Emicida no festival Rider #DáPraFazer - Bárbara Lopes

Festival Rider #DáPraFazer 2018: indie, rap, funk e eletrônico foram a trilha da celebração da cultura urbana independente

Emicida, Teto Preto, Terno Rei, Raça, Yas Werneck, Dory de Oliveira, Áurea Semiséria movimentaram mais de 4 mil pessoas no evento

Igor Brunaldi, do Rio de Janeiro Publicado em 19/03/2018, às 14h09 - Atualizado às 18h21

Aconteceu no último sábado, 17, o festival #DáPraFazer, organizado pela Rider e cocriado pelo coletivo feminino Noix. Realizado no Largo Alexandre Herculano, no centro do Rio de Janeiro, o evento pode ser melhor descrito como uma ode à produção cultural urbana. A arte se mostrava presente em todos os cantos do ambiente: containers posicionados lado a lado formavam o street market, área onde mais de 40 marcas independentes nacionais de roupa exibiam e vendiam suas peças; ao mesmo tempo, era possível ouvir a música que vinha do palco R1, e ainda assistir pessoalmente ao artista norte-americano Ahol, convidado do evento, grafitando um muro.

Veja a nossa cobertura do festival Rider #DáPraFazer 2017

Seja na parede, no street market ou nos looks de quem foi curtir o evento gratuito, a moda e a criatividade inundavam o local e pulsavam acompanhando os diversos ritmos que vinham dos amplificadores. Músicos de várias regiões do país se juntaram para fazer a trilha sonora eclética das quase 12 horas de festival. O selo Balaclava enviou as bandas paulistanas Raça e Terno Rei, que agitaram o público com riffs, solos de guitarra e sintetizadores extraídos de um sonho ou delírio quase febril (o calor carioca fez jus à fama que tem). Representando o rap, Emicida subiu ao palco com mais três MCs convidadas por ele mesmo: a carioca Yas Werneck (que além de rapper também é professora de matemática), a paulista Dory de Oliveira e a soteropolitana Áurea Semiséria. Segundo Emicida, ''são nomes que fazem justiça às regiões de onde vêm’’. O coletivo carioca Heavy Baile levou os baianos do ATTØØXXÁ, apresentando uma mistura sonora atípica e difícil de classificar, mas que poderia ser chamada de axé-funk-psicodélico. O techno foi o gênero escolhido para encerrar o festival, e contou com a apresentação frenética e catártica (do grupo Teto Preto, além de live-sets da chilena Valesuchi e do selo carioca Domina.

A atmosfera, ao mesmo tempo descontraída e cheia de vida, carregava um certo peso de luto, resultado da execução da vereadora Marielle Franco, três dias antes do evento. Como sempre foi característico aos artistas, o ocorrido não passou despercebido. O entretenimento pode, no geral, ser abordado por duas vertentes: de um lado, pode servir como válvula de escape, proporcionando momentos de desligamento de um caos instaurado na sociedade. Por outro lado, pode servir como alto-falante e ferramenta para a luta, e foi nesse lado que os artistas do rap se posicionaram na apresentação. Emicida, que cantou com a foto da vereadora sendo exibida no telão, disse, em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil, que ''o rap sempre se posicionou a favor da preservação da vida de quem nasce nas favelas, a favor dos direitos humanos, e é necessário e importante politizar a morte de um ícone como ela, como uma forma de não permitir que a bandeira dela morra também". Com uma clara tristeza na voz, ele concluiu afirmando que ''é impossível não dizer que a cor da pele e a criação dela foram motivos para que isso fosse feito. A gente precisa cuidar de nós. A gente precisa ficar junto. As evidências provam: 2018 vai ser um ano de guerra. Guerra de informação. Guerra ideológica. Discussões intermináveis. E agora tivemos uma comprovação empírica de que vai ser uma guerra sangrenta'.'

As três MCs que se apresentaram com o rapper, todas elas militantes do rap feminino, propagaram suas vozes para os mais de 4 mil espectadores que compareceram durante o dia. Letras fortes, impactantes, que formam uma colagem de esperança, determinação e indignação eram lançadas ao público. Com vozes firmes, Yas Werneck, Dory de Oliveira e Áurea Semiséria conversaram com a Rolling Stone sobre machismo e a força das mulheres no hip-hop. ''Tenho 15 anos de rap nacional e ainda não alcancei o lugar onde eu queria estar. O que precisa para a gente se tornar uma Emicida, uma MV Bill, uma Mano Brown? São poucas as minas que têm essa visibilidade, e tem muita mina no rap, mas ainda falta muita oportunidade, faltam as minas independentes aparecerem mais nesses festivais grandiosos. São sempre as mesmas figurinhas carimbadas'', defende Dory. Yas acrescenta: 'O nosso diferencial é que a gente é independente. Não temos uma gravadora por trás, não temos apoio que não seja de nós mesmas, do nosso pulso, dos nossos amigos, de gente que acredita no nosso trabalho''. Áurea, a mais nova das três, aproveita um instante de silêncio entre uma resposta e outra para adicionar: ''Nós, mulheres no hip-hop, somos bastante independentes. Alguns homens dizem que apoiam, mas é só da boca pra fora, na hora da ação não fazem nada, é só pra ter visibilidade em cima da gente. A nossa luta é foda, eu digo isso todos os dias, mas eu não paro." Quando mencionado o caso de Marielle, Yas não demora para se posicionar, contando que ''eu fico pensando quando vai ser o momento que eu vou cutucar o vespeiro e vai sobrar para mim. Ela foi silenciada. Quem incomoda demais é silenciada''. Logo em seguida, a voz de Dory aparece para dizer que sentiu a morte da vereadora e sente a morte de todas as mulheres negras, declarando que ''tudo que eu escrevo tem a ver com isso. A gente vive na luta, no luto e na corda bamba''. Após alguns segundos, foi novamente a vez de Áurea responder, sem pressa de elaborar o impacto que é transmitido através das palavras. ''Já tomei murro e chute de macho na rua por estar lutando pelos nossos direitos. A partir do momento que você se move, causa incômodo e aí muita gente vem de encontro. Nossa luta vai continuar, e pra eles vai piorar muito. A gente não está de brincadeira".

O festival lotou, respirou e transpirou estilo, diversidade e, o mais importante, liberdade de expressão. Isso por meio de várias formas de arte, mostrando que o cenário cultural independente vive e ferve.

música moda emicida terno rei raça teto preto rider

Leia também

Lucas Silveira, da Fresno, anuncia live beneficente para vítimas de enchentes no Rio Grande do Sul


Kevin Spacey fala sobre novas acusações de agressão sexual: ‘Fui promíscuo, sedutor… definitivamente persistente’


Neve Campbell diz que estúdio aumentou o salário dela após atriz falar sobre disparidade


Madonna será anfitriã de festa no Copacabana Palace após show no Rio


Por que Ryan Gosling recusa papéis 'sombrios' em Hollywood?


Dua Lipa desabafa sobre meme que ela não dançava bem: 'Humilhante'