Samuel Rosa detalha o novo disco do Skank

Vocalista faz um faixa a faixa de Estandarte

Por Pablo Miyazawa Publicado em 02/10/2008, às 19h35

Estandarte, o recém-lançado disco do Skank, é o oitavo da carreira do quarteto mineiro (sem contar Radiola, de 2004, uma coletânea com faixas inéditas). É também o primeiro álbum da banda a ser quase inteiramente composto em jams de improviso no estúdio Máquina (BH), o que contribuiu para um clima roqueiro, mais solto e experimental, mas sem deixar de ser pop. Uma semana antes do lançamento oficial, Samuel Rosa, vocalista, guitarrista e principal compositor, comentou cada uma das doze faixas com exclusividade para a Rolling Stone:

"Pára-Raio"

Essa letra é do Nando [Reis]. Foi uma das que mandamos pra ele já prontinha, com as bases gravadas. Eu cantei a melodia e cantei os metais também. Inclusive tem alguns metais na música que tem a minha voz junto [risos]. A intenção dela é bem esse negócio "Roberto Carlos do início dos anos 70". Os metais eu pedi pra que fossem com aquele timbre, meio de lata. A levadinha é de jovem guarda também. É a música que abre o disco e vai abrir o novo show. O cuidado que a gente tomou é não florear muito: ela tem cara de música tocada, não tem muito overdub, tem uma guitarra sequinha, um teclado econômico, bem pra recriar aquele clima. Eu toquei com uma guitarra velha, uma [Fender] Jazzmaster '62, e fiz questão de fazer tudo analógico, o amplificador velhão também.

"Ainda Gosto Dela"

Essa música não surgiu de jams de estúdio. Foi uma levada que o Haroldo [Ferretti, baterista] me passou, e aí eu fiz a música em cima. É uma coisa que a gente fazia lá no começo, direto. "Garota Nacional" foi assim, "Mandrake e os Cubanos"... eram levadas eletrônicas que o Haroldo programava e depois eu fazia as melodias por cima.

O que pesou na escolha [dessa música como o primeiro single] foi a procura por uma música que se aproximasse mais do que tem tocado no rádio hoje. Talvez essa seja a faixa meio MPB do álbum, é essa sensação que tenho. Enfim, é uma musica que nasceu single. Na primeira vez que a tocamos, já com a letra do Nando, pareceu muito claro o que ela poderia render.

Como eu canto nela com uma freqüência mais grave, com tom mais baixo, a gente queria algo que fizesse a música abrir um pouco na hora do refrão. Aí, pensei: "Poxa, a gente poderia experimentar um vocal feminino". Pensamos em algumas possibilidades, mas eu queria que fosse a Negra Li. Mas não pensei numa coisa "Jane e Erondi", dividindo os vocais, mas uma coisa mais discreta, sóbria, que ficasse só no refrão. Eu não queria um dueto obvio, e sim que ela entrasse somente cantando as mesmas frases. Ficou econômico e sofisticado. Não ficou espalhafatoso, mas de bom tamanho.

"Chão"

Muita coisa que está em "Chão" é da gravação original. A guitarra é a original. O baixo distorcido nada mais é que uma distorção analógica ligada no baixo do Lelo. Esses riffs, pelo menos pra mim, só saem de forma mais natural quando estou tocando mesmo. É difícil escutar uma música e falar: "Vai, Samuel, grava a guitarra agora". É muito mais fácil quando se está no clima.

Eu queria evitar que essa música descambasse pro soul brasileiro, que seria o lugar comum. Esse foi o grande desafio. A idéia era conservar o clima de rock que ela tem, com uma levada quase funk. Ai eu pensei no Emotional Rescue [disco de 1980 dos Rolling] Stones. Cara, é onde uma banda de rock conseguiu ser funk, com uma levada, um suíngue. Ser mulata. E aí veio a idéia de fazer o vocal em volume mais baixo e dobrado. Se você reparar bem, são duas vozes minhas em falsete, dobradinhas. Eu confesso que a inspiração foram os Stones mesmo, tocando funk, meio disco music, com pegada mais roqueira. Quando a gente começou a compor, pensamos: "Isso tá meio ZZ Top!" Mas a gente queria uma levada com mais suíngue. Ela também está no novo show.

"Canção Áspera"

Essa música é troca de acorde o tempo inteiro, sugere até um ska. Na guitarra, eu faço quase a mesma levada de um ska, misturando uma coisa psicodélica com uma levada. O macaco dessa história é o groove, principalmente o baixo e a bateria. Eu até insisti para que a guitarra fosse um pouco mais baixa, mas aí fui eu contra a banda. O Dudu [Marote, produtor] insistiu para que a guitarra ficasse um pouco mais na cara. Quando o baixo aparecia mais, distorcido, eu gostava muito. Vou te confessar que gostava mais quando a guitarra era baixinha. Fui voto vencido, mas ela está funcionando nos ensaios. Vamos ver no show.

"Noites de Um Verão Qualquer"

Essa é single, e é bem Dudu Marote também. Aí, foi diferente: as letras que o Cesar Mauricio escreveu, eu musiquei. Não tem muito esse lance de mandar melodias pra ele não. Essa e a "Assim Sem Fim" são músicas que têm letras que eu musiquei.

"Escravo"

Mesmo quando o Skank foi mais dancehall ou raggatwist, sempre teve um negócio de eletrônico com o som clássico, ou com uma levada sessentista. A gente não pensa nessa como single, mas tem uma coisa que a "linka" com "Vou Deixar" e "Garota Nacional": ela tem um contingente politicamente incorreto que acho bacana, porque atrai as pessoas. Ate hoje, vez ou outra, levanta-se a polêmica de dizer que "Garota Nacional" é uma musica machista, mas as mulheres é que cantavam essa a plenos pulmões. O cara tá falando explicitamente que só quer comer a mulher, e deixa isso bem claro. E as mulheres adoravam a música. "Vou Deixar" cai um pouco nisso também. O cara fala: "O ideal pra mim é que eu saia, caia na noite, e você fique me esperando". Se você pensar, porra, é uma sacanagem. Mas é uma coisa que seduz as pessoas. Até porque não sou eu que faço as letras, mas acho bacana quando o Chico Amaral manda essas. "Escravo" é a mesma coisa, só que dessa vez é o homem quem diz: "Ela faz gato e sapato de mim, eu tenho que admitir que com ela estou fudido". Isso é a característica do Chico.

"Noticias do Submundo"

Essa é fruto desse primeiro mês que passamos compondo e tocando no estúdio. O solo que faço nessa música não é pensado, é mais sentido, mais no improviso. De novo, não é aquela coisa fria de: "Beleza, deixo minha guitarra aqui do lado, vou escutar a musica e vou pensar no que vou fazer". Isso é muito diferente de estar tocando, e no meio daquele calor, você sai fazendo o solo, o riff e tal. E tem uma guitarra fuzz que eu coloquei na base que vai do inicio ao fim. Quase não tem overdub, e tem horas que ela fica bem "vazia". Não tem uma guitarra pra dar suporte pra outra que está solando. Ela é bem ao vivo. Essa e "Renascença" são da mesma fornalha. Ela é mais temática, assim como "Saturação", é aquela coisa de cotidiano, mais suburbano.

"Sutilmente"

Essa foi uma letra que o Nando [Reis] me deu e eu fiz no violão. Tomara que vire hit. Sinceramente, o rádio está um negócio maluco. Eu não sei mais dizer o que toca ou não toca. Antes a gente achava que sabia, mas hoje a gente presume, afinal, estamos nisso há um bom tempo. Mas ela foi feita pensando nisso - ser um single. E o Nando consegue sso numa simplicidade, sem se complicar muito. Sem dizer muito, ele consegue escrever um troço que é de todo mundo. Nego ouviu e já entendeu. É a mágica da musica pop que Paul McCartney falava, o cara tem que ouvir a música e dizer: "É de mim que ele está falando". "Sutilmente" tem um pouco disso. É uma das melhores letras que a gente tem na história do Skank. Em termos de balada, é uma das melhores.

"Um Gesto Qualquer", "Assim Sem Fim", "Renascença"

"Um Gesto Qualquer" também saiu de jams de estúdio, assim como "Renascença" e "Assim Sem Fim". Foram músicas feitas efetivamente por uma banda tocando. Não foi um cara que chegou com o violão e disse: "Galera, vou mostrar uma música pra vocês". Daí, o Lelo pega o baixo e tal. Foi um negócio de banda tocando. Acho que o Skank nunca foi uma banda de reggae ao pé da letra, outras referencias flutuaram. Tanto que "Noite de um Verão Sem Fim" é um reggae, bem no estilo Dudu Marote. Aí, o final do disco é mais rock, com precedentes no Cosmotron [2003]. Mas são coisas que estão pairando, e que apareceram mais, talvez pelo contexto, ou pela forma de gravação. É difícil falar que é um álbum mais roqueiro. Tem horas que eu acho que ele é mais mulato, tem um pouco mais de negão, algo que a gente deixou de lado no Carrossel [2006]: a levada de "Chão"; "Pára-Raio" ser mais Roberto Carlos e Tim Maia dos anos 70; "Canção Áspera" é quase um ska. É um disco bem de levada, se você for pensar. E o rock é isso também. Eu acho que a gente está correndo um risco, mas vou deixar o rótulo por sua conta.

"Saturação"

Esta, que é um dub, por incrível que pareça ganhou uma levada eletrônica depois. Ela partiu de uma brincadeira que eu estava fazendo na guitarra, uma coisa mais de rock. E ela tem aquele efeito analógico bacana, o Space Echo. Então eu estava brincando com esse som, fazendo o riff, e os meninos foram fazendo a levada. Depois que o Dudu e o Haroldo colocaram aquela levada eletrônica, mais pesadona. E a música ficou com cara de dub.

O porquê do nome do disco, Estandarte:

A frase "Teu prazer é o meu estandarte" [da música "Chão"] é um negócio que define o Skank: mais festa, o show divertido. Afinal, qual é o problema em se divertir e divertir as pessoas também? Mas o nome do disco não veio daí, eu juro por Deus que não. Só fui pensar nisso depois. "Estandarte" é uma palavra bonita. A gente não tinha titulo ainda e o disco estava pronto, masterizado. Eu comecei a ouví-lo e fiquei pensando nas palavras. E daí veio "Estandarte". Isso é bem Skank, uma palavra só. Nossos discos sempre têm uma palavra só.

skank samuel-rosa estandarte

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