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Marrakesh: experimentação, descoberta e a ascensão da banda curitibana

Redação Publicado em 13/06/2018, às 13h53 - Atualizado às 17h43

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Marrakesh no Primavera Sound Festival - Divulgação/Primavera Sound
Marrakesh no Primavera Sound Festival - Divulgação/Primavera Sound

Por Igor Brunaldi

Formada em 2014, em Curitiba, a banda Marrakesh tem conquistado espaço, com movimentos cautelosos e minuciosos, entre os maiores nomes do cenário independente. Composta atualmente por Bruno Tubino (vocal e guitarra), Lucas Cavallin (vocal e guitarra), Nicholas Novak (baixo), Volobodo (sintetizadores e guitarra) e Matheus Castella (bateria), o quinteto ganhou destaque inicial com o EP Vassiliki (2014), apresentando uma sonoridade que, em um primeiro momento, causa estranheza. Só depois de algumas audições é possível entender que soa como um banho de loucura misturado com notas de um blues psicodélico.

Foi o reconhecimento desse trabalho que abriu uma porta que até então existia apenas nos sonhos dos músicos: a oportunidade de tocar no renomado festival espanhol Primavera Sound, na edição de 2017. Toda a trajetória (desde as reações de quando receberam a notícia até a preparação para a viagem) está registrada no documentário que pode ser assistido abaixo, Marrakesh in Barcelona // Primavera Sound. O filme foi lançado na última terça, 12, com direção de Fernando Moreira e direção criativa da Igi Ayedun.

Não é todo dia que um banda independente sai do país para se apresentar em território internacional. O esforço e dedicação necessários muitas vezes são destruidores, o que acaba gerando a imagem glamourizada do artista “acabado”, que não consegue pagar as contas, que sofre para conseguir fazer shows e usa da tristeza para compor. Cavallin conta que “dificilmente existe outra opção senão ser fodido, mas achar isso bonito e imprescindível para a produção artística é uma forma horrível de tratar as coisas”. “Sendo realista, o desgaste faz sim parte de todo o processo de atingir seu sonho, mas não [se deve] transformar isso num processo destrutivo”, acrescenta. “Não acredito que seja necessário estar triste no momento para escrever uma música triste, basta entender, após ter experimentado a tristeza, e saber como expressar isso.”

Em abril de 2018, o Marrakesh lançou pela Balaclava Records Cold as a Kitchen Floor, disco cheio de estreia da banda. Se Vassiliki remete a um banho de loucura, CKF abraça tudo que foi iniciado no EP, mas vai adiante. Ele chega como um mergulho definitivo em um oceano de insanidade sonora no qual cada textura e transição inesperada, cada quebra de ritmo e efeito inserido na composição atinge os ouvidos como uma onda te joga para o fundo do mar. O álbum abusa da experimentação não só com os instrumentos, mas também com o vocal de Tubino, que em diversas faixas aparece distorcido a ponto de ser irreconhecível. O resultado traz uma associação bizarra com o pop, mas de uma forma estranha e atípica, que se encaixa no contexto.

Segundo Cavallin, uma criação tão abrangente surge não apenas de inspirações musicais, mas também da pintura e da literatura. “Algumas músicas do álbum foram escritas a partir de poemas – principalmente os de E. E. Cummings – e certas texturas surgiram de interpretações de telas de artistas como Helen Frankenthaler e James Abbott McNeill Whistler”, conta o guitarrista.

Em tempos de streaming, a banda (formada por jovens que têm noção do funcionamento da indústria fonográfica e de seu atual estado, tendendo ao digital) conta que ainda não lançou o trabalho mais recente em formato físico apenas por falta de recursos, mas Tubino garante que o disco não morreu. “Os streamings somam no processo de distribuição, com certeza, mas da mesma maneira que a música chega com facilidade, ela também vai. O álbum só foi disponibilizado em streaming e até agora não temos do que reclamar”, diz.

Sobre a cultura de lançamento de singles, Cavallin aproveita para acrescentar que acha importante criar uma expectativa, dar uma prévia do material. "Lançar o álbum de uma vez só parece dificultar o processamento dele por quem ouve, por não oferecer uma referência espacial a não ser a ordem das músicas. O single parece facilitar isso, além de proporcionar um tempo de giro maior para a divulgação.”

O Marrakesh vem colhendo os frutos que vieram com Cold as a Kitchen Floor, se apresentando em vários estados do país e se prepara para, no fim de junho, tocar no aguardado festival PicniK, em Brasília.

Assista abaixo ao documentário e ao clipe de “Moonhealing”, primeiro single do álbum. Os dois dirigidos foram dirigidos por Fernando Moreira.