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Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, é o maior disco de todos os tempos, segundo a Rolling Stone

Clássico do Fab Four ocupa a primeira posição na lista de 500 maiores discos da história da música popular, feita pela Rolling Stone

Rolling Stone EUA Publicado em 31/05/2017, às 17h12 - Atualizado às 21h45

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Os Beatles em Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, de 1967 (Foto: Reprodução
Os Beatles em Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, de 1967 (Foto: Reprodução

Em 2003 e depois em 2009, a Rolling Stone EUA convocou uma equipe de especialistas, incluindo jornalistas, executivos da indústria e conhecidos músicos, para votar naqueles que seriam os 500 maiores álbuns da história da música popular. Em 2012, o resultado foi publicado em uma edição especial. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band foi colocado no topo da lista. Aqui está o veredito da publicação sobre o magnum opus dos Beatles.

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1) The Beatles, Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967)

Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band é o álbum de rock mais importante já feito pela maior banda de todos os tempos, uma aventura incomparável em termos de conceito, som, composição, arte de capa e tecnologia de estúdio. Das explosões gloriosas e o som da guitarra fuzz contidas na faixa-título ao espasmo orquestral e o longo e decrescente acorde de piano ao final de “A Day in the Life”, as 13 faixas de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band são o ápice dos oito anos em que os Beatles gravaram discos. John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr nunca foram tão ousados e coesos na busca pela magia e transcendência sonoras.

Lançado no Reino Unido em 1º de junho de 1967, e no dia seguinte nos Estados Unidos, Sgt. Pepper é a declaração máxima de mudança do rock. Para os Beatles, foi um adeus decisivo aos terninhos, às turnês mundiais e ao método de gravação no estilo linha de montagem. “Estávamos cheios de ser os Beatles”, McCartney disse décadas mais tarde, em Many Years From Now, biografia dele escrita por Barry Miles. “Não éramos garotos, éramos homens... artistas, não celebridades.”

Ao mesmo tempo, Sgt. Pepper iniciou formalmente uma temporada inesquecível de esperança, transformação e conquista, radiografando em particular o chamado Verão do Amor, em junho de 1967. Com a instrumentação iridescente, as letras fantasiosas e a embalagem atraente, Sgt. Pepper definiu o otimismo revolucionário da psicodelia e disseminou instantaneamente pelos quatro cantos do globo o evangelho do amor, do ácido, da espiritualidade oriental e das guitarras elétricas. Nenhum outro disco daquela era teve um impacto tão imediato e monumental. A música de Sgt. Pepper documenta a maior banda de rock do mundo no pico da influência e da ambição.

“Foi o auge”, disse Lennon à Rolling Stone em 1970, descrevendo o álbum e a colaboração dele com McCartney. “Paul e eu estávamos definitivamente trabalhando juntos”, ele afirmou, e o disco é rico em evidências disso: a explosão do piano de McCartney e das memórias dos tempo de escola em “A Day in the Life”, de Lennon, uma contemplação sobre a mortalidade; a resposta marota de Lennon ao refrão de McCartney em “Getting Better” (“Não dá para piorar”).

“Sgt. Pepper foi nossa empreitada mais grandiosa”, relembrou Starr, em The Beatles Anthology, autobiografia da banda lançada em 2000. “A melhor coisa dos Beatles é que sempre usávamos a melhor ideia – não importava de quem fosse.” Foi Neil Aspinall, assistente de longa data dos Beatles, quem sugeriu que se repetisse a faixa-título pouco antes do final de “A Day in the Life”, para completar o conceito teatral de Sgt. Pepper: um concerto imaginário de uma banda fictícia, executado pelos Beatles.

As primeiras notas de Sgt. Pepper's foram gravadas em 6 de dezembro de 1966: dois takes de “When I'm Sixty-Four”, pastiche de teatro de revista feito por McCartney. "Strawberry Fields Forever", a reflexão lisérgica de Lennon sobre a infância em Liverpool, foi iniciada duas semanas antes, e era candidata ao álbum, mas foi lançada em fevereiro de 1967 como single. De forma simbólica, Sgt. Pepper surgiu no dia 29 de agosto de 1966, quando os Beatles fizeram o último show oficial da carreira, em São Francisco. Até então, eles tinham feito história no estúdio antes de turnês excruciantes. Fora da estrada de vez, o Fab Four estava livre para ser uma banda longe da histeria da beatlemania.

McCartney deu um passo além. Em um voo para Londres em novembro de 1966, enquanto voltava de férias no Quênia, ele teve a ideia para um álbum dos Beatles “disfarçados”, uma banda alterego que, subsequentemente, chamou de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. "Fingiríamos ser outras pessoas”, explicou em Anthology. "Isso era libertador – você poderia fazer qualquer coisa quando pegasse o microfone ou a guitarra, porque era faz de conta."

Apenas duas músicas no LP final, ambas de McCartney, tinham algo a ver com os personagens da banda de mentira: a faixa-título e "With a Little Help From My Friends", cantada por Starr e introduzida como um número do cantor astro da banda fictícia, Billy Shears. "As outras faixas poderiam ter estado em qualquer outro álbum”, insistiu Lennon mais tarde. Mesmo assim, é difícil imaginar um ambiente mais perfeito para a folia vitoriana de "Being for the Benefit of Mr. Kite!", de Lennon (inspirada por um pôster de circo de 1843) ou a melancolia suntuosa de "Fixing a Hole", de McCartney, com uma mistura de sombras antigas (um cravo tocado pelo produtor dos Beatles, George Martin) e luzes modernas (uma guitarra solo executada com precisão cristalina por Harrison). A premissa de Sgt. Pepper era uma licença para empolgar.

O álbum também ressalta a coesão na vida real entre a música e a banda que a criou. Das 700 horas que os Beatles gastaram elaborando Sgt. Pepper do fim de 1966 a abril de 1967, apenas três dias foram usados para completar "Lucy in the Sky With Diamonds", o esplendido devaneio lisérgico de Lennon. Já "A Day in the Life", a música mais complexa do disco, foi feita em apenas cinco dias (o vasto acorde de piano foi resultado de três instrumentos tocados simultaneamente a 10 mãos –Lennon, McCartney, Starr, Martin e Mal Evans, roadie dos Beatles). Nenhum outro beatle aparece com Harrison em "Within You Without You", um sermão hindu pontuado por cítaras discorrendo sobre materialismo e fidelidade. Mas a banda sabiamente colocou a canção no ponto intermediário do LP original em vinil, como a primeira do lado B: uma pausa de meditação vital no meio da alegre indulgência.

A exploração das várias pistas de gravação transformou o próprio ato de gravar em estúdio (os overdubs orquestrais em "A Day in the Life" marcaram a estreia da gravação em oito pistas no Reino Unido: duas máquinas de quatro pistas foram usadas em sincronia). E a extravagância visual de Sgt. Pepper elevou oficialmente a capa do álbum a uma obra de arte. A foto tirada por Michael Cooper dos Beatles usando uniformes de cetim, em frente a uma plateia de papelão de figuras históricas, criada pelo artista Peter Blake, é a imagem mais duradoura da era psicodélica. Sgt. Pepper também foi o primeiro disco de rock a incorporar as letras completas das músicas no encarte.

No entanto, Sgt. Pepper's é o álbum número desta edição especial não apenas por causa do aspecto pioneiro – ele é simplesmente o melhor de tudo o que os Beatles fizeram como músicos, pioneiros e astros pop, tudo em um só lugar. Um anúncio impresso do álbum publicado em 1967 no Reino Unido declarou: "Lembre-se, Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band são os Beatles". Como McCartney diz, o álbum era "simplesmente nós fazendo um bom show".