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Coragem para Mudar

Neil Patrick Harris saiu do armário há sete anos, mas foi preciso interpretar uma roqueira transexual para que ele fosse homem o bastante para agir como mulher

Brian Hiatt | Tradução: Ana Ban Publicado em 10/07/2014, às 14h22 - Atualizado em 12/09/2014, às 18h41

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<b>Ousado</b><br>
O ator em abril, em Nova York - Terry Richardson
<b>Ousado</b><br> O ator em abril, em Nova York - Terry Richardson

Nem mesmo neil patrick Harris consegue sempre fazer parecer que é fácil. No fim de uma tarde fria de abril, o ator passa apressado pelo teatro Belasco, na Broadway, em Nova York. O nome dele reluz na marquise do local em letras de mais de meio metro de altura. Harris se esgueira para um bistrô vizinho ao teatro, tira a jaqueta de couro e se acomoda em uma mesa de canto. Ele parece exausto. “Dia longo”, diz, conseguindo dar um sorriso, mesmo tendo dormido apenas cinco horas e ingerido só uma porção de mingau de aveia e um pouco de suco verde durante o dia todo. Harris passou uma longa manhã cuidando sozinho dos filhos gêmeos de 3 anos – o outro pai das crianças, o ator e chef David Burtka, noivo do astro e companheiro dele há dez anos, está viajando para cuidar dos detalhes da mudança da família de Los Angeles para Nova York.

Quatro horas mais tarde, Harris está no palco estrelando o musical Hedwig and the Angry Inch (Hedwig – Rock, Amor e Traição, na tradução do título do filme homônimo, lançado em 2001 no Brasil). Depois de ter arrebatado uma legião de fãs como um heterossexual convicto na série How I Met Your Mother, o ator emagreceu quase dez quilos para interpretar Hedwig, uma roqueira glam transexual falida da Alemanha Oriental. Aos 40 anos, ele está com uma barriga de tanquinho, mas seu rosto parece tão acabado quanto o de um prisioneiro de guerra.

Apesar de todo o sacrifício físico, atuar, para Harris, é fácil; o difícil é ser pai. Principalmente na manhã seguinte a um espetáculo. As crianças não param de insistir para dormir na cama dos pais – “Não é a minha dinâmica preferida”, diz o ator – e quando hoje o acordaram às 5h30 da manhã ele percebeu que estava passando tão pouco tempo em casa ultimamente que não fazia ideia de onde as fraldas ficavam guardadas. “Vem aqui, papai”, chamou a filha, Harper. “Eu mostro para você!”

A primeira vez que Neil Patrick Harris teve a percepção confusa de que se sentia atraído por outros meninos foi no ensino fundamental. “Era meio que uma paixonite, mas física”, ele relembra. “Não física no sentido de fazer alguma coisa com eles fisicamente, mas eu me apaixonava pelo jeito físico deles. Só que eu não sabia, de jeito nenhum, como isso seria manifestado.” Quando estava com cerca de 20 anos, sentiu-se pronto para contar aos amigos e familiares que era gay. Até então, tinha namorado meninas, inclusive ido para a cama com elas, mas sexo, de qualquer tipo, não era uma parte importante de sua vida. “Eu não era uma pessoa supersexual”, ele conta. “Eu realmente não precisava, tipo, fazer com que nada fosse físico. Eu fantasiava sobre muitas coisas, mas, para mim, contar com a aprovação dos amigos era um primeiro passo necessário para que eu então me dispusesse a me expor em qualquer tipo de nível.” Para Harris, sair do armário na vida particular foi muito mais complicado do que na pública, oito anos depois, em 2006, quando ele divulgou um comunicado após estrelar a primeira temporada de How I Met Your Mother.

A autoaceitação e o passado às claras o ajudaram a não hesitar em aceitar o papel de Hedwig, apesar de Burtka tê-lo aconselhado a não fazê-lo. “Eu não achei que ele ia conseguir dar conta da feminilidade da personagem. Ele não é um cara muito feminino”, Burtka conta. Harris teve suas próprias preocupações em relação a esse assunto. Ser um adolescente enrustido o impulsionou “a desejar não parecer efeminado demais”. “E isso, agora que estou interpretando uma personagem de feminilidade descarada, é meio que uma preocupação idiota”, ele afirma. “Eu não sabia quem eu era no meu corpo até ter vivido um tempo, e naquelas décadas de incerteza eu não queria parecer, hum, ‘mulherzinha’ demais. Estou tentando escolher as palavras com cuidado porque não quero desrespeitar as pessoas que são efeminadas ou que têm trejeitos de mulher.”

Agora, toda essa questão é passado. Minutos antes de o ator encarar o público na pele de Hedwig, um maquiador dá os últimos retoques no rosto de Harris, aplicando camadas grossas de batom com glitter. Está perto da hora da apresentação, e o ator se levanta para se despedir de mim. Ele estende a mão com unhas de glitter e eu faço menção de apertar a mão dele; só depois percebo que deveria ter dado um beijo nela. Sempre pronto para improvisar, Harris se inclina e, em vez disso, aperta os lábios contra a minha mão, deixando uma marca de purpurina.

“Boa noite”, ele diz com sotaque alemão. Fica parado à porta por um momento, transformado ao vestir short e peruca e mostrando o torso anguloso. É mágico: o ator fez o Neil da vida real evaporar. E, mesmo que você conheça a verdade, ele faz c Por Brian Hiatt om que pareça fácil demais.