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Desenvolvimento a Todo Custo?

Marina Silva caiu diante da política desenvolvimentista do governo Lula, que cada vez mais se distancia das questões ambientais fundamentais no Brasil

Por André Pessoa Publicado em 24/02/2011, às 18h45

No ano em que se completam duas décadas da morte do líder seringueiro Chico Mendes, a senadora acreana que estava à frente da política ambiental brasileira e que, ao lado do mártir da Amazônia, construiu uma sólida carreira em defesa do Meio Ambiente, desistiu de dar murro em ponta de faca. Marina Silva representou o que existia de melhor no governo Lula. E, mesmo sem o total apoio do presidente, conseguiu barrar a predatória ganância empresarial. Em sua gestão, a Lei da Mata Atlântica foi finalmente aprovada e foram criadas diversas unidades de conservação além do Plano Nacional de Combate à Desertificação. Também teve início a discussão sobre o Plano Nacional de Mudanças Climáticas e o Plano Nacional de Recursos Hídricos. Ela intensificou a luta contra o desmatamento e teve papel fundamental na proposição do Plano de Prevenção e Combate aos Desmatamentos na Amazônia e no recém-lançado Plano Amazônia Sustentável. Vários espaços de participação social foram implantados, incluindo a realização das Conferências Nacionais do Meio Ambiente, envolvendo milhares de pessoas e contribuindo para popularizar cada vez mais a temática ambiental no país e incorporar atores relevantes que historicamente têm sido excluídos dos processos decisórios.

Grife ambiental reconhecida mundialmente, sem Marina Silva o governo arrisca não só o prestígio internacional, mas a confiança dos países que desejam a preservação da Amazônia. No cenário internacional, de um modo geral, a saída de Marina é descrita como uma catástrofe para a região. O tom do jornal El País, de Madri, foi sintomático: "Lula dá as costas à ministra defensora da Amazônia". A demissão, associada à notícia da absolvição em segundo julgamento de um dos acusados pela morte da missionária Dorothy Stang, mesmo com todas as evidências em contrário, não fizeram nenhum bem ao Brasil.

Durante a gestão de Marina Silva na pasta do Meio Ambiente, houve indícios claros de que o presidente não absorveu completamente as preo-cupações sócioambientais em suas políticas de governo - a liberação dos transgênicos; o licenciamento da transposição do Rio São Francisco; a retomada de grandes obras de infra-estrutura na Amazônia sem planejamento integrado; o licenciamento das usinas hidrelétricas no Rio Madeira; a expansão desordenada dos agro-combustíveis; a expansão de monoculturas de eucalipto para a produção de papel e celulose em imensas áreas; o apoio incondicional ao agronegócio exportador, o principal vetor do desmatamento. E, agora, a retomada do Programa Nuclear.

Você lê esta matéria na íntegra na edição 21 da Rolling Stone Brasil, junho/2008

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