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Eleições 2010

Pela primeira vez, desde 1989, o nome de Lula estará fora das urnas. O PT precisará construir um candidato a sucessor; a oposição terá de superar as disputas internas. Faça suas apostas, o jogo em que quase nada é o que parece ser está aberto

Gustavo Krieger Publicado em 16/08/2007, às 12h32 - Atualizado em 31/08/2007, às 15h24

Políticos seguem um calendário diferente do nosso. Para eles, é fundamental estar sempre um passo à frente do adversário. Ou mesmo do companheiro de partido. Por isso, para um punhado deles, a campanha eleitoral de 2010 começou precisamente às 20h22 do domingo, 29 de outubro, quando o tucano Geraldo Alckmin telefonou para o presidente Lula e reconheceu a derrota. O novo quadro político gerado pela reeleição de Lula define o cenário político no qual será escolhido seu sucessor. Hoje, há uma meia dúzia de nomes capazes de sonhar tão alto. Cada um deles começa a fazer seu jogo. Um jogo de bastidores, em que quase nada é o que parece.

É um jogo novo. Pela primeira vez, uma peça importante estará fora do tabuleiro. Reeleito, Lula está impedido de disputar a presidência de novo em 2010. Na cédula ou na urna eletrônica, o nome dele esteve sempre presente, desde 1989. Para se ter uma idéia, a última vez em que houve uma eleição direta para presidente sem que Lula fosse candidato, o eleito foi Jânio Quadros.

Depois de tanto tempo à sombra de Lula, seu campo político não tem nenhum nome óbvio para sucedê-lo. Do outro lado, há uma oposição derrotada, mas com muitos candidatos viáveis para 2010. Um lado precisa consolidar um candidato que não existe. O outro precisa superar as disputas internas e achar um nome de consenso. Difícil saber qual a tarefa mais difícil.

No campo da oposição, a escolha mais óbvia poderia ser Geraldo Alckmin. Afinal, ele saiu das urnas com mais de 37 milhões de votos. Teve um mau segundo turno, é verdade, mas saiu da eleição maior do que entrou. Era um governador de São Paulo, com prestígio apenas regional e ainda à sombra de Mário Covas. Tornou-se o nome que milhões de brasileiros ostentaram em adesivos nos carros. Faz sentido, não? Mas tudo isso não vale nada. Alckmin é o azarão na disputa para ser o candidato tucano. À frente dele, e bem à frente, estão dois vencedores das eleições deste ano: José Serra, governador eleito de São Paulo, e Aécio Neves, reeleito em Minas Gerais.

Serra é uma espécie de "candidato natural" do PSDB. Disputou contra Lula em 2002 e só não foi o candidato neste ano porque demorou demais a tomar a decisão de entrar na disputa interna. Saiu fortalecido das eleições, com a vitória em primeiro turno para o governo de São Paulo. Comandará o segundo maior orçamento do país ao longo dos próximos quatro anos e terá a chance de consolidar uma imagem de administrador. Aécio também ganhou força, ao reeleger-se governador em Minas Gerais com mais de 75% dos votos.

O primeiro round da disputa interna entre os tucanos será pelo comando do PSDB. O grupo que sustentou Alckmin durante a campanha eleitoral articula sua eleição para a presidência do partido, no lugar do senador Tasso Jereissati. Não vai ser fácil. Se Alckmin assumir a presidência do partido, ganhará uma posição de força na corrida para ser o candidato em 2010. Além disso, imprimirá ao PSDB um tom de oposição mais dura contra o governo Lula. Esse tom não interessa a Serra e Aécio. Os dois querem um bom relacionamento com o Palácio do Planalto, que permita levar verbas federais a seus estados e melhorar a imagem de suas gestões.

Eles preferem ver no comando do partido alguém sem pretensões presidenciais, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Com Alckmin fora do caminho, os dois governadores estariam livres para disputar sua corrida em faixa própria.

Do lado de Lula, o problema é achar um candidato. A tarefa é tão complicada que o presidente cogita algo que seria impensável até aqui. Pode lançar como candidato à sua sucessão um nome de fora do PT. O partido saiu muito desarticulado da crise ética dos últimos dois anos. Lula sonha em formar um novo bloco político, capaz de disputar a hegemonia nacional com a aliança formada pelo PSDB e PFL. Este bloco seria liderado pelo PT e PMDB, e agregaria partidos como PSB, PC do B, PTB e PL. Nasceria na sombra do governo Lula, mas precisa de uma alternativa de poder para 2010.

Os nomes não petistas na lista de Lula são Aécio Neves e Ciro Gomes. O governador de Minas Gerais é o tucano preferido do presidente. Durante a campanha eleitoral, manteve-se longe dos ataques mais duros. Adotou um tom de oposição cordial. Lula articula nos bastidores para levá-lo ao PMDB. Não é nada simples. Aécio tem uma história no PSDB e seria um movimento muito arriscado trocar de legenda.

Um dos mais jovens entre os presidenciáveis, Aécio sabe que o tempo joga a seu favor. Pode tentar a presidência em 2010 ou 2014. Lula acompanha de longe e torce para que ele seja derrotado internamente no PSDB e julgue não ter chances de chegar ao Planalto pelo partido.

Ciro Gomes tem outro perfil. Sua principal vantagem é a relação pessoal com Lula. O presidente o considera um dos aliados mais leais. A aproximação começou no segundo turno das eleições de 2002. Derrotado, Ciro aderiu na mesma noite à candidatura de Lula e foi um ativo militante do candidato do PT. Convidado a assumir o Ministério da Integração Nacional, surpreendeu os que esperavam que ele comprasse várias brigas dentro do governo. Foi disciplinado, mesmo quando não concordava com a política econômica. Saiu-se bem nas eleições, ao eleger-se deputado federal com a maior votação proporcional de um candidato em todo o país. Além disso, conta com o recall de ter sido candidato a presidente em 2002, o que pode garantir-lhe uma boa largada nas primeiras pesquisas sobre a eleição de 2010.

Mas é bom que ninguém pensa que será fácil convencer o PT a abrir mão de ter candidato a presidente. A história do partido diz o contrário. O PT sempre brigou para liderar qualquer aliança da qual fizesse parte. Até hoje, Lula pressionava o partido com a ameaça de não disputar as eleições. Em 2010, ele não terá este argumento.

O problema do PT é a falta de nomes. Os personagens que ambicionavam suceder Lula, como José Dirceu e Antônio Palocci, foram varridos pelas crises do primeiro governo. O senador Aloísio Mercadante (SP) foi atingido pela crise da compra do dossiê contra tucanos. Dois nomes concentram hoje a esperança petista. O primeiro é a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, que ganhou força ao assumir a campanha de Lula no segundo turno. Sem imagem nacional, precisaria pegar carona em um cargo de boa visibilidade no governo. A outra opção é o governador eleito da Bahia, Jaques Wagner. Petista moderado e ligado a Lula, ele emergiu como vencedor destas eleições. Também precisa nacionalizar-se.

Fora desses dois blocos, é difícil imaginar a construção de um candidato viável a presidente. Certamente Heloísa Helena voltará a gritar seu libelo contra as elites, vestindo blusa branca e os indefectíveis jeans, mas a aventura deste ano mostrou que seu alcance é limitado. Anthony Garotinho é outro presidenciável que encolheu. Como ficou provado no segundo turno, até o apoio dele pode ser uma desvantagem. Geraldo Alckmin que o diga& O PFL pensa em lançar o prefeito do Rio, César Maia. No início da campanha de 2006 o partido tentou a mesma coisa. Expôs Maia na televisão, para testar se ele subiria nas pesquisas. Não subiu.

Façam suas apostas. Os pretendentes estão em campo.

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