RS entrevista Dilma Rousseff - Ilustração Marcelo Calenda

Entrevista RS Dilma Rousseff

Por Ricardo Franca Cruz, Pablo Miyazawa, Rodrigo Barros e Fernando Vieira Publicado em 18/10/2010, às 16h19

Foram oito meses de tentativas, sucessivas negativas, quase uma dezena de assessores consultados, inúmeras explicações e frustrações: as dificuldades e os percalços em conseguir uma longa entrevista com a candidata Dilma Rousseff (PT) foram - traçando um paralelo com os temas e personagens normalmente retratados pela Rolling Stone Brasil - dignos de uma celebridade musical, cinematográfica ou televisiva de primeira grandeza. Mesmo antes da confirmação de sua candidatura ao cargo máximo da nação, plenamente apoiada pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a organização da campanha tentava blindar a mineira Dilma, 62 anos, de um contato mais aprofundado com os principais órgãos de imprensa do Brasil. Foi somente após sua consolidação no topo das pesquisas de opinião que o cerco a seu redor se afrouxou - mas não o suficiente: todas as nossas insistentes solicitações para uma entrevista com Dilma em corpo presente foram negadas, supostamente por causa da atribulada agenda de compromissos relacionados à campanha. As respostas a seguir foram concedidas por meio de uma única troca de e-mails com a candidata.

Caso eleita, que a senhora pretende fazer pelo Brasil?

Sempre acreditei que o Brasil podia mudar , mas por muito tempo isso parecia uma possibilidade longínqua. O governo Lula mostrou que isso é possível, com um projeto de desenvolvimento com inclusão social. Um governo para 190 milhões de brasileiras e brasileiros e não para poucos privilegiados, como se fazia no governo anterior. Minha candidatura representa a continuidade deste projeto que trouxe mudanças. Continuidade que significa manutenção e avanço. No governo Lula, 24 milhões de pessoas saíram da miséria e 31 milhões ascenderam à classe média. Mas ainda há muito a fazer. Este é meu sonho: um Brasil sem miséria, um Brasil majoritariamente de classe média. Vamos trabalhar para que o país alcance esse lugar e seja uma das maiores economias do mundo.

Quando a senhora pensou em ser presidenta? Quando essa idéia lhe ocorreu pela primeira vez?

A possibilidade de concorrer ao cargo de Presidente da República surgiu com o convite do presidente Lula. Esse convite tornou-se um compromisso político quando o PT confirmou meu nome como candidata pelo partido. Depois, consolidamos uma coligação forte, composta por vários partidos que apoiam a continuidade do projeto de mudança do Brasil, capitaneado, nos últimos oito anos, pelo presidente Lula. Fui a primeira ministra das Minas e Energia e a primeira ministra da Casa Civil, tendo coordenado todos os ministérios e programas do governo. A missão de agora é extraordinária e de grande responsabilidade: suceder o maior presidente da história do Brasil. Eu me sinto preparada para isso.

O que a sua experiência política - e particularmente a experiência durante esta campanha - lhe ensinou sobre o Brasil e os brasileiros?

A experiência do contato direto com o povo é única. É fantástica. Mas o Brasil eu já conhecia de ponta a ponta, percorrendo o país ao lado do presidente Lula, vendo a realidade de perto e trabalhando para mudá-la. Foram momentos de aprendizado constante. A principal lição é que os brasileiros têm uma enorme capacidade de superação dos inúmeros e graves problemas historicamente presentes no Brasil. A convivência entre deficiências profundas e uma enorme esperança de mudança sempre fez parte da vida dos brasileiros. O governo Lula representou um marco na história da transformação do Brasil. Nossos governantes anteriores, na maioria das vezes, viam o país sob a ótica exclusiva da eficiência econômica, os brasileiros apenas como números. Em maioria, não tinham a sensibilidade de perceber que, por trás dos números, das obras, das conquistas ou perdas econômicas, existem pessoas. O presidente Lula fez essa transformação. O Brasil não é mais o país do futuro, como diziam. É o país do presente, que pode chegar a ser uma das cinco maiores economias do mundo. Os brasileiros e o Brasil voltaram a acreditar em si mesmos, no potencial de cada um e no potencial da coletividade. Essa confiança no futuro não tem preço e nos levará a um patamar ainda maior, caso seja eleita e tenha a oportunidade de dar continuidade e aprofundar as mudanças iniciadas pelo governo Lula.

E o que a senhora diria que já aprendeu sobre si mesma a partir do momento em que seu nome ganhou notoriedade nacional?

Cada momento da vida nos traz aprendizados. Este será mais um.

Como alimentar a sanidade durante a campanha? Existe momento de lazer quando se quer ser presidenta do país?

Gosto muito de ler e tento fazê-lo todos os dias. Tenho o hábito de ler sempre antes de dormir. Mas é claro que estou demorando mais tempo para terminar a leitura de um livro. Outra coisa que me dá muito prazer é a caminhada diária que faço, pela manhã, olhando o céu de Brasília, que é inigualável.

Quais são os três livros que realmente a inspiraram ao longo de sua trajetória pessoal?

Certamente, todos os livros de Guimarães Rosa.

E quais foram as músicas e os artistas que mudaram a sua vida? Qual é a sua trilha Sonora pessoal durante esta campanha?

Ouço muito MPB e gosto também de ópera.

A classe artística parece distante destas eleições, artistas que historicamente sempre se posicionaram preferiram permanecer em silêncio neste pleito. Na sua opinião, por que isto acontece? Isto é, de alguma forma, prejudicial, do ponto de vista da participação política?

Participar mais ou menos de uma campanha política é um direito de qualquer brasileiro ou brasileira, seja artista, empresário, profissional liberal, dona de casa ou operário. No caso das pessoas públicas, claro, a expectative é maior em relação à sua participação. Mas me permita discordar dessa suposta distância da classe artística. A participação pode se dar de várias formas e a classe artística de uma maneira geral está se engajando. Eu mesma já me reuni mais de uma vez, no Rio e em São Paulo, com grupos de artistas. São encontros, a tos públicos, participação em atividades que se estendem pelo Brasil afora.

A senhora teve grande participação política quando jovem. Hoje, a classe política está desacreditada por grande parte da juventude. O que fazer para trazer a massa de jovens de volta para o interesse político? Existe esse desejo por parte da senhora ou é melhor por enquanto manter o jovem distante da política?

Não, não tenho qualquer interesse em que o jovem fique distante da política. Ao contrário. E acho até que ele tem participado bastante, como posso perceber em minha caminhada pelo país e também nas redes sociais da interne t. Mas acho que nós precisamos, sim, fazer com que todo o Brasil participe e se interesse pela política. O brasileiro está voltando a acreditar no futuro do país e dos brasileiros. É uma condição essencial para o aperfeiçoamento da nossa democracia. E é mais importante ainda trazer essa confiança para a juventude justamente porque dela dependerá o futuro do país. Será sempre melhor manter o jovem próximo da política - e política no sentido pleno, ou seja, no trabalho coletivo em nome de um bem comum. Isso se dá na escola, na universidade, nos grupos sociais a que pertencem até na escolha de seus representantes. Para trazer a massa de jovens de volta para o interesse público é preciso completar o que já começamos a fazer: resgatar a confiança no futuro, sublinhar a importância que faz ter um governo sério e sensível às grandes demandas da sociedade. Um passo igualmente fundamental está na educação. Jovens com educação de qualidade e mais preparados para a sociedade do conhecimento serão sempre mais antenados com a política, por que sabem que, por meio dela, é possível promovermos grandes transformações no país.

Os jovens reclamam que não têm emprego, reclamam da segurança nas ruas, da falta de cumincentivo social e cultural. O que mudará, efetivamente, para os jovens brasileiros em seu governo? Vale a pena contar com a participação da juventude no que diz respeito aos programas de governo?

O governo Lula mudou completamente a forma de pensar a política de juventude no Brasil. Acabamos com aquela ideia antiga de que os jovens têm de ser tutelados. Vemos os jovens como cidadãos que têm seus direitos, seus de veres, suas especificidades. Abrimo espaços para esse jovem se manifestar, ajudar a pensar as políticas que o afetam. Criamos o Conselho Nacional de Juventude e realizamos a I Conferência Nacional da Juventude, chamando os jovens par a pensar os rumos das políticas de juventude. Reforçamos as políticas específicas, criando a Secretaria Nacional de Juventude e o programa Projovem, que tem o objetivo de incentivar e garantir as condições para que aqueles das classes mais pobres consigam terminar os estudos e se profissionalizar. Além disso, os programas universais, como a geração de empregos, a distribuição de renda, o acesso à cultura, a melhoria da educação, as políticas de segurança pública como o Pronasci, todos eles, são ações que beneficiam especialmente os jovens. Meu governo, se eleita, v ai seguir essa linha, pois compreendemos o papel estratégico do jovem para o crescimento do país. Na educação, continuaremos a re forçar a expansão do ensino técnico, criando institutos federais em cidades com mais de 50 mil habitantes ou que são polos regionais. Também continuaremos a expansão da rede de ensino superior e reforçaremos o Prouni. Vamos triplicar o acesso à banda larga, tornando mais rápida e mai s barata essa forma de acesso à informação e ao conhecimento. Na segurança, levaremos para todo o Brasil a experiência bem-sucedida das UPPs do Rio de Janeiro e daremos a tenção especial ao combate crack. Tudo isso par a criar as oportunidades que o jovem precisa para se desenvolver plenamente.

Recentemente, a senhora passou a usar o Twitter como ferramenta de campanha. De que modo este "corpo a corpo virtual" colaboraria no aperfeiçoamento de suas ações como presidenta? Seus seguidores no Twitter reclamam que a senhora, diferentemente da grande maioria das pessoas públicas presentes naquela rede social, nunca lhes responde. Por quê?

Gosto muito de me comunicar pela interne t, sobretudo no Twitter. Mas tenho tido pouco tempo e tenho mais de 180 mil seguidores. Então, alguns ficam sem resposta. Considero todas as redes sociais da internet importantes meios de comunicação com a sociedade. São instrumentos da democracia e acho que devem ser cada vez mais usados.

É possível observar um tratamento diferenciado de certos veículos de comunicação em relação à sua candidatura. A senhora acredita em uma perseguição à sua candidatura por parte da grande mídia ou crê que há intenções de favorecer o seu maior adversário?

Faço parte de uma geração que tem profunda consciência da importância dos valores da democracia. Acredito no valor da liberdade de expressão e no valor da liberdade de informação. Um dos grandes méritos de uma democracia é ter uma imprensa livre. Eu já disse: prefiro mais do que mil vezes, um milhão de vezes, o som de vozes críticas, ainda que injustas, ao silêncio dos calabouços da ditadura.

A chapa governista apresenta alguns nomes relacionados a casos que envolvem corrupção, como Fernando Collor e José Sarney. É mesmo impossível garantir a governabilidade sem se sentar à mesa com Judas?

Nenhum governo é governo de um partido, sobre tudo numa grande democracia como o Brasil, um país complexo, marcado pela diversidade, pela multiplicidade de compreensões e de entendimentos. Democracia exige esforço, diálogo, negociação e uma base no Congresso capaz de dar sustentação aos grandes projetos de mudança. A melhor solução é sempre a construção de uma aliança em torno de projetos. Acho que esse foi o grande salto político dado no governo do presidente Lula. Construímos uma aliança baseada numa diretriz comum para o governo. Acredito muito nisso e vou lutar durante todo o meu governo para construir relações políticas transparentes e de alta qualidade. Todos os nomes e partidos com os quais estamos aliados apostam num projeto de continuidade da mudança iniciada nos últimos anos. Assim devem ser as alianças políticas.

Há alguma meta para o final de seu primeiro mandato que, caso a senhora não consiga cumincentivo prir, pode ser considerada um marco negativo para o seu governo?

O empresário Jorge Gerdau tem uma frase que considero excelente: meta que se cumpre é meta errada. Num país de carências históricas como o Brasil, qualquer me ta, pelo menos num prazo de quatro anos, pode ser insuficiente diante de um longo passado de descaso dos governos. Mas cada um dos objetivos estabelecidos no projeto de governo de minha coligação será perseguido com tenacidade e dedicação. V amos continuar mudando o Brasil na direção de um país mais justo e desenvolvido. Quando vejo o que fizemos nos últimos anos, sei que é possível mudar profundamente este país. Para melhor.

Qual é sua posição sobre a questão da maconha no Brasil? O que pensa sobre a legalização dessa e de outras drogas? Como encarar esse problema no país?

Sou contra a legalização das drogas. Acho que a sociedade não está preparada para uma mudança dessa natureza. Acho que o Estado tem um papel fundamental a exercer na luta contra o tráfico de drogas e na adoção de medidas sociais evitem o uso da droga pelo jovem, assim como na assistência a famílias e usuários. Temos de mobilizar o governo federal, os governos estaduais e municipais, a sociedade, as organizações sociais, as igrejas, os médicos, os psiquiatras, os professores, enfim, todos precisam se mobilizar par a uma luta sem trégua contra as drogas. Repito as três frentes fundamentais: apoio e prevenção; a tenção e tratamento para o dependente, inclusive atendimento psicológico; e repressão. Simultaneamente, continuaremos investindo em infraestrutura em áreas expostas à ação do crime, o que tem sido feito com o P AC em todo o Brasil e as UPP s no Rio de Janeiro, além de garantir educação de qualidade e acesso a práticas esportivas par a crianças e jovens. Droga se combate com inteligência, força e dando opções de trabalho e lazer aos jovens.

Qual o posicionamento de seu governo em relação à união civil entre pessoas do mesmo sexo?

Direitos civis básicos têm de ser reconhecidos de forma civil. Falo de direitos já existentes para heterossexuais, como direito à herança, benefícios previdenciários, seguro- saúde, declaração de imposto de renda e consideração da renda para aquisição de imóvel, por exemplo.

A senhora tem medo da morte?

Não, não tenho medo da morte. Não tive medo da morte nem mesmo quando os médicos descobriram que eu estava com um linfoma. Descobriram cedo, fiz tratamento, que foi chato e doloroso, mas estou curada. Naquele momento, aprendi a valorizar ainda mais o cotidiano da vida. Quando você se depara situação assim é que se dá conta da riqueza que é poder acordar todos os dias, poder escutar uma música ler um livro, compartilhar da convivência com sua família e seus amigos, poder trabalhar intensamente. Enfim, viver a vida em cada momento, do valor inestimável da contemplação, do lazer, do ócio criativo, ao trabalho em nome de uma causa pública. São essas as vantagens de se viver. Tenho essa consciência e, aproveitando a vida a cada instante, a gente aprende a não ter medo da morte.

Nenhum partido passa incólume quando o assunto é corrupção. Que tipo de compromisso a senhora assume para combater a estes crimes no Brasil? É possível erradicar a corrupção na política e na administração da máquina pública? Como?

Posso garantir que passei se te anos no governo e nunca sujei as mãos. Garanto que o presidente Lula vem governando de maneira extraordinária e nunca sujou as mãos. Do mesmo modo, a esmagadora maioria dos servidores públicos que trabalham no Estado brasileiro presta serviços sem sujar as mãos. Ou seja, é possível fazer política e passar incólume pelo assunto corrupção. É claro que, como em qualquer atividade de qualquer setor, desvios éticos podem ocorrer. Isso não quer dizer que vamos nivelar por baixo a política e o governo. Em matéria ética, o que todo país e todo governo devem fazer , e nisso o Brasil tem sido exemplar de 2003 para cá, é tornar transparentes os problemas de corrupção. É necessário ter uma imprensa livre, crítica e investigativa. É fundamental dispor de mecanismos de investigação, fiscalização e controle cada vez mais rigorosos no Brasil. O governo do presidente Lula é um governo que não empurra para baixo do tapete os problemas éticos que apareçam onde forem. Não era isso, infelizmente, que acontecia no governo anterior. Com exposição, transparência, investigação e punição, podemos reduzir drasticamente os níveis de corrupção existentes no Brasil.

Como a senhora se enxerga enquanto candidata? E como a senhora acredita que é vista pelo povo e pela mídia em geral?

Eu me vejo como a candidata que representa a continuidade de um projeto que está dando certo. Uma candidata com uma grande experiência como executiva de um dos melhores governos da história do Brasil. Alguém com a tributos par a ser a primeira mulher a ocupar o posto mais importante do país. Uma mulher que pode cuidar, zelar e incentivar o país, como só as mães sabem fazer pelos filhos. E acredito que tenho sido reconhecida pelo povo como a candidata que tem compromisso efetivo com essas mudanças porque participou delas, diariamente, do lado direito e esquerdo do presidente Lula.

A sua participação na luta armada durante a ditadura recebe bastante atenção da imprensa. A senhora orgulha-se desse passado ou prefere esquecê-lo?

Eu me orgulho muito de ter lutado contra a ditadura do primeiro ao último dia. Porque lutei pela democracia. A ditadura militar foi um momento sombrio da história do Brasil. Um momento de repressão, violência, falta de liberdades elementares. Lutei contra a ditadura em nome da liberdade e da democracia. Há um debate natural sobre aquele período e sobre minha participação, inclusive com uma abordagem fantasiosa. Pertencia a organizações políticas de combate à ditadura, mas jamais me envolvi em luta armada. Fui presa, torturada, condenada e cumpri pena. Muitas pessoas não sabem o que significou a ditadura. Jovens morreram ou desapareceram, políticos foram cassados, a imprensa era censurada, pessoas eram torturadas. Enfim, havia um fechamento total de todas as instituições. A juventude lutou contra tudo isso, numa defesa ardorosa da volta à democracia e liberdade. Hoje, nosso país é livre.

A senhora acredita na vitória no primeiro turno?

Só no dia 3 de outubro, com os votos dos eleitores e a contagem das urnas, saberemos isso. O que posso dizer, sinceramente, é que eu quero ser a primeira presidenta do Brasil. A pior coisa que pode acontecer numa campanha é salto alto. O salto alto é resultado de autossuficiência e soberba, dois grandes inimigos de qualquer ser humano, em qualquer atividade.

Individualmente, qual a grande diferença que a senhora apresenta em relação a o candidato José Serra?

Como candidatos, representamos projetos políticos distintos. Temos uma forma diferente de olhar o Estado e o país. Pertencemos a governos com visões e resultados muito distintos. Pertenço a um projeto que permitiu ao Brasil um desenvolvimento econômico com distribuição de renda e inclusão social. Ele pertence a um projeto que trouxe estagnação, desemprego e desigualdade. Acho que só se acredita em propostas para o futuro de quem cumpriu suas propostas no presente. A grande questão é esta: vamos continuar a tare fa iniciada pelo presidente Lula, mantendo o mesmo modelo que está dando certo ou vamos voltar àquele modelo que marcou os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, do qual Serra foi ministro?

Os oposicionistas criticam muito a sua " falta de bagagem política" e o fato d e " sua biografia nunca ter sido antes testada nas urnas". Dizem: "Todos os homens do presidente caíram de um jeito ou outro - Dirceu, Palocci, Jobim... Dilma é uma invenção de Lula, motivada pela falta de quadros dentro do próprio PT". Como a senhora responde a essas críticas?

Fazem uma confusão deliberada entre experiência eleitoral e experiência administrativa. Ninguém desconhece o fato de que eu tenho experiência no governo federal nos últimos se te anos e meio. Ninguém desconhece o fato de que eu coordenei todos os programas do governo do presidente Lula, que tem aprovação de quase 80% da população. Conheço o governo e conheço o Brasil, por que nós não gerimos só a partir de Brasília. Fomos a todos os estados, discutimos com cada governador, independentemente do partido político, dialogamos com os prefeitos, numa relação republicana com todas as esferas. P residi o Conselho de Administração da Petrobras. Conheço os problemas dos municípios porque fui secretária da Fazenda de Porto Alegre. Conheço os problemas dos estados por que fui duas vezes secretária de Estado, nas áreas de Energia e Comunicação. De fato não tenho experiência eleitoral, mas durante toda a minha vida fiz política, respirei política e aprendi a ter sensibilidade política. Sou o resultado da minha história e do que fiz no governo do presidente Lula e do P T. Uma trajetória da qual eu me orgulho, o presidente Lula se orgulha, o P T se orgulha e os par tidos que integram a nossa coligação se orgulham.

Critica-se ainda que a senhora não poderia "andar com as próprias pernas" sem Lula a s eu lado. Qual o papel que o então ex-presidente teria em um governo seu?

O presidente Lula é o meu grande aliado e meu grande apoiador. É um presidente que conhece como ninguém a realidade brasileira. É curioso quando me criticam por ter Lula a meu lado. N o fundo, ter Lula como aliado parece ser também o grande desejo do candidato da oposição, que tentou, em seu programa na TV, aproximar sua imagem à do presidente Lula. Mas esse tipo de atitude não cola. Em 2002, ele não conseguia dizer o nome do então presidente Fernando Henrique Cardoso. E não conseguia dizer o nome não é porque não gostava do presidente, mas porque a população rejeitava FHC. Vejam quanta diferença de lá para cá! Por que você acha que o mesmo candidato tenta hoje parecer um aliado do presidente Lula fez oposição durante os dois manda tos? Trabalhei diretamente com o presidente Lula nos últimos anos. Seu êxito é meu também. F ui seu braço direito e esquerdo. Sempre estarei aberta às suas propostas. Temos uma relação muito for te, que se manterá. Tenho certeza de que o presidente Lula participará do sucesso do meu governo porque ele construiu as bases para eu concorrer.

São a s eleições mais importantes do Brasil. A senhora, pessoalmente, votaria em um candidato à presidência d a República que nunca disputou uma eleição?

Claro que sim, caso contrário eu não seria uma candidata. Estou concorrendo ao cargo de principal executiva do país e posso dizer , sem falsa modéstia, que de execução, de comando e de gerência eu entendo, e entendo muito. Fui executiva e servidora a maior par te da minha vida. O que se pode dizer é que não sou uma política tradicional, mas será que isso é um de feito? Sou uma novidade nesta disputa, e tenho consciência de que uma boa novidade. Eu poderia dizer que, sendo mulher e não sendo uma política tradicional, represento o novo. U ma representante do novo que pode dizer que é a porta-voz da continuidade do melhor governo que este país já teve. As mulheres estão preparadas para governar o Brasil e, mais do que isso, o Brasil está preparado para ser governado por uma mulher . A s mulheres, eu digo sempre, são sensatas, práticas, sensíveis e não temem a dor . São qualidades importantes par a quem quer governar um país. Além disso, como já afirmei, experiência de ação executiva não me falta. Tive sorte de aprender muito do que sei com um líder chamado Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo notícia publicada no jornal O Globo, o governo atual deixará uma conta estimada em R$ 35,2 bilhões, referente a obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) contratadas entre 2007 e 2010 e que não serão executadas nem pagas na atual gestão. Por não conseguir cumprir prazos de execução, diz o diário, o governo a cumula uma conta bilionária que o sucessor de Lula terá de assumir. Qual a sua avaliação sobre os resultados do PAC e como reverter esta dívida, que ainda deve aumentar até o fim do mandato atual?

O PAC representou o retorno do investimento maciço em infraestrutura, em habitação, em saneamento, em logística, em transportes... No PAC1 e no P AC2, nós resgatamos o planejamento e introduzimos parcerias entre o setor público e o privado para realizar os novos investimentos estruturantes. Há muitos anos não se via isso no Brasil. Esse processo começou em 2007, fizemos uma seleção de projetos junto com prefeitos, governadores e empresas. O Brasil havia perdido a capacidade de investir porque não tinha sequer projeto pronto. Começamos as obras em 2008, aceleramos em 2009 e agora, em 20 10, elas estão cada vez mais em processo de maturação. São muitas obras, muitas delas bastante complexas. Não deixaremos uma conta bilionária par a o próximo governo, deixaremos, sim, uma nova cultura de investimento público e privado e uma série de projetos concebidos e em execução para garantir competitividade à economia brasileira, assegurar a geração de empregos, garantir moradias par a quem precisa, melhorar a infraestrutura das cidades e elevar a qualidade dos transportes e dos serviços. As ações do PAC estão avançando em ritmo firme. Já foram desembolsados 71% do total de R$ 656 bilhões planejados para investimento no período de 2007 - 2010. São obras concretas, as quais serão complementadas por mais investimentos previstos no P AC2, que será implementado no período de 20 11-2014. É disto que o Brasil precisa: continuidade de projetos, continuidade da cultura de investimentos.

Sabe-se que hoje não existe partido político que não esteja dividido internamente. Com qual grupo do PT a senhora pretende governar?

Primeiro, é preciso ressaltar que a existência de grupos distintos dentro de um mesmo par tido é algo natural. Nenhum par tido é uníssono. Os par tidos são formados por um sentido geral de pensamento, por uma visão de país, mas as divergências em alguns pontos são normais e bem-vindas. Em segundo lugar, ninguém governa com um só par tido, tampouco com um só grupo de um par tido. Governar exige diálogo, diversidade, respeito por quem pensa diferente. E uma aliança em torno de um projeto comum. Acho que temos esses atributos.

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