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Virada Cultural: apresentações no palco República se encerram com shows explosivos de black music

Charles Bradley confirmou o talento vocal e de showman, enquanto Larry Graham mostrou porque é venerado como o inventor do slapping

Antônio do Amaral Rocha Publicado em 06/05/2012, às 23h26 - Atualizado em 07/05/2012, às 01h22

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Charles Bradley começou a carreira em 1996, interpretando músicas de James Brown. - Rogério Motoda
Charles Bradley começou a carreira em 1996, interpretando músicas de James Brown. - Rogério Motoda

No meio da tarde do domingo, 6, o público da Virada Cultural se aproximou do Palco República para conhecer a novidade que se anunciava. Às 15h10, uma banda formada por trompete, sax tenor, órgão Hammond, baixo, bateria e guitarra disparou os primeiros acordes de um soul dançante. Após dois temas, o organista se dirigiu ao microfone e anunciou: “Mr. Charles Bradley!”. Já na casa dos 60 anos, expansivo e sorridente, o cantor adentrou trajando jaqueta vermelha com as iniciais “CB”, calça preta colada ao corpo, botinhas de solas e saltos vermelhos. Diante da ovação da plateia, fez uma reverência, levou a mão peito e respondeu "I love you", visivelmente emocionado. Mas o melhor estava por vir, justamente quando Bradley soltou a voz, revelando-se um assombroso misto de James Brown, Wilson Pickett e Otis Redding.

Bradley, que começou tarde na carreira, em 1996, justamente fazendo shows como sósia de James Brown, é dono de um forte registro vocal quando canta temas de amor – ao longo do show, emocionou-se com a própria interpretação, indo às lágrimas e agradecendo de forma quase religiosa. Em certos momentos, apontou para o próprio peito e para o céu e exclamou: "Look at the sky". Em outros momentos, quando cantou temas mais mundanos, dançou de forma provocativa e sensual, passando as mãos pelo corpo, rolando no chão e ensaiando passos que remetiam ao próprio Brown e resvalaram também em Michael Jackson.

Após 30 minutos, Bradley deixou a banda. Anunciado novamente pelo tecladista, retornou vestido com calça e colete dourados e passou a apresentar a banda. De cada músico, pediu um improviso e descreveu os instrumentos. Para o guitarrista, pediu "make cool", mas o solo que teve como resposta não foi nada cool, levando uma corda a estourar. Como forma de agradecimento, o cantor desceu do palco enquanto a banda se retirava e, às lágrimas, abraçou centenas de pessoas durante 30 minutos, para desespero da equipe de segurança.

Com mais de uma hora de atraso, o show de encerramento do Palco República parecia que nem iria acontecer. Problemas com o acerto dos instrumentos deixaram o público inquieto. Até que finalmente às 18h20 surgiu o baixista Larry Graham, acompanhado da banda Graham Central Station, todos uniformizados em tons de azul e branco e chapéus adornados com penas, dançando e tocando instrumentos de uma escola de samba. E outro mistério se revelou: talvez tanta dificuldade na regulagem dos equipamentos estivesse relacionada à altura com que foram tocados.

Se não estivesse tudo acertado, com certeza o público ouviria muita microfonia. Mas não foi o que aconteceu. Graham, tido como um dos inventores da técnica slapping, já consagrado como baixista do Sly & the Family Stone, parece um personagem saído de filmes blaxploitation e comprovou que possui uma legião de admiradores no Brasil. Aproveitando-se dessa notoriedade, realizou uma performance na medida do gosto do público, que respondeu a todas as solicitações, especialmente a dança. Para encerrar, permitiu que dezenas subissem ao palco para dançar, o que resultou em um fim de festa verdadeiramente catártico.