<i>Polícia Federal: A Lei É para Todos</i> - Divulgação

Filme sobre a Operação Lava-Jato funciona para leigos

Polícia Federal: A Lei é para Todos não é grande experiência cinematográfica, mas vale pelo didatismo e pelo bom elenco

Paulo Cavalcanti Publicado em 30/08/2017, às 19h10 - Atualizado em 03/09/2017, às 11h03

Muito esperado, tanto pelos apoiadores quanto pelos críticos da Operação Lava-Jato, Polícia Federal: A Lei é para Todos não pode ser considerado um grande feito cinematográfico. Com estreia marcada para 7 de setembro, o filme dirigido por Marcelo Antunez e baseado no livro homônimo de Ana Maria Santos e Carlos Graieb, ex-redator-chefe da revista Veja, não traz nenhuma inovação narrativa. Nem pode ser considerado um thriller – está mais para docudrama, com os atores se atendo a um roteiro esquemático. E o diálogo também não é dos melhores. Mas o filme tem o objetivo de ser didático. Pelo menos neste aspecto, é bem-sucedido: todo mundo conhece o juiz federal Sergio Moro, mas é difícil estar a par dos detalhes intrincados que regem a operação. Por isso, é interessante ver na tela os bastidores das ações da Polícia Federal, que hoje despertam a atenção de milhões de brasileiros.

Polícia Federal: A Lei é para Todos começa quando agentes federais apreendem um caminhão de palmitos transportando uma carga de cocaína. Devido a uma série de conexões, eles chegam a Alberto Youssef, um doleiro que já havia sido ligado a outros crimes. Por meio de Youssef, as autoridades tomam conhecimento de um esquema de corrupção dentro da Petrobras; mais tarde, descobre-se o envolvimento da empreiteira Odebrecht. Fica evidente que, nestas operações bilionárias de propina, suborno, tráfico de influências e lavagem de dinheiro, muitos políticos de alto escalão estão envolvidos e fazendo disso um estilo de vida.

Entrevista: Sergio Moro fala

O diretor, Marcelo Antunez, concentra os holofotes na força tarefa da Lava-Jato de Curitiba, com um grupo de personagens fictícios reunindo as características de várias pessoas envolvidas na operação. Como Ivan, Antonio Calloni é o líder da equipe, sempre focado e diligente. Flávia Alessandra é Bia, um combo de todas as mulheres envolvidas na operação (especialmente a delegada Érika Marena). Não são pintados como super-heróis, mas como profissionais dedicados. Marcelo Serrado interpreta um Sergio Moro sóbrio, executando seus deveres legais com base nas provas fornecidas pela Polícia Federal, sem se importar com o poder dos acusados.

O filme segue morno até o momento da prisão do empresário Marcelo Odebrecht. De forma sutil, Antunez mostra o lado prepotente da elite empresarial brasileira, formada por homens que se viam como semideuses e mantiveram um governo paralelo por décadas a fio. Quando o filme adentra na seara política, se torna mais incômodo e controvertido. Não alivia para o governo petista, já que os fatos narrados ocorreram durante os mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff. Os procuradores mostram que houve crimes e que estas ações trouxeram grandes perdas para o erário, prejudicando a estrutura econômica do país. Se os fatos decorreram de motivos político-partidários, para sustentar uma ideologia ou então um projeto de poder, isso não vem ao caso na narrativa – nesse aspecto, não há julgamento moral.

O retrato do ex-presidente Lula vai despertar enorme polêmica. Quando foi anunciado que Ary Fontoura seria escalado para vivê-lo, muitos pensaram que seria uma escolha desastrosa. Afinal, o que o veterano ator teria a ver com o migrante nordestino que se transformou em um líder sindical messiânico adorado pelas massas? Não é este o Lula que Fontoura interpreta. Lula aqui é um político viciado no jogo do poder, que, ao imaginar estar fazendo a coisa certa, despreza os oponentes, não importa quem forem. Não é um retrato simpático.

A história da Lava-Jato ainda está em curso, e muitos fatos novos irão surgir. Nem mesmo o destino de Lula nesse processo todo está definido. Os produtores deixaram um final em aberto, tirando um pouco do peso da culpa dos ombros do ex-presidente e deixando a mensagem de que a corrupção e a crise ética no Brasil são generalizadas e precisam ser investigadas, independente das cores partidárias. Também procuram afirmar que isso não é apenas domínio ou herança do Partido dos Trabalhadores e que qualquer um na vida pública pode ter as mãos sujas. Quem ficar até depois dos créditos de Polícia Federal: A Lei é para Todos irá presenciar uma cena sugerindo o que a sequência – planeja-se uma trilogia – poderá trazer. E garanto: não tem nada a ver com o PT.

cinema polícia federal lava-jato sério moro a lei é para todos

Leia também

Bíblia é 'um dos piores livros de todos os tempos', diz Brian Cox


Diddy quer que alegação de 'pornografia de vingança' seja rejeitada em processo


Madonna recebe Salma Hayek vestida de Frida Kahlo em show no México


Rihanna quer se divertir fazendo música e fala sobre R9: 'Será incrível'


Madonna no Brasil: cantora chegou ao Rio de Janeiro nesta segunda, 29


Gérard Depardieu é preso em Paris após denúncias de agressões sexuais