Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

Stevie Wonder faz show prejudicado por atraso e problemas técnicos no Rio de Janeiro

Show de abertura de Gilberto Gil começou mais de duas horas depois do previsto

Carlos Eduardo Lima, de São Paulo Publicado em 24/12/2012, às 10h41 - Atualizado às 13h16

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Gilberto Gil e Stevie Wonder em clima de cumplicidade no Rio de Janeiro - Marcos Hermes/Divulgação
Gilberto Gil e Stevie Wonder em clima de cumplicidade no Rio de Janeiro - Marcos Hermes/Divulgação

A principal atração do fim de ano no Rio de Janeiro é o show gratuito que Gilberto Gil e Stevie Wonder realizarão na Praia de Copacabana, nesta terça, 25. Poucos afortunados, entretanto, desembolsaram R$ 800 em um evento beneficente e puderam conferir a dupla bem de perto no palco do renovado Centro Cultural João Nogueira, no tradicional bairro carioca do Méier.

O espetáculo, que arracadou fundos para a Sociedade Viva Cazuza, reuniu uma legião de famosos de todas as magnitudes, dispostos a emprestar seu brilho para o evento. Logo de cara a boa vontade reinante sofreu duro golpe. O show de abertura, a cargo de Gil, teve duas horas e vinte minutos de atraso. Quando os portões foram abertos, os roadies de Gilberto Gil ainda checavam a regulagem dos aparelhos e instrumentos.

Qualquer possível hostilidade pela demora foi demolida pela simpatia implacável de Gil, que subiu no palco às 22h20 para um set de 40 minutos, em que enfileirou só canções dançantes e conhecidas do público.

Ao fim da segunda, "A Novidade", a plateia já estava dançando em suas mãos. Com uma banda versátil e muito competente, com destaque para acompanhantes veteranos como o baixista Arthur Maia e o baterista Jorge Gomes, Gil chegou ao grau máximo de empolgação com "Palco", que surgiu em uma versão suingada e cheia de citações instrumentais, que não deixou ninguém parado.

Já passava de 00h20 quando Stevie Wonder subiu ao palco, conduzido por sua filha Aisha Morris. Cauteloso a princípio, Wonder logo estabeleceu contato com o público e iniciou uma longa versão para "Wonderful World", canção clássica de autoria de Sam Cooke, um dos grandes cantores da soul music, precocemente falecido em dezembro de 1964. A partir daí, Wonder também conduziu a dançar em uma sequência que se iniciou com "Bird of Beauty" (em arranjo muito próximo do samba jazz), "Master Blaster" e "Higher Ground".

Nesse momento, o show tinha potencial para se transformar em um baile antológico, mas Wonder insistiu em convocar a plateia para segui-lo em harmonias, dividir o público na base do "agora só os homens", "agora só as mulheres". O que também poderia se converter em um agradável espetáculo de cumplicidade com um artista vencedor e dono de um dos maiores repertórios da música pop, também não decolou. O público, disposto a perdoar e entender tudo, aplaudiu e dançou, mas um microfone defeituoso atrapalhou bastante a execução da dobradinha climática de "Knocks Me Off My Feet" e "You And I".

A primeira canção com a participação de Gil foi "Secret Life of Plants", também prejudicada pelo microfone e pela falta de entrosamento entre as vocalises de Gil e Wonder, que não se acharam em nenhum momento. O clima melhoraria em seguida com a bela "Send One Your Love", cujo brilho não foi ofuscado pelos problemas de som ainda existentes. Uma versão cantada pela plateia de "Garota de Ipanema", exatamente como aconteceu no Rock In Rio 2011, trouxe uma sensação de "deja-ouvi" e a certeza de que a sincera homenagem de Wonder estava com o prazo de validade vencida. Algumas pessoas começaram a deixar o local.

A partir daí, o show recuperou seu ritmo normal, com a execução de cavalos de batalha dançantes do calibre de "Sir Duke", "Signed, Sealed, Delivered, I'm Yours", que pareceram tocados meio às pressas pela banda, tanto que "I Just Called To Say I Love You", que veio em seguida, fechou a trinca formando um medley um tanto desconexo. Neste momento a frente do palco foi definitivamente invadida por uma horda de pessoas que parecia mais preocupada em obter a melhor fotografia, a melhor filmagem, o melhor registro do show, em vez de simplesmente assisti-lo. Aos pés do trio de vocalistas, alguns gaiatos mandavam beijos e faziam reverência.

Ainda haveria tempo para Stevie Wonder convidar seus filhos mais novos, Kailand (11 anos, que assumiu um kit de bateria mirim) e Carl (7 anos), além de Gil, para uma catarse musical-familiar, que se iniciou com uma versão em inglês de "Boas Festas", puxada pelo veterano cantor e compositor baiano, emendada na indefectível "Você Abusou" e em versões caóticas – mas competentes – de "Superstition" e "My Cherie Amour".

Cerca de 200 das 642 pessoas presentes saíram antes do encerramento do espetáculo, cansadas pelo atraso de cerca de três horas no total ou pela estranha apresentação de Stevie Wonder. Poderia ter sido um show histórico, mas resvalou em problemas sérios de produção, de som, de andamento. Nada disso é capaz de arranhar o prestígio e o status de ícone da soul music, mas ele e seu público mereciam melhor sorte neste show.