Sua majestade Elvis - Divulgação

O rock é o mais novo sessentão

Após décadas gloriosas de criatividade e revolução, o gênero mais emblemático da música está em paz

Lucas Brêda Publicado em 13/07/2015, às 08h40 - Atualizado às 13h29

Nasceu em 13 de julho de 1955. Desde pequeno, sofreu com os excessos do pai, caipira do Alabama, sempre usando um chapéu bege, com uma fita como adereço. A mãe, negra de atitude e sensualidade indiscutíveis, tinha um humor irreverente, mas nunca se deixou esquecer de todas as dificuldades pelas quais passou.

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Quando criança, gostava de dançar. Rebolava enquanto o fôlego deixasse, sem nunca perder o ritmo. Aos 3 anos de idade, mudou-se com a família para o Reino Unido. Lá, mostrou o gingado e o topete aos amigos, que se encantaram de maneira definitiva com o esse jovem que vinha do outro lado do oceano, misturando as culturas caipira e negra.

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No aniversário de 9 anos, já apresentava um corte de cabelo engraçado. Usava terninhos muito bem cortados e engomados, mantendo o carisma e os amigos, mas já crescia intelectualmente – e não rebolava tanto quanto antes. Na mesma época, fez uma visita de volta ao país de origem. Querido por todos, fazia amigos facilmente, contagiando todos à sua volta com histórias e sorrisos genuínos.

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Conforme foi crescendo, já demonstrava mais agressividade. Metia-se em brigas para defender seus direitos, e chocou os pais, tios e avós quando parou de cortar o cabelo. A pré-adolescência foi cheia de inquietação: gritava como estava insatisfeito com tudo no mundo, batia o pé às imposições da sociedade e ironizava a maneira como as pessoas viviam suas vidas mundanas.

Um pouco mais velho, ficou intimamente envolvido com drogas, uma maneira de fugir da realidade sangrenta das guerras e expandir os limites da percepção. A esta altura, já possuía os cabelos compridos, celebrava todo tipo de amor e passou por uma fase de encantamento com as particularidades da Índia.

Aos 16 anos, começou a mergulhar no universo dos livros e narrativas. Divagava sobre os regimes de doutrinação, criticava o autoritarismo. Em certa altura, já falava do espaço e do avanço da tecnologia. Enxergava na lua o lado escuro que ela fazia questão de ocultar aos outros terrestres.

Começou também a questionar os gêneros. Os mais velhos não sabiam dizer se era homem ou mulher. Não importava, com a confiança e atitude que possuía, poderia vestir o que quisesse, comportar-se como quisesse. Ao mesmo tempo em que a intensidade da vida aumentava – valia tudo em busca do prazer –, a curiosidade também, ampliando, assim, o gosto artístico já refinado.

Começou a namorar um amigo nova-iorquino e mudou de hábitos. Rasgou as calças e voltou a ter como preferência a jaqueta de couro. Parou de tomar banho e acreditava piamente na individualidade e no anarquismo. Cansou-se dos livros e das teorias sempre relativas e impositivas – acreditava na simplicidade das coisas. Sua postura por si só era um questionamento, dos mais contundentes.

Quando já se aproximava dos 30, acalmou-se. Mas não deixou de lado as constantes metamorfoses: encantado com as televisões coloridas, tornou a se interessar pelo cinema e pelo audiovisual. Voltou, inclusive, a dançar, mas desta vez um rebolado diferente, mais coordenado e técnico, um pouco mais coreografado.

Seu mais novo amigo vinha da Califórnia. Com postura tão agressiva quanto à que tinha, ele agia sempre de maneira incisiva: era impossível passar por perto sem notar as atitudes e discursos dele, que não trocava o preto por nada, e atraía por ser exatamente o oposto: sem cor, sem drama, sem brilho.

Aos 36 anos, passou pela última grande mudança. Voltou a rebelar-se contra tudo e todos, lembrando-se dos problemas que teve na infância. Cultivou uma personalidade ainda agressiva, mas menos aguda. Vivia sozinho, não levava nada a sério e passava por uma tristeza constante – como a insatisfação crônica da pré-adolescência, mas agora com uma personalidade mais introspectiva e autodestrutiva.

Dez anos depois, voltou a chamar atenção. Em viagem novamente a Nova York, consolidou de vez o comportamento desleixado, mas sem a melancolia de tempos atrás. Voltou a se divertir com os amigos, sempre com uma cerveja por perto. Com a chegada de idade, parecia inevitável olhar para o passado, lembrando-se das aventuras e ideias de toda uma vida. Tudo sem nostalgia: era olhar para trás para e saber como seguir em frente.

Desde então, ficou mais "low profile". O mais novo sessentão sente-se contente em lembrar-se da vida que teve, das décadas gloriosas. Dos grandes amigos, dos grandes namorados, das grandes viagens, as grandes festas. A cada aniversário, todos cobram dele uma nova revolução. Afinal, será que chegou o momento de descansar e tirar de si os holofotes definitivamente?

Em conversas informais, ele comenta que está tranquilo, em paz, e pouco – ou quase nada – o perturba. Todos à sua volta, entretanto, ainda não aceitam todo o comodismo do mais novo sessentão. Afinal, para onde foi o instinto de revolta? Esta resposta ele nunca dá, mas costuma ostentar um sorriso de canto de boca, como se ressaltasse que nunca fez nada de maneira forçada. Não é preciso mais que isso para lembrar: é quando menos se espera que ele volta a dar as caras.

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