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Tom Petty foi um tradicionalista com coração fincado nas coisas da América

O músico também fez parte de um supergrupo com Bob Dylan, Roy Orbison, George Harrison e Jeff Lynne e é citado como uma grande influência de diversas bandas de alt country

Paulo Cavalcanti Publicado em 03/10/2017, às 09h14 - Atualizado às 10h00

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Chatices de roqueiro: Tom Petty - AP
Chatices de roqueiro: Tom Petty - AP

Tom Petty sempre foi um peixe fora d’água. Mesmo com todo o sucesso que obteve nos 40 anos de carreira, especialmente durante as décadas de 1980 e 1990, ele navegava à margem das modas e tendências. De forma geral, Petty (que morreu nesta segunda, 2, aos 66 anos) era um tradicionalista que tinha como intenção dar uma cara nova a velhos formatos, tanto no som quanto na linguagem.

Quando Tom Petty apareceu, na metade da década de 1970, o punk e a disco music sacudiam o panorama musical dos Estados Unidos. Mas havia também um interesse pela volta da música de raiz, uma ânsia por canções semi-acústicas falando de cidades do interior que perdiam a identidade com a modernização, de estradas sem fim, de diversão sem compromisso e de garotas apaixonadas por Elvis Presley. Petty se tornou o sujeito certo para trazer isso de volta, aprofundando a estética do caubói urbano que o Eagles dominava com muito sucesso no período. Mas quanto à mensagem, Tom Petty and The Heartbreakers estavam mais perto do jeito pé no chão, proletário e acessível de Bruce Springsteen e da E Street Band.

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O folk rock, força motriz da década de 1960, era a inspiração do cantor e guitarrista. Foi neste idioma que ele que calcou praticamente toda a carreira. Ao lado da banda The Heartbreakers (uma entidade orgânica, que completava musicalmente suas ideias), Petty gravou o primeiro álbum, em 1976. Tom Petty and The Heartbreakers foi mais bem recebido na Inglaterra do que nos Estados Unidos. “American Girl” chegou ao Top 40 britânico. Aos poucos, Petty se tornava conhecido.

O segundo álbum, You're Gonna Get It!, assim como o primeiro, teve um impacto modesto. Depois dele, Petty estava falido e teve que começar de novo. Foi em sua nova gravadora, a MCA, que finalmente se achou com Damn the Torpedoes (1979). O trabalho foi um enorme sucesso comercial, alcançando o segundo lugar – The Wall, do Pink Floyd, impediu que Petty ocupasse o topo da lista. Este segundo álbum finalmente revelava ao grande público toda a essência de Petty and The Heartbreakers: a musicalidade vintage, a poesia baseada em Bob Dylan, a pegada de rock a la Rolling Stones e, principalmente, a influência geral dos The Byrds. O vocal de Petty sempre foi muito similar ao de Roger McGuinn, líder da banda pioneira de Los Angeles, assim como o som que extraía da guitarra Rickenbacker. Em Damn the Torpedoes, esta adoração aos Byrds ficava explícita com a gravação de “I Feel a Whole Lot Better”, pérola escrita por Gene Clark, também do The Byrds, e gravada pela banda em 1965.

Durante toda a década de 1980, Tom Petty and the Heartbreakers mantiveram a consistência. A base sonora ainda era o folk rock, mas em trabalhos como Hard Promises (1981), Long After Dark (1982) e Southern Accents (1985) também havia espaço para southern rock, psicodelismo e uma pitada de punk e new wave aqui e ali. Foram tempos de glória para Tom Petty. O momento foi coroado em 1988, quando ele foi chamado para participar, ao lado de Bob Dylan, Roy Orbison, George Harrison e Jeff Lynne, do supergrupo The Traveling Wilburys. Petty, de certa forma, era o caçula ali, mas naquele momento também era um gigante ao lado de ídolos que acabaram se tornando amigos.

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Em 1989 veio Full Moon Fever, trabalho solo que se tornou o mais bem-sucedido momento comercial de Tom Petty, trazendo grandes canções como "I Won't Back Down", "Runnin' Down a Dream" e "Free Fallin". Em 1991, ele se uniu aos Heartbreakers para gravar o ótimo Into The Great Wide Open. Wildflowers, de 1994, produzido por Rick Rubin, foi outro trabalho solo de Petty que foi bem recebido por público e crítica.

Eterno iconoclasta, Petty detestava sons digitais, timbres eletrônicos ou qualquer coisa que achasse que tiraria a essência da música. Toda a “má vontade” que tinha em relação às reviravoltas dentro do mercado e da música moderna foi destilada em 2002 com o lançamento de The Last DJ, no qual distribuindo pontapés. Naquele mesmo ano, ele entrou para o Hall da Fama do Rock and Roll ao lado de Ron Blair, Mike Campbell, Howie Epstein, Stan Lynch e Benmont Tench., integrantes do Heartbreakers. A esta altura, Tom Petty também era uma inspiração de longa data para o alt country. Wilco e outras bandas do gênero nunca esconderam que se não fosse por Tom Petty a história seria outra.

Mas ele não era uma força gasta ou uma referência de um passado não tão distante. Em 2014, lançou Hypnotic Eye, que além de ser louvado pela crítica alcançou o primeiro lugar da parada.

Nestes últimos anos, Petty se sentia mais à vontade na estrada. Saiu em turnê em 2016 para celebrar os 40 anos da longa trajetória e agora, aos 66 anos, sai de cena. Tom Petty deixa um catalogo de canções vitais e melódicas, que revelam uma vasta gama de emoções e sentimentos universais.