Volver - Divulgação/Pita Uchôa

"Em nenhum momento falamos que somos contra o mangue beat", diz vocalista da banda pernambucana Volver

Em entrevista, Bruno Souto comenta a polêmica em torno da música "Mangue Beatle" e o terceiro disco do grupo, repleto de mulheres e desabafos

Stella Rodrigues Publicado em 03/06/2012, às 13h09

Fosse uma revista voltada para o público masculino, o disco novo do Volver seria um sucesso absoluto de vendas – Próxima Estação é recheado de musas e polêmicas. Ter nomes de mulheres intitulando as canções não é algo novo na obra do grupo de Recife. Mas, desta vez, o número de homenageadas triplicou. São elas uma mulher de verdade, uma outra absolutamente fictícia e a terceira... bem, há controvérsias.

A faixa que abre o trabalho se chama “Marizabel”, “homenageia minha esposa”, conta à Rolling Stone Brasil o vocalista Bruno Souto. Já “Ana” surgiu de forma curiosa: “É a personagem do conto Amor, da Clarice Lispector. Por causa da música ‘Clarice’, que lançamos antes, me pediram uma composição para um longa sobre a escritora. O filme ainda não saiu, está empacado, mas pelo menos gravamos a música.”

Agora, a canção que mais chamou a atenção é uma batizada de “Mallu”, garota que “quer ser mulher e não está para brincadeira”. Mais ainda, ela “deseja um dia se casar ouvindo Bob Dylan no altar”. Soa familiar, certo? Mas Bruno diz que a letra não fala exatamente da Mallu autora de “Velha e Louca”, conforme todos imaginam. “A personagem da música é mais narrativa. É uma coisa para brincar, deixa uma pista aqui, outra ali. Mas também é para meninas-mulheres em geral, é sobre todo esse processo de querer ser mulher, uma homenagem em geral”, garante.

O que será que Mallu achou de todas as coincidências entre a letra e sua personalidade? “Não sei se é verdade, mas conheci um produtor que trabalhava com ela e pedi para que ele mandasse a música para Mallu. Segundo ele, ela ouviu e não gostou muito. Mas parece o Marcelo Camelo [namorado da cantora] gostou e a convenceu a gostar mais da música.”

“O universo feminino é muito encantador e vivo. Isso de termos vários nomes de mulher é uma coisa natural, não tem nada de forçar a barra”, explica. “Nada melhor do que uma mulher para inspirar, né? Adoro essa ideia de musa.”

Mas a questão de Mallu, potencialmente, não ter gostado da música que leva o nome dela não foi a polêmica que fez o disco ser comentando amplamente, há algumas semanas. O lançamento do clipe de “Mangue Beatle” fez explodir a ira de uma parcela dos conterrâneos de Bruno. A faixa, segundo ele, é uma crítica ao fanatismo que encontrava em Pernambuco com a música regional, algo que faz bandas locais que não seguem essa linha, como o Volver, serem mal vistas.

Segue um trecho da letra: “Eu não sou um caranguejo/ Pra você sou percevejo, então

Teu gosto é bem melhor/ Eu não sou salvação/ Sou playboy tipo burguês/ Fui pra Londres canto em inglês então/ Teu desprezo é maior/ E eu vou na contramão/ Lembra o mague é todo teu/ Eu só quero incomodar/ Mais do que você pensa eu sou/ Eu não quero mais viver/ Eu não consigo viver/Nessa lama com vocês”.

“Essa música já existia há certo tempo, fazia parte de um projeto paralelo meu e estava no MySpace, algumas pessoas já tinham escutado. Decidimos colocar no disco porque tem a ver com a proposta do trabalho, em que falamos de mudança, saudade”, explica. “Muita gente não entendeu, outros acharam que foi direto demais. A grande maioria que não gostou é porque não entendeu, acha que estamos sendo contra o mangue beat. Em nenhum momento a gente fala isso. A gente só diz que não é caranguejo.”

Bruno refuta as acusações de que fez apenas uma crítica gratuita à música conterrânea. Ao contrário, afirma que fala “desse tipo de patrulhamento, essa pressão de ser regional” com a propriedade de quem passou por isso. “Muita gente veio elogiar a nossa coragem porque sente isso, mas nunca falou nada. Fomos meio que porta-vozes dessa geração de artistas que não faz nada regional. Aliás, o mangue beat serviu de representação, mas [a letra] é sobre manifestação regional como um todo. A ideia era ser muito bem humorado, uma piada de pernambucano para pernambucano.”

No mais, Bruno define o disco como “mais confessional”. “Dei mais minha cara a tapa, me expus”, conta ele sobre a importância do trabalho na carreira do Volver. “Mas isso é uma impressão minha, na verdade. De repente você pode pegar o disco anterior e achar que me expus mais lá. Acho que é um disco [que mostra mais] segurança”, pondera.

Volver a Recife

Falando em cara a tapa, o show de lançamento de Próxima Estação acontece em Recife, no próximo dia 16. Mas não, a forte reação a “Mangue Beatle” em nada atrapalhou a grande expectativa do grupo de tocar novamente em sua terra natal depois de mais de um ano. “Estamos é ansiosos para matar a saudade!” E também não há exatamente uma grande preocupação em serem recebidos com menos carinho do que o esperado – ou até mesmo com vaias, ou algo do gênero. “É um evento fechado. Acho difícil alguém pagar para ir lá xingar. Se fosse em algum lugar público, tinha grandes chances. Mas a gente nem está pensando nisso. É de boa.”

volver mallu bruno souto mangue beat proxima estacao

Leia também

Kevin Spacey fala sobre novas acusações de agressão sexual: ‘Fui promíscuo, sedutor… definitivamente persistente’


Neve Campbell diz que estúdio aumentou o salário dela após atriz falar sobre disparidade


Madonna será anfitriã de festa no Copacabana Palace após show no Rio


Por que Ryan Gosling recusa papéis 'sombrios' em Hollywood?


Dua Lipa desabafa sobre meme que ela não dançava bem: 'Humilhante'


Bebê Rena: Episódios são 'como facadas curtas e afiadas', diz Stephen King