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UDORA

Após exílio nos Estados Unidos, quarteto mineiro se redescobre em português.

Pablo Miyazawa Publicado em 16/05/2011, às 12h44

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De LA a BH: Gustavo Drummond(o segundo da direita para a esquerda) e a última formação do Udora - Divulgação
De LA a BH: Gustavo Drummond(o segundo da direita para a esquerda) e a última formação do Udora - Divulgação

"O mais importante hoje é o entendimento com o nosso público"

Já era hora de voltar para casa e ser compreendido pelas pessoas." Soa como um lamento, mas Gustavo Drummond não poderia sentir-se mais realizado. A uma semana de embarcar para o Brasil após um período de cinco anos em Los Angeles, o vocalista e guitarrista do Udora parece pronto para recriar a carreira em seu país de origem. Enquanto muitas bandas sonham com carreiras internacionais, o grupo mineiro, que já se chamou Diesel, projeta o caminho inverso. Na bagagem, um disco cantado em inglês (o ótimo Liberty Square), mais de uma centena de shows e dividendos oriundos de sua música (o hit "The Beautiful Game" virou tema do canal ESPN local). No entanto, as aspirações atuais do Udora já miram o mercado brasileiro. Difícil, a decisão veio sem arrependimento: após um curto hiato durante os últimos meses do ano, a banda promete ressurgir em 2007, morando em Belo Horizonte e cantando só em português.

Não é coincidência o fato da saga do Udora remeter a manjadas histórias de rock'n'roll baseadas em Hollywood. Como Diesel (o nome foi deixado de lado a "pedido" da grife italiana homônima), o grupo venceu o festival Escalada do Rock, o que resultou em um show no Rock in Rio 3 e na promessa de lançamento de um disco pela Trama. A segunda metade do prêmio jamais se realizou. "O disco nunca foi lançado. Qualquer hora vamos lá na Trama cobrar", brinca Drummond, parente distante de outros Drummonds mineiros mais famosos. "Não assinamos com ninguém no Brasil porque nunca abrimos mão de cantar em inglês." Acompanhado do guitarrista Leo Marques, do baixista TC e do baterista Jean Dollabela, Drummond voou para Los Angeles em 2001, sem contratos ou promessas e inspirado pela possibilidade de êxito internacional, algo já saboreado anteriormente pelos conterrâneos do Sepultura. Chegaram a morar dentro de um carro, entregaram pizza, venderam sapatos e lavaram carros enquanto ensaiavam e faziam shows esporádicos. A insistência rendeu contrato com a gravadora J Records, mas o disco foi arquivado por "não ter viabilidade comercial", segundo Drummond. Já com novo nome, mais experiente e adequada à realidade local, a banda direcionou esforços para bancar um disco independente. Lançado em 2005, Liberty Square (alusão-homenagem à praça da Liberdade, cartão-postal de Belo Horizonte) traz guitarras pesadas, belas melodias e refrãos de apelo fácil. Para desavisados, soa "gringo" (graças ao sotaque perfeito de Drummond) e recheado de influências variadas. "Ouço Queen, The Clash, Police, Nirvana, Tom Jobim e Beto Guedes", cita, "além de The Killers, Wolfmother e até Fall Out Boy, a melhor banda californiana da atualidade."

Dez mil cópias vendidas e mais de 150 shows em território americano não foram suficientes para eliminar o estigma de ser "um estranho em terra estranha". "Foram anos intensos e estressantes. Demorou para vivermos de música, precisamos de novos ares", diz Drummond. Porém, foi o distanciamento cultural que fez a diferença. "Por mais que meu inglês se desenvolvesse, há um lance de identificação natural. Não freqüentei a high school, cresci vendo Trapalhões na TV. Precisaria de uns cinco anos para estabelecer um elo com os americanos." A exaustão causou uma baixa: Jean Dollabela deixou o grupo em abril e hoje substitui Iggor Cavalera no Sepultura. "A coisa estava difícil para ele, queria ver a filha que mora no Brasil e não podia", explica o vocalista.

Mais do que matar a saudade, o retorno ao Brasil serve como tentativa desesperada de reaproximação cultural. "Meu desejo é cantar minhas histórias e ser compreendido. Talvez largar o que construímos pareça burrada, mas nada agora é mais importante que o entendimento com o público." O pequeno intervalo não é visto como férias para Drummond, que compõe como se não houvesse amanhã, para projetos paralelos e para o Udora. "Fiz mais de 30 músicas nesses tempos. Minha idéia é só ter tempo para dormir", brinca. E faz promessa: "Este é só um tempo para respirar. O Udora não acabou e nunca vai acabar".