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Emicida expõe a luta de classes e o preconceito racial no impactante clipe de “Boa Esperança”

Vídeo tem participações de Domenica e Jorge Dias, filhos de Mano Brown

Redação Publicado em 01/07/2015, às 12h12 - Atualizado em 03/07/2015, às 16h11

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O rapper Emicida no clipe de "Boa Esperança"  - Bruno Miranda/Na Lata
O rapper Emicida no clipe de "Boa Esperança" - Bruno Miranda/Na Lata

Por Luciana Rabassallo

Nina Simone, uma das maiores artistas de todos os tempos e ativista do movimento pelos direitos civis da população negra nos Estados Unidos na década de 1960 e 1970, afirma, em uma das gravações inéditas que fazem parte do documentário What Happened, Miss Simone?, divulgado pela Netflix no último dia 26 de junho, que "estava pronta para matar ou morrer caso houvesse necessidade".

Você ainda não entendeu a mensagem de Cores & Valores? A detenção de Mano Brown é o exemplo perfeito.

À época, ela lamentava o assassinato de Martin Luther King Jr., pastor e articulador político que pregava a não violência e o amor ao próximo mesmo em tempos de segregação racial. A morte dele, contudo, fez com que Nina e muitos outros ativistas falassem em guerra civil e luta armada para refirmar o direito (básico) de sobrevivência aos negros.

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Quatro décadas depois, o preconceito e o segregacionismo nos Estados Unidos estão novamente nos holofotes da imprensa mundial por conta dos assassinatos de jovens negros cometidos por policiais brancos em cidades como Baltimore e Ferguson. As mortes de Michael Brown e Freddie Gray geraram, além de protestos mais do que legítimos, uma reação de alguns artistas do hip-hop e R&B. Graças a Black Messiah, de D’Angelo, e a To Pimp a Butterfly, de Kendrick Lamar, 2015 será lembrado como o ano em que a política negra e a música negra ressurgiram para se unir ao pop mainstream.

Como Kendrick Lamar conseguiu superar momentos sombrios e inseguranças para se tornar o nome mais elogiado do hip-hop.

No Brasil, os Racionais MC's divulgaram Cores & Valores no finalzinho de 2014, registro que discute com profundidade o peso que a posição social, o sobrenome, o dinheiro e a cor da pele têm nas estruturas sociais do país. Agora é a vez de Emicida retratar o preconceito racial velado e cruel, típico do Brasil, no sensacional clipe de “Boa Esperança”. A canção é o primeiro single que estará no novo disco dele, ainda sem título ou previsão de chegar às lojas. João Wainer (Junho) e Kátia Lund (Cidade de Deus) assinam a direção, enquanto a produção é uma parceria entre o Laboratório Fantasma e a bigBonsai.

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A trama gira em torno de um grupo de empregados de uma mansão - em sua maioria negros -, que se rebelam após anos de abuso dos empregadores. O elenco conta com o próprio rapper, além de Domenica e Jorge Dias, filhos de Mano Brown, e a modelo Michelli Provensi. Ainda participam Divina Cunha e Raquel Guimarães Dutra, moradoras da ocupação Mauá, no centro de São Paulo, e Dona Jacira, mãe do músico. As três última já exerceram a profissão na vida real.

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Segundo um comunicado enviado à imprensa, o roteiro nasceu de um processo coletivo após conversas entre o rapper, os diretores e empregadas domésticas que vivem na ocupação. Completam o elenco Ingrid Bolonhesi, Sandra Sousa, Carlos Meceni, Vitor Campos, Cecília Audi, Adib Tabbach, Arthur de Wolf, Cristiano Silveira e Gabriel do Nascimento.

Veja o clipe de "Boa Esperança" abaixo:

O vídeo aborda diversos tipos de violência: abuso sexual sofrido pelas empregadas domésticas, preconceito por conta de tranças e penteados afros e intolerância com as religiões afro-brasileiras. Desde o clipe de "Minha Alma (A Paz Que Eu Não Quero)", lançado pelo Rappa em 2000, que um vídeo brasileiro não denunciava de forma tão contundente os problemas da nossa sociedade. O conteúdo de "Boa Esperança" é uma ótima maneira de repensar os caminhos que o país está tomando através da onda conservadora que domina a política nacional.

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Como prega Nina Simone no hino "To Be Young, Gifted And Black": "We must begin to tell our young / There's a world waiting for you / This is a quest that's just begun". Ao que tudo indica, os artistas engajados do hip-hop estão seguindo o conselho de Nina à risca e fazendo a belíssima ideologia de vida dela ecoar: "Eu escolhi refletir o tempo e as situações em que me encontro. Como ser um artista e não refletir a época?".

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Sobre "Boa Esperança" e o novo disco

“Cês diz que nosso pau é grande/ Espera até ver nosso ódio”, canta Emicida em “Boa Esperança”, música revelada em 24 de junho. O single traz citações a personagens famosos como Osama Bin Laden, o apresentador Datena e jogador de futebol africano Eto'o.

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O novo trabalho de Emicida foi influenciado por uma viagem do músico à África – em busca das “origens” negras –, como ele revela na letra de “Boa Esperança”: “O tempero do mar foi lágrima de preto/ Papo reto, como esqueletos, de outro dialeto/ Só desafeto, vida de inseto, imundo/ Indenização? Fama de vagabundo.”

O sucessor de O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui terá participações de Caetano Veloso – que divide os microfones com Emicida na faixa “Baiana”, escrita pelo rapper em parceria com o DJ Du – e Vanessa da Mata, que empresta a voz à música “Passarinho”.

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Sobre a colaboração com Caetano Veloso, Emicida comentou recentemente: “A música descreve a Bahia como se ela fosse uma mulher. Um parceiro meu disse que Caetano cantou ‘Sampa’ sendo baiano, e agora a gente devolve com ‘Baiana’ sendo paulistano. Acho que é isso.”

O segundo álbum completo de Emicida ainda não tem título, nem data de lançamento, mas deve chegar às lojas ainda no segundo semestre. Ele dá sucessão a O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui, de 2013. O registro é patrocinado pela Natura Musical e deve render um documentário. No Facebook, o rapper vem compartilhando fotografias e informações a respeito das gravações.