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A Mulher-Rei: Conheça a história real por trás do novo filme de Viola Davis

Estrelado por Viola Davis, A Mulher-Rei promete revolucionar a indústria cinematográfica ao dar destaque para personalidades negras.

Emanuela Lemes (sob supervisão de Eduardo do Valle) Publicado em 22/09/2022, às 18h15

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Viola Davis em pôster de The Woman King (Foto: Divulgação/Sony Pictures)
Viola Davis em pôster de The Woman King (Foto: Divulgação/Sony Pictures)

A Mulher-Rei (2022) mostrará a força da mulher negra em meio a um elenco majoritariamente negro e feminino, considerado pela crítica especializada um dos melhores filmes de ano. Atualmente, a produção está com 95% de aprovação no Rotten Tomatoes, site especializado de críticas. 

Inspirado na história das Amazonas do Reino de Daomé, onde hoje é localizado República do Benin, o drama histórico protagonizado por Viola Davis promete revolucionar a indústria cinematográfica ao dar destaque para heróis e personalidades negras.

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A história de A Mulher-Rei 

O filme começa em 1823, após um ataque bem-sucedido das Agojie, libertando escravos que estavam nas mãos do Império Oyo em uma região localizada no sudoeste da Nigéria.

Embora o povo de Daomé seja submisso a Oyo, nesta época iniciava-se um princípio de rebelião pelo Reino de Daomé, coordenada pelo rei Ghezo (John Boyega) e a general Nanisca (Viola Davis), já que ambos desprezavam o comércio de pessoas escravizadas.

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A origem do Reino de Daomé 

Os livros de história relatam que as origens do reino de Dahomey remontam ao século XVII, mas sua expansão começou no século XVIII, durante o período mais intenso do tráfico atlântico de escravos.

Em 1727, o reino conquistou o Reino de Hueda, que vivia ao longo da costa, e assumiu o controle da cidade portuária de Ouidah, inaugurando sua participação ativa no tráfico atlântico de escravos.

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Os historiadores estimam que quase um milhão de africanos escravizados foram colocados em navios para as Américas em Ouidah entre 1659 e 1863, considerado o segundo maior fornecedor de africanos nativos para o comércio, atrás apenas de Luanda, na atual Angola.


O reinado de Ghezo

O rei Ghezo chegou ao poder em 1818, após um golpe de estado contra seu meio-irmão, o rei Adandozan, e foi o nono rei do Daomé, também considerado um dos maiores dos doze reis históricos. Em 1823, quando a ação do filme acontece, os britânicos já haviam abolido o tráfico de escravos e estavam pressionando os estados da África Ocidental e países europeus e americanos, como Portugal, Espanha e Brasil, a acabar com o seu próprio.

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O Brasil havia declarado independência de Portugal em 1822, mas continuou a importar ativamente africanos escravizados, inclusive de Ouidah. Enquanto isso, o reino vinha pagando tributos ao Reino de Oyo (um estado localizado no atual sudoeste da Nigéria) desde 1748. No entanto, sob o governo de Ghezo, em 1823, o reino travou uma guerra contra Oyo e finalmente conseguiu se livrar dos tributos, sendo deste fato que se inicia A Mulher-Rei

Com as guerras frequentes com os estados vizinhos da África Ocidental, o reino passou a dar anualmente escravos do sexo masculino, particularmente ao Reino de Oyo, que utilizava as pessoas em troca de mercadorias durante a Era dos Descobrimentos. O reino de Daomé passou a pedir a presença de mulheres para proteger a cidade e daí, surgiram as Amazonas Dahomey, ou Agojie.

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As Amazonas Dahomey / Agojie

Inicialmente, apenas as esposas do rei se tornaram guerreiras Agojie. Entretanto, com o tempo, mulheres comuns da sociedade foram se voluntariando para participar deste exército.

Era um grupo de mulheres caçadoras de elefantes que logo se tornou parte da guarda do exército. Outra característica interessante para a época é que o exército feminino usava uniforme, para serem reconhecidas em Daomé e temidas pelos povos vizinhos.

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Na época, Agojie eram como “esposas de terceira classe”, já que não compartilhavam sua cama ou tinham filhos com o rei, além de serem proibidas de fazer sexo com outros homens. Dentre os “privilégios”, estava o acesso a escravos particulares e tabaco e álcool.

Os treinos intensos

Para se tornar uma Agojie, as mulheres passavam por um treinamento intenso, o que incluía exercícios que as preparavam para batalhas sangrentas. Isso envolvia, por exemplo, ataques simulados a outros povos em que tinham que escalar descalças muros cheios de espinhos. 

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O exército das Agojie se dividia em cinco ramos: as que lutavam na artilharia, as caçadoras de elefantes, as arqueiras, as mosqueteiras (que empunhavam mosquetes), e as que lutavam com navalhas. Uma parte importante de seu treinamento consistia em conseguir surpreender o inimigo, pegando-o desavisado.

No século XIX, depois da invasão europeia ao continente africano, as Amazonas de Daomé foram recrutadas para lutar contra o exército francês na Primeira Guerra Franco-Damomeana.

Embora esta tenha sido uma das batalhas mais marcantes do exército feminino, as Agojie foram mortas a tiros e em combates corporais pela tropa francesa, o que levou ao fim deste grupo e ao apagamento das suas memórias.

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Imprecisões de roteiro em A Mulher-Rei

Ghezo, de fato, existiu e libertou Daomé em 1833. No entanto, há imprecisões de roteiro no que é retratado pelo filme, uma vez que o Reino de Daomé teve envolvimento direto no tráfico de escravos, vendendo seus nativos para comerciantes europeus. 

Conforme apontam os livros de história, o rei Guezo só concordou em retirar Daomé do tráfico de escravos em 1852, por conta da pressão feita pelo governo britânico em cima de suas colônias. A partir de então, o reino passou a focar na produção de óleo de palma, que era bem menos lucrativo.

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Com a insuficiência econômica para sobreviver, Ghezo retomou o tráfico de escravos, seguido por seu sucessor e seu filho e sucessor, o rei Glele, durante as décadas de 1850 e 1860. Os africanos escravizados desta época eram enviados especialmente ao Brasil e Cuba, conforme remontam os registros históricos.