Entre rádio e televisão, Surita vive o <i>Pânico</i> 24 horas por dia - FELIPE MOROZINI

Emílio Surita

Celebrando a liberdade na TV, o apresentador do Pânico não liga de ser barrado em festas

Por Paulo Cavalcanti Publicado em 11/01/2010, às 10h09

Talvez poucos apostassem na durabilidade do humorístico Pânico na TV, exibido nas noites de domingo, na Rede TV. Amado ou odiado, mas nunca ignorado, o programa consegue a proeza de ser assunto durante o resto da semana, além de ter sido responsável por um dos bordões do ano, cunhado pelo ex-guardador de carros Zina. À frente da trupe está Emílio Surita, 48 anos, que enfatiza o fato de o Pânico ser uma criação coletiva e que se define como "o zelador do prédio, o cara que chamam quando o cano quebra". Em um estúdio em penumbra na sede da rádio Jovem Pan, o apresentador falou sobre o imbróglio Zina (preso em outubro por porte de cocaína) e detalhou o papel do Pânico no atual contexto da TV brasileira.

Como você vê o alcance do Pânico hoje?

A gente se propõe a fazer um programa popular, porque na TV aberta você tem que ser assim. Só que, em determinados momentos, colocamos o que gostamos, como citações ao [humorista norte-americano] Andy Kaufman. A galera que faz o Pânico gosta de muitas coisas diferentes. Mas sempre colocamos tudo de uma forma popular, longe desse papo de "olha, somos do caralho", ou sem a pretensão de chegar para o público com a postura "queremos educar vocês". A gente quer se divertir e divertir as pessoas. O Pânico sempre teve esse objetivo. Ainda mais no domingo, às 9 da noite. Não dá para fazer nada erudito.

CONFIRA AS PERGUNTAS E RESPOSTAS de Emílio Surita que ficaram de fora da edição impressa.

O que você acha do CQC e da explosão do humor na TV?

Eu acho que tem espaço para todo mundo. Mas o Pânico não tem nada de revolucionário. O programa surgiu em 2003, numa época em que a TV estava meio devagar em termos de humor. Não houve nada planejado, não havia a pretensão de criar uma "escola". Eu acho o CQC legal, os caras são talentosos. Mas ele é bem mais fechado do que o Pânico. É um formato que veio da Argentina, né? Houve o boom do humor, mas logo vai ter a seleção natural. Acho, por exemplo, que essa coisa do stand up vai acabar saturando. Hoje todo mundo tem seu texto de humor e já quer sair mostrando...

O Pânico surgiu no rádio e se transferiu para a TV. Isso influencia o programa?

O rádio nos deu velocidade de raciocínio. É tudo ao vivo. Assim não temos que ficar nos prendendo ao texto. Nossas matérias na TV são muito rápidas e têm agilidade, isso veio da escola do rádio. Tivemos que aprender a fazer televisão. Os editores são moleques, antenados com tudo o que acontece. Hoje, o YouTube é mais importante para o meu filho do que a televisão. A internet tem muito peso neste momento.

O programa já é bem aceito pelas "instituições"?

Não acho que o Pânico esteja no mainstream. Ainda ficamos na porta das festas, ninguém quer a gente nas inaugurações. No fim, você leva a fama por um monte de coisas. Um exemplo: não nos deixaram ir à festa de dez anos da Rede TV. Acharam melhor, e a gente entendeu na boa. Não sei se causamos constrangimento. O problema é que você acaba interferindo na vida da pessoa, envolvendo o cara em situações que talvez ele não queira.

O roteiro é fixo ou há espaço para o improviso?

Não tem muito no papel. Durante a semana vão acontecendo as cagadas... É a cueca do Suplicy, é o apagão. Aí, a gente monta o programa. E muda tudo. Já que temos o rádio todos os dias, vivemos o Pânico 24 horas. Temos ideias, mas nem sempre sabemos se vão funcionar.

"Ronaldo! Brilha muito no Corinthians" já é uma das frases do ano.

O bordão surgiu numa brincadeira de edição. Agora, quando visito agências de publicidade, os caras falam: "Emílio, temos que fazer um viral igual ao do Zina". Isso não existe. Ninguém tem a capacidade de inventar um cara igual ao Zina. Sei lá se é carisma o que ele tem. Quando é algo forçado, a molecada não compra a ideia.

Mas existe a conversa de que o Pânico estaria explorando a imagem dele.

É um assunto complexo. A gente não sabia quem era o Zina. Era um cara que tomava conta de carro e morava num quartinho. É o cara típico da Gaviões da Fiel. Tem milhares iguais a ele, um bando de loucos na torcida do Corinthians. Não acho que ele esteja sendo explorado. OK, ele não se preparou para estar na TV. Mas está recebendo por tudo o que faz e gosta muito. Ele sempre liga para a redação e fala: "E aí, vamos fazer minha matéria". Ele ganhou uma casa da gente. Se ele não quer gravar, vai pra van e fica lá. Ele tem os problemas dele, toma os remédios e agora rolou esse lance com as drogas.

E como é lidar com isso?

Fomos pegos de surpresa. Fico preocupado, já que ele sofre de esquizofrenia. Ele era moleque da rua e começou a fazer sucesso. Isso desperta inveja. Nós o levamos a um psiquiatra, depois ao médico. Ele não quis fazer exame de sangue. E falou: "Estou bem, me deixa quieto". A gente tem que ser muito amigo do cara. Ele é incontrolável porque é verdadeiro. Agora temos que conciliar esses problemas com a TV. Trabalhar com o Zina é uma experiência em comunicação. Procuramos ser honestos com ele e a família. O importante é que a molecada o adora.

A imprensa sempre noticia que o Pânico estaria saindo da Rede TV. Até que ponto isso é verdade?

A gente tem que ponderar. Na TV, as propostas não acontecem necessariamente para melhorar sua carreira. Elas são feitas para tirar você de onde está e deixar de incomodar quem tem mais dinheiro e poder. A Rede TV está crescendo. O importante é que temos liberdade editorial.

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