"Meu marido sempre diz que se a música começa ruim, ele acaba nem olhando pra roupa e já acha que está tudo péssimo", disse a top Michelle Alves, esposa de Guy Oseary, empresário de Madonna - Rodrigo Bueno

O som da moda

Com criatividade nas escolhas, músicos e estilistas fazem das trilhas sonoras parte indispensável dos desfiles

Por Patrícia Colombo Publicado em 18/01/2011, às 12h26

O fator principal de um desfile são as roupas, claro. Mas aquele show todo que se vê nas grandes semanas de moda ao redor do globo se vale de outros aparatos para a criação de uma atmosfera capaz de inserir o público na visão, na criação e no mundo do estilista. Iluminação, cabelo, maquiagem, decoração na passarela e, como não poderia faltar, a música - aquela que, quando bem escolhida, faz a plateia bater discretamente os pés no chão e balançar o corpo de acordo com sua cadência. Ela pode não ser o grande destaque, mas atua como coadjuvante essencial durante os desfiles de moda. "É a cereja do bolo", como define a consultora de moda e autoridade no meio fashion Costanza Pascolato, em entrevista à Rolling Stone Brasil.

Em um desfile, você pode encontrar de "Asa Branca", clássico de Luiz Gonzaga, em gaita de fole (nas passarelas de Ronaldo Fraga) a "Immigrant Song", do Led Zeppelin, em versão instrumental (como encontrado na apresentação da nova coleção de Reinaldo Lourenço). Entre esses extremos, figura também a opção pelos mais variados tipos de música eletrônica ou pela apresentação ao vivo de um cantor(a)/banda.

Assim como na própria criação das peças pela equipe das grifes, o DJ, quando responsável pela trilha de um desfile, tem espaço para inovar. Mas com cautela: uma trilha mal pensada pode prejudicar - e muito. "Meu marido, por exemplo, sempre diz que se a música começa ruim, ele acaba nem olhando pra roupa e já acha que está tudo péssimo", disse, aos risos, a top Michelle Alves, esposa do israelense Guy Oseary, empresário de Madonna. Costanza Pascolato ainda acrescenta que é fundamental fugir do clichê. "A trilha deve ter a ver com a coleção e com a imagem, mas sem ser redundante."

Palavra de modelo

Talvez sejam elas as mais afetadas pelo que sai das caixas de som durante os eventos de moda. Considerando a variedade de estilos musicais (muitas vezes até dentro de um único desfile, que pode iniciar com uma faixa de MPB e finalizar em um drum 'n' bass), antes de chegar às passarelas, as modelos recebem a orientação dos produtores com relação à maneira como devem andar - no caso, acompanhando a música ou não. Izabel Goulart garante que uma melodia mais lenta não confunde seus passos durante o desfile. "Acho que a modelo tem que estudar e aprender que o passo dela não é necessariamente ligado ao passo da música", conta. Michelle Alves, por outro lado, não nega que às vezes uma sonoridade diferenciada acaba atrapalhando um pouco. "Sim, mas aí você apaga a trilha e faz uma na sua cabeça", orienta.

Independente da identificação ou não com o que toca nas passarelas, é consenso entre as modelos o peso da música durante o desfile. "Se não tiver uma trilha bacana, não funciona porque o clima não rende", acredita Caroline Ribeiro. Para Michelle, "quando a trilha é pra cima, sua energia transparece".

Max Blum

Na 29ª edição da São Paulo Fashion Week, o músico Max Blum, figurinha carimbada no mundo da moda, ficou encarregado das faixas que embalaram o desfile da Triton, que trazia a temática de uma festa, com a socialite norte-americana Paris Hilton encabeçando o time de modelos. Fugindo do clichê, citado acima por Pascolato, Blum optou por abrir o desfile com "Go Do", faixa de Jonsi, o frontman do Sigur Rós, que lançou trabalho solo recentemente. "Se fizéssemos uma trilha de festa, talvez ficasse exagerado", conta. "Para deixar de um jeito diferente, busquei algumas referências mais rock, com o BPM (batidas por minuto) bem acelerado pra manter a animação, mas de uma maneira fofa, para ir de acordo com a coleção, que é leve."

Sobre a preparação para as temporadas fashion, Max Blum conta que nunca escolhe a trilha sozinho. "Normalmente, ouço primeiro o que os estilistas estão querendo", explica. "Às vezes me pedem músicas específicas, em outros momentos não têm a menor ideia, apenas me contam um pouco do que estão fazendo." Ele diz que é partir do papo com os criadores que define o setlist. "Pela conversa percebo se tenho que ser mais introspectivo ou mais extrovertido." Para ele, o processo produtivo e a decisão do que entra em termos musicais acontece pouquíssimo tempo antes dos desfiles. "Uma ou duas semanas antes", conta. "Alguns acabam me pedindo antes, mas o normal é mais próximo do evento." Trilhando musicalmente o caminho das modelos nas passarelas, não seria de se espantar sua opinião sobre moda e música andarem juntas. "Elas buscam identidade", garante. "Qualquer pessoa que trabalhe com isso, e que leve essas duas coisas a sério, vai buscar um jeito de se expressar diferente dos outros."

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