Blitz - Divulgação

Blitz celebra 35 anos e Evandro Mesquita avalia o seminal legado da banda

Paulo Cavalcanti Publicado em 20/01/2018, às 13h12

A Blitz tem uma importância fundamental dentro do espectro da música pop nacional. O legado musical da banda carioca ainda repercute e o pioneirismo dela abriu inúmeras portas. Se não fosse pelo estouro do single “Você Não Soube Me Amar” naquele marcante verão de 1982, o chamado BRock, trazendo em seu bojo Os Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho e outros, teria uma origem diferente. O sucesso dessa turma foi, ainda, essencial para a criação do primeiro Rock in Rio, em 1985, e, com o impacto do evento, o showbusiness brasileiro mudaria para sempre.

No momento, os 35 anos de existência do grupo são marcados pelo lançamento de Blitz no Circo Voador (Deck/Canal Brasil), o quarto DVD da carreira. À frente da Blitz ainda está o duradouro Evandro Mesquita. O cantor, eterno garotão e carioca da gema, tem agora 65 anos, mas não aparenta a idade, nem em corpo nem em espírito. Quando conversou com a reportagem, ele rumava a Las Vegas, onde a banda iria participar do Grammy Latino, concorrendo com o álbum Aventuras II, lançado no fim do ano passado. Para ele, esse é um acontecimento que coroa um projeto que começou sem pretensões. “Eu tinha 19 anos quando passei a viver de arte”, relembra. “Comecei no teatro e depois entrei para o Asdrúbal Trouxe o Trombone (trupe que juntava artes cênicas e música). Era tudo muito underground.”

A Blitz surgiu em meio a um dos núcleos de teatro dos quais Mesquita fazia parte. “O que fazíamos tinha uma pegada de rock e com um alto grau de teatralidade”, conta. “Colocamos as garotas dos backing vocals na frente; tramávamos diálogos entre os homens e as mulheres. As nossas canções eram diálogos retirados do cotidiano. Falávamos de coisas sérias também, mas sem a intenção de pregar sermão.” A ideia era que o trabalho tivesse humor, mas sem perder o pique e o suingue. Para o cantor, era um antídoto natural ao clima do Brasil da época: “Tudo era muito sinistro”, lembra. “Então, viemos com cores, com o espírito de praia, aquela vibração do Bob Marley.”

Mesmo com a censura e a repressão aos costumes do período, o vocalista fala que havia muita gente praticando plenamente a liberdade. “A nossa turma frequentava as praias de Saquarema. Tinha a galera do surfe e o pessoal que ficava à beira da fogueira. A Blitz foi porta-voz desse jeito coloquial e informal”, diz. O local que aglutinava as tribos era o Circo Voador. “Criamos um ambiente que juntasse artes alternativas debaixo daquela lona. Eu atuava como diretor musical do local e vi um monte de bandas estreando no Circo. Foi assim que tudo tomou forma.”

Naturalmente, tinha gente de olho na cena. Um amigo do cantor recomendou a Blitz para Mariozinho Rocha, produtor da gravadora EMI-Odeon. Mesquita recorda: “A gente tinha gravado uma fita demo e o Mariozinho disse: ‘Eu nem preciso ouvir. Já vou bancar um dia de estúdio para vocês’”. Ela fala que o executivo “pirou”: “Ele comentou que não ouvia nada tão forte desde os Secos e Molhados”. Com a exposição na Rádio Cidade, a Blitz, então, aconteceu.

O sucesso do grupo marcou uma troca de guarda, trazendo elementos da vigente new wave para dentro da cultura brasileira, e assim mexendo com a linguagem, comportamento, atitude e moda. Mesquita fala com orgulho: “Todo aquele pessoal, como Lulu [Santos], Lobão e Ritchie, já estava na ativa desde o final dos anos 1970. Mas a Blitz foi a primeira banda a ser ouvida, e trazer o que rolava na cena alternativa para a frente”. A nostalgia exercida hoje pelo público a respeito da década de 1980 é algo natural para o artista, que pondera: “O Lobão fala mal [sobre o período], diz que era tudo cafona. Mas foi legal, sim. Conseguimos realizar algo fértil e pulsante. Acho normal que as pessoas valorizem a década, é a referência que elas têm”.

Sempre correndo, Mesquita tem dividido seu tempo entre a Blitz e inúmeros projetos, especialmente como ator. Interpretar é algo de que ele não abdica. Ele fez parte do extinto seriado A Grande Família por nove anos, vivendo o mecânico Paulão, e também esteve no elenco de incontáveis novelas e filmes. O cantor diz que é possível conciliar tudo. “Gravo televisão de segunda a quarta. O resto da semana é dedicado à Blitz”, diz.

Com uma agenda lotada, a Blitz vive em aeroportos. Mesquita conta que convocou parte dos convidados de Aventuras II em encontros casuais ocorridos em lounges de companhias aéreas: “Foi assim com o Zeca Pagodinho, com o Seu Jorge e mesmo com o Frejat, amigo de longa data. Também convidamos a Alice Caymmi para o disco. Foi engraçado porque o avô dela, o Dorival Caymmi, uma vez foi a um show da gente”, ele se diverte.

musica frejat blitz Aventuras Evandro Mesquita zeca pagodinho Lulu Santos lobao fernanda abreu grnade familia aluce caymmi

Leia também

Andrea Bocelli ganha documentário sobre carreira e vida pessoal


Janis Joplin no Brasil: Apenas uma Beatnik de Volta à Estrada


Bonecos colecionáveis: 13 opções incríveis para presentear no Natal


Adicionados recentemente: 5 produções para assistir no Prime Video


As últimas confissões de Kurt Cobain [Arquivo RS]


Violões, ukuleles, guitarras e baixos: 12 instrumentos musicais que vão te conquistar