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Outkast

André "3000" Benjamin, metade mais excêntrica do OutKast, fala sobre o bluesman Howlin' Wolf, maconha, a vida em Los Angeles e seu par de botas preferido

Austin Scaggs Publicado em 21/08/2007, às 14h19 - Atualizado em 02/09/2007, às 22h42

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Benjamin garante que o OutKast não se separou e que foi ele quem ensinou o parceiro Big Boi a enrolar baseado - Rankin
Benjamin garante que o OutKast não se separou e que foi ele quem ensinou o parceiro Big Boi a enrolar baseado - Rankin

"'Hey Ya!' não existiria se eu não tivesse ouvido The Hives"

Todo mundo sabe que André "3000" Benjamin e Antwan "Big Boi" Patton, do OutKast, compõem e gravam separados - é um acordo estranho, mas que funciona bem, como prova o álbum duplo Speakerboxxx/The Love Below, de 2003, que conquistou nove discos de platina nos Estados Unidos. A dupla executou a mesma estratégia no recente Idlewild, que serve como novo disco e trilha sonora de um longa-metragem de mesmo nome. No filme, em cartaz atualmente nos Estados Unidos, Benjamin faz o papel de Percival, um cantor de casas noturnas da década de 1930. Influenciado por jazz e blues de raiz, ele compôs belas canções como "Idlewild Blues" e "Mighty 'O'". Como era de se esperar, não há uma turnê prevista para divulgar o CD - 3000, para os íntimos, prefere passar o tempo compondo, atuando no cinema, tocando saxofone, criando roupas para sua grife e ocupado com seu passatempo número um: esquadrinhar o iTunes e o eBay. "Era divertido quando eu fazia turnês", conta, de sua casa, em Los Angeles. "Você está lá com seus amigos e a família e todo mundo só faz loucuras. Mas chegava sempre um ponto em que estava no palco e aquilo me entediava, eu começava a pensar em outra coisa. Vivo pela animação, pelas novidades."

Quando você começou a comprar discos?

Quando tinha uns 14 anos. Minha mãe trabalhava em um salão de beleza fazendo unhas e tal e eu sempre ia lá. Tinha todo tipo de pessoas - traficantes levando as namoradas, malandrões da vizinhança, pregadores de rua, muçulmanos e gente que entrava para vender perfumes, roupas roubadas e fitas piratas. Comprei fitas de grupos como Naughty by Nature, Geto Boys, Brand Nubian, A Tribe Called Quest e Chubb Rock.

Como é o seu estúdio caseiro?

Fica no meio da sala. Faço produção desde ATLiens (disco do OutKast de 1996) e tenho todo o equipamento que venho acumulando desde então - sintetizadores, pianos elétricos, guitarras, baixos, uma bateria DW tigrada de colecionador, baterias eletrônicas e alto-falantes espalhados por todo lado. Tenho pôsteres de todos os meus favoritos: John Coltrane, Hendrix, Beatles, Led Zeppelin, The Doors, Bob Marley e Prince.

Big Boi fuma mesmo toda a maconha do OutKast ou ele libera um pouco para você?

O engraçado é que, no começo, Big Boi não fumava muito. Ele estava se concentrando para terminar o ensino médio - as notas dele eram ótimas. Eu é que fumava tudo. Acordava, enrolava um baseado e passava o dia inteiro fumando. Mas um dia ensinei Big Boi a enrolar baseado e, desde então, ele não parou mais [risos]. Eu parei de fumar há dez anos, de beber também.

Você está fazendo aula de sax?

Eu simplesmente peguei um sax e comecei a acompanhar as músicas nos discos. Quando estávamos filmando Idlewild, o Angelo, vocalista do Fishbone, me mostrou muitas coisas no sax. O Fishbone era a banda de apoio do filme, então a gente ficava lá no set só viajando.

Mas você já domina o sax?

Tento inventar minhas próprias melodias e, se estou ouvindo outra coisa - como "The Young Rabbits" dos Jazz Crusaders -, meio que vou tocando junto como se fosse um segundo instrumento, entrando na onda, porque não sei as notas certas. É bom tocar junto com James Brown, porque os metais dele eram as coisas mais simples do mundo, mas o importante mesmo era a sensação. Era uma jam animada, bem diferente de Coltrane, que simplesmente joga as notas em cima da gente.

Qual é seu filme preferido sobre música?

Teria de responder Beat Street [1984, não lançado no Brasil]. Queria ser o Lee, personagem do filme, quando eu era moleque, ele tinha um estilo bem louco. A gente ia para a escola tentando falar como se fosse de Nova York e essas merdas.

Você já pensou em morar em Nova York, em vez de Los Angeles?

Estou tentando chegar lá. Acho que minha marca de roupas vai acabar me levando até Nova York. Adoro o ambiente de lá, principalmente no calor, quando todo mundo sai para a rua. Mas em Los Angeles há bons restaurantes vegetarianos, o clima é bacana e as mulheres são lindas.

Qual é a peça de roupa de que você mais gosta?

Tenho um par de botas marrons John Varvatos na altura da canela. Já mandei arrumar a sola quatro vezes - está sempre nas últimas. O pessoal que anda comigo sempre tira sarro.

Algum show mudou sua vida?

Não diria que mudou minha vida, mas há um tempo fui a Nova York ver os Hives. Meu vôo atrasou e só consegui assistir aos últimos 20 minutos, quando eles tocaram todas as músicas que eu adorava. A certa altura eles estavam fazendo a maior jam e pararam juntos, na hora certa. Ficaram paralisados na mesma pose durante um minuto. Ninguém se mexia, o suor pingava e eles pareciam estátuas. Não precisavam tocar merda nenhuma, a platéia estava enlouquecida. Quando retomaram a música, com tudo, o show passou para um nível totalmente diferente. A platéia ficou louca, louca, louca! "Hey Ya!" não existiria se eu não tivesse ouvido The Hives.

Você concorda comigo que "Hey Ya!" é a melhor música do século 21?

Caramba. Sei lá, cara. Muita gente pode contestar sua afirmação.

Você consegue pensar em algo melhor?

Não.