Silva -

Vista pro Mar

Silva

Pedro Antunes Publicado em 13/03/2014, às 08h22 - Atualizado em 20/03/2014, às 16h57

Músico capixaba ressurge mais seguro e pronto para assumir um papel de protagonista do pop nacional

Se o rock nacional foi combalido nos anos 2000, o que dizer do pop? Praticamente em estado de inanição por uma década, o gênero ressurge aos poucos, com novas caras bebendo de fontes eletrônicas e sintetizadores oitentistas. Expoente e grande responsável por esta renovação, Lucio Silva, o músico por trás do projeto SILVA, dá um passo firme e seguro em direção à consolidação do pop nacional com Vista pro Mar. Sujeito introspectivo, Lucio criou SILVA ao passar tardes solitárias no quarto de casa, em Vitória, Espírito Santo. Não por acaso, Claridão (2012), primeiro disco propriamente dito dele, trazia uma melancolia tímida, disfarçada entre arranjos surpreendentes e quilos de sintetizadores. Já o novo SILVA surge com um álbum orgânico e pulsante, principalmente com a bem-vinda presença de integrantes da banda Brasilidade Geral, que comparecem com o naipe de metais e dão vida ao trabalho. Aos fãs do primeiro disco, um aviso para não se desesperarem: as camadas de sintetizadores, efeitos e batidas lentas capazes de fazer o corpo dançar em ritmo lento continuam.

“Não há mais maré baixa em mim/ Eu sou de remar/ Sou de insistir, mesmo que sozinho”, canta ele na faixa que dá nome, abre o disco e funciona como ponte entre Vista pro Mar e Claridão. Nela, depois de dez segundos de sintetizadores e programações, surgem novidades: o baixo pulsante (tocado pelo próprio Silva) e o violão (executado por João Gil). E é só após o terceiro minuto que vem o saboroso êxtase com a entrada de trompete, trombone e saxofone. Há mais doçura na nova safra de canções de Silva e do irmão, Lucas, que assinam juntos dez delas (são 11 no total). A usual melancolia aqui dá lugar a declarações de amor, como em “Janeiro”, outra com a presença da Brasilidade Geral. “Faz tempo, eu quis dizer/ Mas é que prezo/ Amizade/ E o que fazer?”. Não é por acaso que a única participação do álbum é de Fernanda Takai, vocalista do Pato Fu, em “Okinawa”: foi a banda mineira que ajudou a fomentar o gênero que hoje Silva ressuscita. E, assim como eles, Silva não se deixa prender ao pop. Mais solto, experimenta devaneios reggaeiros em “Entardecer” e brinca com a música concreta em “Ainda”, na qual pássaros parecem cantar junto aos sussurros de voz e violão, e “É Preciso Dizer”, quando o som do próprio mar se intercala aos teclados e bateria. Silva aposta certeiro em refrãos de impacto – e poderia até ousar um pouco mais.

Vista pro Mar também explora os altos e baixos sonoros das canções, saindo de momentos minimalistas para chegar ao clímax, como em “Disco Novo”, cujo refrão gruda nos ouvidos como poucos. O mar é citado nominalmente em seis das canções e, nas outras, parece estar ali nas entrelinhas. Vista pro Mar suinga como se também refletisse as fases da lua, entre marés altas e baixas, em um vai-e-vem doce e singelo. O disco ainda reflete uma mudança maior: o Silva introspectivo e eletrônico deu espaço a um artista expansivo, consciente da força que tem a música tocada ao vivo e, principalmente, fora do silêncio (e segurança) do quarto de dormir. E isso é, sem dúvida, uma evolução.

Fonte: Slap / Som Livre

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