Otto fez grande show no Conexão Vivo Salvador - Tiago Lima/Divulgação

Conexão de boa música

Em Salvador, Conexão Vivo teve bons shows - todos gratuitos - de Otto, Nina Becker e Lucas Santtana, entre muitos outros

Por José Flávio Júnior Publicado em 10/06/2010, às 23h44

O que dizer de um festival que em sua edição de estreia atrai três mil pessoas na primeira noite, oito mil na segunda, 12 mil na terceira e 16 mil na quarta, sem apelar para atrações que dominam as paradas de sucesso? Que ele foi um sucesso, obviamente. Mas o Conexão Vivo Salvador (que tinha entrada franca, é bom frisar) não fez bonito apenas por movimentar quase 40 mil pessoas entre a última quarta, 3, e o sábado, 6, na Praça Wilson Lins, localizada no bairro da Pituba, região nobre da capital baiana. Grande parte dos 25 shows fez por merecer a plateia atenta e participativa que foi aumentando dia após dia.

Claro que o festival tinha suas estrelas. Otto foi a que mais brilhou. Escudado pela sua Jambro Band, o pernambucano chegou à Bahia cheio de moral, trazendo consigo o repertório exitoso de seu quarto disco de inéditas, Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos (2009). Abriu com "Filha" e "Janaína" e já no meio da apresentação começou a ouvir os primeiros pedidos por "6 Minutos", a mais elogiada do álbum. Guardou a faixa para o encerramento do show, quando rolou um improvável dueto com BNegão (que integrava a banda de Otto em sua primeira aparição, no festival Abril Pro Rock de 1997). Aproveitando o clima soul brega, voltou para o bis com "Pra Ser Só Minha Mulher", do cantor que mais o tem influenciado nos últimos tempos: Ronnie Von. Quem não se divertiu com as músicas, certamente deu boas risadas com as reboladas andróginas, as dezenas de cofrinhos pagos e os discursos sem pé nem cabeça do ex-Mundo Livre S/A. Em momento Maguila, chegou a agradecer uma tia do baterista Pupillo - de quem sequer lembrava o nome - e a babá que estava no backstage cuidando de sua filha durante o show.

Outro que se saiu muito bem no festival foi Lucas Santtana, ajudado pela sua Seleção Natural. O baiano imprimiu um andamento mais ligeiro às músicas de Sem Nostalgia (2009), seu quarto CD, e tocou várias do ótimo 3 Sessions in a Greenhouse (2006), o antecessor. Com a guitarra de Gustavo Benjão e o baixo de Ricardo Dias Gomes ditando o ritmo da banda, pintaram ótimas versões para "Lycra-Limão", "Ogodô Ano 2000" (de Tom Zé, tio de Lucas) e "Tijolo a Tijolo, Dinheiro a Dinheiro". Lucas ainda mostrou uma inédita, a agitada "O Paladino e Seu Cavalo Altar", cotada para entrar em seu próximo álbum.

Benjão e Dias Gomes voltaram a dar expediente com Nina Becker, que abriu os trabalhos no último dia de festival. Prestes a lançar seus dois discos de estreia (sim, ela estreará como artista-solo com dois CDs), a cantora da Orquestra Imperial fez um show calminho, mas com jogadas arriscadas. Logo na segunda canção do espetáculo, apanhou o clássico "Estrada do Sol" (Dolores Duran) e o transformou em indie rock. Depois pegou o indie rock "Toc Toc", do parceiro de Orquestra Imperial Rubinho Jacobina (que acaba de concluir a gravação de seu segundo álbum) e deu tratamento de bossa nova. Mas o grande momento veio com "Olha Eu Aqui Oh! Oh! Oh!", pérola perdida de Evinha lançada nos idos de 1970, que foi a escolhida para fechar o show. Pena que essa não entrou em nenhum dos vindouros discos de Nina.

Pensa que Benjão e Dias Gomes voltaram para o Rio de Janeiro? Não, porque ainda havia um show do Do Amor no Conexão Vivo. A banda que eles dividem com o guitarrista Gabriel Bubu e o baterista Marcelo Callado fez o show competente e animado de costume, misturando temas de seu primeiro álbum (já gravado e com lançamento previsto para o segundo semestre), como "Pepeu Baixou em Mim", "Vem Me Dar" e "Homem Bicho", com músicas que infelizmente não estarão no CD, casos do axé "Cachoeira" e da talkingheadiana "Mindingo". No final da apresentação, Benjão puxou um hit oitentista do bloco afrobaiano Muzenza, para delírio dos presentes com mais carnavais nas costas.

Ídolos locais como Jau, Diamba e Mariene de Castro foram os que, sem dúvida, tiveram melhor resposta da plateia. Mas coube ao cantor Mateus Aleluia, um remanescente do lendário grupo vocal Os Tincoãs, fazer a apresentação mais arrebatadora. Com sua voz gravíssima, ele resgatou composições como "Cordeiro de Nanã" (que ganhou rendição digna de Thalma de Freitas num EP de 2004) e "Deixa a Gira Girá" (já gravada por Margareth Menezes, entre outros). O show também serviu para revelar a voz cristalina de Fabiana Aleluia, filha de Mateus, que teve alguns números-solo.

Num terreno mais experimental, vale destacar o percussionista Babilak Bah, paraibano radicado em Belo Horizonte, que dividiu o palco com o também paraibano Chico Corrêa num show hipnótico, e os saxofonistas do mineiro Monte Pascoal, capazes de construir uma ponte entre os universos erudito e popular por meio de standards de Chico Buarque e do Clube da Esquina, e ainda recebendo o maestro Wagner Tiso para uma canja.

Na próxima sexta-feira, 11, o Conexão Vivo muda seu palco para Belém (PA), com atrações que passaram por Salvador (caso de Nina Becker) e outras que não (a Beyoncé local Gabi Amarantos e o trio instrumental acriano Caldo de Piaba entre elas). Ao todo, o Conexão Vivo acontece em 11 cidades brasileiras, sempre com a mesma proposta de levar ao público, de forma gratuita, diálogos musicais interessantes. Massa, como dizem os baianos.

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