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Entrevista: Lars Ulrich

Prestes a estrear um festival próprio e com um filme 3D em produção, o Metallica não pensa em parar

Redação Publicado em 15/06/2012, às 11h44 - Atualizado às 11h49

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Lars Ulrich - Peter Yang
Lars Ulrich - Peter Yang

É uma ocasião histórica. Em uma tarde, em um estúdio em São Francisco, o Metallica está ensaiando. O repertório, pela primeira vez, é a íntegra do maior álbum da banda, Metallica (de 1991, mais conhecido como “Álbum Preto”). O quarteto toca as músicas em sequência, mas de trás para a frente: começando pelo final, a mal-humorada “The Struggle Within”, e finalizando com a abertura, a exuberante “Enter Sandman”.

“Não está escrito em lugar nenhum que, se você toca um álbum na íntegra, tem que ser na ordem certa”, argumenta o baterista Lars Ulrich. Ele, o vocalista-guitarrista James Hetfield, o guitarrista Kirk Hammett e o baixista Robert Trujillo irão apresentar o “Álbum Preto” no festival particular do Metallica, o Orion Music + More, que acontece em 23 e 24 de junho em Atlantic City (Nova Jersey). No evento, a banda também irá revisitar o clássico Ride the Lightning, de 1984 – outro feito inédito.

Esta, aliás, será uma fase cheia de primeiras vezes na carreira do Metallica. Uma sequência de oito shows no México apresentará um palco novo e extravagante que compõe o filme 3D que a banda está desenvolvendo com o cineasta Nimród Antal. E, com o Orion, o Metallica entra para valer no movimentado mercado dos festivais musicais. Todos na banda tiveram influência sobre a programação. Ulrich programou uma mostra de cinema, enquanto Hammett será o anfitrião da Kirk’s Crypt, dedicada a objetos relacionados a filmes de terror. “Faça um festival, faça um filme – tudo é bacana demais”, diz Ulrich. “A variedade é o tempero da vida.”

Leia abaixo entrevista com Lars Ulrich:

De quem foi essa ideia de apresentar o “Álbum Preto” de trás para a frente?

Se você gostou da ideia, foi minha. Se não gostou, foi do James [risos]. Para o bem ou para o mal, eu é quem defino o repertório. Tudo está sujeito a mudança se não der certo. Mas a ideia de começar com as músicas menos conhecidas e terminar com “Sad but True” e “Enter Sandman” parece ser campeã. Você finaliza com a aposta certa, que é a primeira música.

Vocês não alternam mais entre anos de trabalho e de descanso: parece que estão sempre na ativa.

Eu tenho uma reação adversa à palavra “trabalho”. Vir para o quartel-general, tocar e suar – isto é divertido. Amamos isto demais. A gente sobreviveu aos reveses e às armadilhas em que caímos, toda aquela maluquice que se vê em Some Kind of Monster. A coisa parece que encontrou um ritmo. Não é igual aos Red Hot Chili Peppers, que gravam disco, fazem turnê e daí somem durante três ou quatro anos. Esse não é o nosso destino.

Leia entrevista com James Hetfield.

Quais são os detalhes sobre o festival Orion que podem ser atribuídos somente a você?

Eu inventei o nome [risos]. Para mim, ter o Arctic Monkeys no elenco é demais. Acho que eles são uma banda de heavy metal disfarçada de indie. O Avenged Sevenfold é querido e próximo. A banda estava em cima do muro em relação a participar ou não. Eu liguei para um dos caras e disse: “Realmente, seria muito importante para nós”. The Black Angels é bacana demais. Um amigo meu disse: “Dê uma ouvida neles”, e eu fiquei tipo: “Uau, é como uma mistura de The Doors e alguma coisa de 2011”.

Houve alguma banda que vocês convidaram que tenha respondido: “De jeito nenhum, os fãs do Metallica vão nos matar”?

A questão não foi com as bandas. É mais se esse tipo de festival pode existir do ponto de vista dos fãs. Como somos nós que estamos organizando, ele fica marcado como uma coisa específica. Nós temos que nos esforçar mais. Se o Radiohead fizer isso, é bacana. Se é o Metallica que faz, então não é. Eu fico chocado por as pessoas ficarem chocadas pelo fato de nós estarmos fazendo esse tipo de coisa. Está no nosso DNA.

O filme em 3D é um salto estranho, mesmo para o Metallica: é documentário, ficção e show ao vivo, tudo em um palco maluco.

Essa idéia está circulando faz dois anos. Está na hora de colocar em prática, tirar da cabeça e colocar na tela. E se for feito da maneira certa, pode ser sensacional. Você não está assistindo ao Metallica no palco: está no palco com o Metallica. Em IMAX, James Hetfield tem 12 metros de altura, cuspindo em você. Se houver um terremoto do lado de fora, você não vai reparar. Mas não dá para fazer isso durante 100 minutos seguidos. Perde o apelo. Tem outro elemento ali – íntimo, pequeno, uma história que rola na mesma trajetória de um show. A questão é: “Onde é que eles se confundem e se separam?”. Mas você tem que se distanciar do show para apreciar o show.

Até em um show do Metallica é necessário fazer uma pausa para a cerveja e o banheiro.

Esta ideia remonta aos anos 90, quando os filmes de IMAX começaram a ser lançados. Naquela época, uma câmera de IMAX era do tamanho de uma casa e só tinha 12 minutos de filme. Tinha que parar e recarregar. Mas ver o último Missão: Impossível em IMAX, e daí quando transmitimos o show Big 4 [com Anthrax, Slayer e Megadeth] da Bulgária para os cinemas em 2010 – foi tudo isso que ajudou a fechar o negócio.

Como você olha para o futuro em longo prazo? O Metallica acaba de comemorar 30 anos de carreira. Durar mais 30 anos talvez seja otimista demais.

Ainda não acho que nos desafiamos o suficiente. Nós ainda falamos sobre “o próximo disco”. A gente pode fazer o que quiser com a nossa música. “Nós escondemos um novo CD do Metallica em cada CEP dos Estados Unidos. Vão procurar!” Opções não faltam. Apenas não mencione a palavra “trabalho”. A ralação da parte da manhã, ou seja, aprontar os meus três filhos para ir para a escola – essa é a parte trabalhosa do dia. Quando eu chego aqui, a diversão começa