. O álbum Meu Amigo Dahmer (editora Darkside), que narra a trajetória dessa amizade, acaba de chegar às livrarias brasileiras, meses antes da estreia de sua adaptação para o cinema.

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“É uma história de fracassos”, sintetiza o autor da obra. “Todo mundo fracassa: os pais dele, os professores, a direção da escola, os policiais, os amigos dele e o próprio Jeff”, diz o quadrinista, que também é consultor do filme dirigido pelo cineasta Marc Myers. Já lançada em alguns festivais de cinema nos Estados Unidos, a adaptação vem sendo elogiada pela crítica especializada. “É o filme que Elefante, do Gus Van Sant, gostaria de ter sido: uma dissecação humanizada da psicose adolescente”, afirmou a revista Variety.

De 1994 até 2012, Backderf produziu e chegou a lançar mais de uma versão da HQ, incluindo uma publicação independente de 24 páginas, até chegar às 288 páginas em preto e branco do quadrinho que deu a ele o prêmio de revelação na edição de 2014 do Festival de Angoulême, na França. O quadrinista diz que sempre soube qual seria o recorte da história que queria contar. “Assim que o Jeff começa a matar, ele se torna apenas mais um fanático sem graça para mim e eu perco todo o interesse”, conta o autor.

Com exceção do primeiro assassinato, nenhum dos crimes é mostrado no livro. O que há de mais gráfico são os experimentos do protagonista com corpos de animais mortos achados por ele na estrada próxima à casa dos pais – anos antes dos crânios e órgãos sexuais congelados que seriam encontrados na geladeira de seu apartamento.

“O que me fascinava era a espiral descendente. Por que e como ele se torna um monstro. Eu realmente continuo sem saber o motivo que o levou a se transformar nessa criatura, mas documentei o processo”, explica Backderf. No quadrinho ficam explícitos os vários problemas vividos por Dahmer enquanto crescia. A ausência do pai, a depressão da mãe e os primeiros sinais de alcoolismo estavam à vista de todos, mas foram sempre ignorados pelas pessoas ao redor, inclusive pelo próprio Backderf.

“Desde o começo eu sentia que precisava escrever essa história com uma honestidade brutal”, diz o autor. “Éramos apenas garotos ingênuos de uma cidade pequena. Se soubéssemos o que realmente acontecia na cabeça do Jeff e toda a carnificina que estava para acontecer, é claro que teríamos agido. Mas não sabíamos, então há arrependimento, mas não há culpa. A pergunta que sempre faço é: onde estavam os adultos?”

Para ser o mais fiel possível aos fatos, Backderf conversou com outros colegas de escola, vizinhos e professores do criminoso. Ele também assistiu a diversas entrevistas dadas por Dahmer após sua prisão. De acordo com o quadrinista, seu maior choque durante a pesquisa diz respeito às poucas interações sociais de seu amigo.

“Eu entrevistei aproximadamente 50 pessoas e a resposta mais comum foi: ‘Eu nunca falei com ele’”, conta. “Nenhuma interação, sendo que algumas dessas pessoas foram para a escola com ele durante dez anos! Eu e meus amigos éramos a única conexão social que ele tinha.”