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Além de Bob Dylan: o lado b da música folk

Redação Publicado em 20/03/2017, às 18h19

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Galeria - Folk - Abre - Reprodução
Galeria - Folk - Abre - Reprodução

Abner Jay

Filho de ex-escravos, Jay começou a cantar aos cinco anos de idade nos então efervescentes medicine shows – circos itinerantes originados durante a Marcha Para o Oeste norte-americana e que perduram, em menor quantidade, até os dias atuais.

Com o passar dos anos, o intérprete nativo da Georgia, Estados Unidos, criou um estilo profundamente próprio, no qual a música folk cumprimenta o blues e vice-versa em canções que anteciparam o que há de mais experimental no cancioneiro de Tom Waits.

Graças à excentricidade das composições, que oscilam entre monólogos sobre depressão (“I’m So Depressed”) e divagações sobre os motivos para os jovens usarem drogas (“The Reason Young People Use Drugs”), e também à inusitada versatilidade sobre o palco – ele tocava gaita, banjo de seis cordas, bumbo de bateria e um instrumento de percussão feito a partir de ossos de galinhas e de vacas – Jay foi um dos precursores da música comumente rotulada como outsider.


Connie Converse

Desaparecida desde 1974, Connie é o triste arquétipo do artista cujo reconhecimento chega tardiamente. Ativa como cantora e compositora durante boa parte das décadas de 1950 e 1960, a norte-americana registrou as canções dela em um gravador amador na cozinha do engenheiro de som Gene Deitch – responsável por gravar, nos anos 1940, músicos como John Lee Hooker e Pete Seeger.

Ignoradas pela indústria fonográfica, as canções de Connie permaneceram obscuras por mais de cinco décadas, só voltando à tona em 2004, graças aos esforços do produtor Dan Dzula e do engenheiro de som David Herman, que as apresentaram durante o programa Spinning on Air, da rádio WNYC.

Posteriormente, em 2009, as faixas foram reunidas na compilação How Sad, How Lovely, que está disponível para streaming.


Dave Van Ronk

Entre os artistas desta lista, talvez Van Ronk seja o menos obscuro de todos. No entanto, quando se analisa a importância que é dada a algumas das pessoas com quem ele conviveu no revival da música folk norte-americana, que aconteceu no início dos anos 1960, fica evidente a falta de diligência com que a obra dele é tratada.

Amigo de Ramblin’ Jack Elliott e Joni Mitchell, Van Ronk foi apelidado de “O Prefeito da MacDougal Street” (uma das principais ruas do bairro boêmio Greenwich Village). Ele ainda foi o responsável pelo arranjo mais conhecido para a canção tradicional “House of the Rising Sun”, que foi gravada por Bob Dylan e imortalizada na voz de Eric Burdon, do The Animals.

A vida do músico serviu de base para o longa-metragem dos irmãos Coen Inside Llewyn Davis: Balada de Um Homem Comum, lançado em 2013. Van Ronk morreu em 2002 em decorrência de complicações de um câncer colorretal.


Jackson C. Frank

A vida de Jackson C. Frank foi marcada por uma série de tragédias e episódios maníacos-depressivos. Quando 11 anos, uma fornalha explodiu na escola em que estudava, matando 15 estudantes, entre os quais Marlene, namorada dele. Frank sobreviveu, mas ficou com uma série de lesões que o acompanhariam pelo resto da vida. Enquanto esteve internado para se recuperar dos ferimentos, ele teve aulas de violão.

Aos 21 anos, Frank recebeu uma indenização pelo acidente e mudou-se dos Estados Unidos para a Inglaterra, onde teve contato com Art Garfunkel e Paul Simon, que produziu o primeiro e único disco da carreira dele. Lançado em 1965, o LP autointitulado traz canções como “Blues Run the Game”, que foi regravada por músicos como Mark Lanegan, Laura Marling e John Mayer; e também “Milk & Honey”, que foi reinterpretada por cantores como Nick Drake, e Sandy Denny.

Embora o álbum tenha sido bem recebido, Frank ainda trazia na memória as cicatrizes do trauma. Debilitado psicologicamente, o músico passou a evitar os palcos e acabou abandonando a composição por conta de uma depressão clínica incapacitante. Diagnosticado com esquizofrenia, o norte-americano morou na rua antes de ser resgatado pelos pais e passar o restante dos dias entrando e saindo de instituições psiquiátricas.

Ele morreu aos 56 anos, em 1999.


Karen Dalton

Dona de um tom de voz rouco e nebuloso, Karen já foi comparada a Billie Holiday e Bessie Smith. Ela surgiu, assim como tantos outros, em meio ao intenso revival da música folk norte-americana durante os anos 1960.

Todavia, a cantora de origem cherokee se diferenciava dos demais cantores folk da época por preferir usar como instrumento principal um violão de doze cordas, ou então um banjo long neck, em vez do clássico violão de seis cordas.

Karen – que morreu em 1993 devido a uma complicação relacionada ao HIV – teve seis discos, entre lançamentos póstumos, coletâneas e álbuns de estúdio. O trabalho dela está disponível para streaming.


Dave Bixby

Ode To Quetzalcoatl é uma das relíquias perdidas do “folk cristão” dos anos 1960. Lançado por Dave Bixby em 1969, o álbum traz 12 canções que dialogam com questões como uso de drogas psicodélicas e o sentimento de impermanência diante de um mundo material – tudo isso sob a ótica de um “jesus freak”, termo pejorativo usado pelos jornalistas Hunter S. Thompson e Tom Wolfe para designar a subcultura hippie cristã da época.

Após uma série de bad trips, Bixby ficou desiludido com a cultura da psicodelia e do LSD, amplamente disseminada pelo psicólogo norte-americano Timothy Leary. Buscando transcender espiritualmente sem o intermédio de alucinógenos, o músico começou a frequentar um grupo de orações liderado por Don Degraff, a quem foi apresentado pelo ex-colega de banda Brian MacInness. Durante os encontros, Bixby executava algumas canções ao violão, o que acabou atraindo cada vez mais pessoas para os cultos.

Inspirado pela divindade mesoamericana Quetzalcoatl e também por Jesus Cristo, o músico criou um disco conceitual sobre um andarilho que caminha como uma espécie de beatnik pelas estradas dos Estados Unidos promovendo milagres. Segundo Bixby, em uma das raras entrevistas dele, que foi dada ao site Psychedelic Baby Mag, o eco e a sensação sonora de profundidade das canções foram propositais, almejando promover “o grande e longínquo sentimento de alguém procurando pela música”.

Ainda nos anos 1960, ele tocou ao lado das bandas Peter and Prophets e Friends of Mind. No entanto, não existem registros dos shows ou de qualquer gravação ao lado dos dois grupos.


F.J. McMahon

Impresso em uma quantidade limitada de exemplares e gravado com baixo orçamento, o disco Spirit of the Golden Juice foi o primeiro e único trabalho lançado por F. J. McMahon.

Desiludido com a baixa vendagem dos álbuns, McMahon abandonou a carreira musical e se alistou na aeronáutica, tendo se especializado em engenharia eletrônica.


Alexander “Skip” Spence

O canadense criado nos Estados Unidos ajudou a fundar o grupo seminal Moby Grape, no qual tocou guitarra de 1966 a 1969. Ele ainda foi um dos integrantes das primeiras formações do Quicksilver Messenger Service, bem como baterista no disco de debute Jefferson Airplane Takes Off, do Jefferson Airplane. No entanto, o que chama atenção na trajetória do músico não são as colaborações em bandas, mas a sucinta carreira solo dele.

Descrito comumente como uma das personalidades mais brilhantes (e subestimadas) da psicodelia, Spence gravou somente um disco como cantor e compositor. Lançado em 1969, Oar foi registrado em sete dias na cidade de Nashville. O trabalho, no qual Spence toca todos os instrumentos sozinho, foi gravado ainda em meio aos surtos psicóticos do músico.

Dependente químico de cocaína, e diagnosticado com alcoolismo e esquizofrenia causada pelo uso em doses industriais de drogas psicodélicas, Spence se afastou da música logo após o lançamento do disco. Longe dos palcos e dos estúdios, ele levou uma vida de indigente: vivendo temporadas entre a clínica psiquiátrica e a rua, dependendo de amigos e familiares para sobreviver.

Ele morreu em 1999, aos 52 anos, de câncer de pulmão. Três meses após a morte dele, foi lançada a coletânea More Oar: A Tribute To The Skip Spence Album, que conta com faixas do músico cantadas por gente como Robert Plant, Tom Waits e Beck.


Vashti Bunyan

A inglesa Vashti Bunyan lançou o primeiro disco dela em 1970. Intitulado Just Another Diamond Day, o trabalho vendeu pouquíssimas cópias, fazendo com que ela abandonasse a carreira musical. Mas, com o passar dos anos, o LP foi angariando fãs e adquirindo o status de cult.

Por volta da primeira metade dos anos 2000, junto à explosão do New Weird America – movimento artístico calcado nas variações experimentais do folk, também conhecidas como freak folk e psych folk – a artista passou a ser cultuada pelos músicos Joanna Newsom e Devendra Banhart.

Septuagenária, a cantora e compositora retornou aos palcos, lançando ainda mais dois discos: Lookaftering (2005) e Heartleap (2014). Além disso, a voz dela pode também ser ouvida nas faixas “It’s You”, “Prospect Hummer” e “I Remember Learning How to Dive”, todas do álbum Prospect Hummer (2005), do Animal Collective.


The Incredible String Band

Formado em 1966, na Escócia, o grupo foi um dos principais expoentes da contracultura psicodélica na Grã-Bretanha. Mesclando a melancolia do folk britânico à música folclórica indiana e marroquina, a banda introduziu (junto dos Beatles e dos Rolling Stones) o instrumento indiano sitar na música pop ocidental.

A Incredible String Band teve diversos integrantes. Entretanto, quem capitaneou a banda do início (1965) ao fim (1974) foi a dupla de músicos Mike Heron e Robin Williamson.

O grupo foi uma das atrações da primeira edição do festival Woodstock, em 1969.


Jandek

Pouco se sabe sobre Jandek. Figura no mínimo intrigante da música folk outsider norte-americana, o músico (que atende pelo nome Sterling Richard Smith quando não está usando a alcunha artística) lançou, nas últimas quatro décadas, pelo menos 49 discos de estúdio, todos pelo selo próprio Corwood Industries.

Recluso e enigmático, Smith não dá entrevistas e raramente aparece em público. No entanto, apesar do caráter esquivo e pouco sociável, o músico atraiu um culto de fãs e muitas teorias conspiratórias sobre a maneira quase compulsiva como produz – há quem diga que os álbuns estão todos interligados, funcionando como uma espécie de diário pessoal.

As afinações abertas, os acordes dissonantes e o lirismo que transita entre o hermético e o banal inspiraram gente como Thurston Moore (ex-Sonic Youth) a entoarem as primeiras notas (propositalmente desafinadas) da carreira.


Bonnie “Prince” Billy

Nascido Will Oldham, encabeçou os projetos Palace Brothers, Palace Songs e Palace Music antes de adotar o pseudônimo Bonnie "Prince" Billy. Ativo desde 1993, ele ganhou reconhecimento artístico no nicho alternativo da música folk, em 1999, quando lançou I See a Darkness.

Devido à atmosfera melancólica que permeia o trabalho do músico, e à sonoridade densa das canções (cujas referências vão do country sulista dos Everly Brothers ao punk soturno do Joy Division), o estilo musical de Oldham foi rotulado de “pós punk solipsista apalache”, ou então de “folk gótico sulista”.

A faixa “I See a Darkness” foi regravada por Johnny Cash para a antologia American III: Solitary Man, lançada em 2000.


Jeffrey Lewis

O tímido subgênero musical anti-folk teve alguns expoentes que foram alçados ao mainstream, conseguindo desfrutar certo sucesso comercial. Músicos como Beck, Kate Nash, Regina Spektor e Moldy Peaches (da icônica "Anyone Else But You", da trilha sonora de Juno) começaram as carreiras imersos na cena, cuja origem remonta ao início dos anos 1990, em Nova York.

Criado como uma forma de contestar o engajamento politizado do folk sessentista, o estilo é marcado por canções repletas de ironia, referências à cultura pop e ao uso de drogas como fonte de recreação, e não com o pretexto de transcendência espiritual – tal como aconteceu na década de 1960.

Em 2007 foi lançada, pelo selo Crafty Records, a compilação Anticomp Folkilation. A coletânea reúne 36 nomes que integraram o movimento, entre eles o músico e cartunista Jeffrey Lewis. Influenciado por Will Oldham e Leonard Cohen, Lewis começou a tocar em 1997, tendo lançado cerca de 27 discos e EPs até agora.


Vic Chesnutt

Chesnutt teve uma curta, porém prolífica trajetória musical. Ao longa da carreira, ele lançou 17 álbuns, sendo que dois deles (o debute Little, de 1990, e o sucessor West of Rome, de 1991) foram produzidos por Michael Stipe, ex-vocalista do R.E.M..

Aos 18 anos, Chesnutt tornou-se tetraplégico após um acidente de carro. Embora a maior parte dos movimentos do corpo dele tenha ficado comprometida, ainda conseguia tocar acordes simples em afinações abertas no violão.

Chesnutt se matou aos 45 anos, em 25 de dezembro de 2009.


Sibylle Baier

Embora tenha aparecido no filme Alice Nas Cidades (1973), de Wim Wenders (Paris, Texas, Sal da Terra), Sibylle optou por levar uma vida reservada, longe dos holofotes. Radicada nos Estados Unidos, a alemã foi “descoberta” graças aos esforços do filho dela, Robby, que compilou em um CD um punhado de canções que a mãe havia gravado entre 1971 e 1973.

Despretensiosamente, ele distribuiu a familiares e amigos poucas cópias do disco Colour Green, primeiro e único da cantora. Entre as pessoas para quem ele entregou a coletânea estava J Mascis, vocalista e guitarrista da banda Dinosaur Jr. Impressionado, o músico repassou a raridade ao selo Orange Twin Records, capitaneado pela multi-instrumentista Laura Carter, integrante do grupo Elf Power.

Colour Green foi lançado em 2006 e conta com 14 faixas de Sibylle.