- ilustração: Felipe Gonzalez

Tim Maia

Redação Publicado em 05/01/2011, às 16h41 - Atualizado em 07/01/2011, às 10h28

Tim Maia

Tim Universal Maia

Universal Music

Box com oito CDs e um DVD compila o melhor do legado do inesquecível soulman brasileiro

Se estivesse vivo, Tim Maia teria 68 anos. Não sabemos se teria voz, se faria shows (ou se compareceria a eles), mas é certo que ele estaria satisfeito com a rotunda popularidade que ainda goza junto ao público brasileiro. Tim Maia é um fenômeno, em parte por sua história repleta de episódios bizarros (registrada pela pena ágil de Nelson Motta no livro Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia), mas principalmente por sua música. Pessoas de todos os tipos e idades continuam a dançar soltas ou agarradinhas ao som “sem desespero, sem tédio e sem fim” do melhor canário deste reino. Não que as gravadoras pelas quais Tim passou em vida tenham se esforçado para preservar e expandir essa popularidade: a despeito das inevitáveis coletâneas, os discos de carreira do autor de “Não Quero Dinheiro, Só Quero Amar” foram editados de forma relapsa na era do CD. Por isso, a iniciativa (tardia, é fato) da Universal de recolocar no mercado os oito álbuns que Tim lançou pela Philips e pela Polygram no período de 1970 a 1984 merece aplausos efusivos. Os fãs da fase Racional que me perdoem, mas é nos irreverentes e também melancólicos cinco primeiros CDs da caixa Tim Universal Maia que encontramos a melhor música que ele produziu. Esses discos são a obra-prima do soul brasileiro, a base sólida sobre a qual Tim Maia construiu sua carreira e a referência para grande parte dos artistas brasileiros que procuram o melhor exemplo de como fazer música pop genuinamente nacional. São álbuns antológicos, nos quais Tim criou sua irresistível fusão de soul music com MPB, sua identidade artística, pessoal e intransferível. O LP de estreia, de 1970, abre com uma canção que fala do poder da música, “Coroné Antônio Bento”, e inclui as lindas baladas românticas “Eu Amo Você”, “Azul da Cor do Mar” e “Primavera”. Os discos seguintes, de 1971, 1972 e 1973, mantêm o altíssimo padrão de qualidade com os hits “Você”, “Idade”, “Gostava Tanto de Você” e “Réu Confesso” e com joias incrustadas como o rascante blues “Sofre”, a pungente“Pelo Amor de Deus” e o balanço instrumental “Amores”. Depois de abandonar o platonismo biruta da Cultura Racional, Tim lançou em 1976 um álbum estupendo, no qual celebra a dança como manifestação vital (“Dance Enquanto É Tempo”), incita o povo negro à luta (“Rodésia”) e recobra a irreverência para criticar o caráter mistificador da religião (“Nobody Can Live Forever”, “Brother, Father, Sister and Mother”). Foi uma volta triunfal à forma. Completam a caixa os CDs Tim Maia (1980), ótima incursão do mestre pela sonoridade disco-funk da época, O Descobridor dos Sete Mares (1983), que traz o clássico da dor de corno “Me Dê Motivo”, e Sufocante (1984), o único disco fraco do pacote. A voz de baixo-barítono de Tim já demonstrava sinais de desgaste a essa altura, mas ainda era possante e bonita. As bandas que acompanham o cantor nessas gravações são incríveis. Tim sabia escolher e comandar grandes músicos. Se tivesse sido menos doidão e mais disciplinado, talvez existissem hoje alguns álbuns instrumentais da Banda Vitória Régia produzidos por ele, algo como os discos dos J.B.’s produzidos pelo James Brown. Os novos CDs reproduzem a arte dos LPs originais, têm letras e créditos nos encartes e, sobretudo, têm excelente som remasterizado. A caixa traz também um pequeno livro com textos sucintos e informativos e um DVD que registra um especial de TV feito para a Globo em 1989. Mais do que qualquer livro, é a caixa de CDs lançada agora que oferece um retrato preciso da mente e da alma de Sebastião Rodrigues Maia. Músico e homem sem igual no mundo, Tim Maia faz uma falta danada no cenário bundamole da música brasileira atual.

ZECA AZEVEDO

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