Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

Monno

Distorções quânticas para o mundo pop

Márcio Cruz Publicado em 17/08/2007, às 14h35 - Atualizado em 11/09/2007, às 11h40

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
O monno , de Belo Horizonte: (da esq. para a dir.) Bruno, Guilherme, Euler e Gustavo - Divulgação
O monno , de Belo Horizonte: (da esq. para a dir.) Bruno, Guilherme, Euler e Gustavo - Divulgação

Por trás de um sorriso fácil e fixo e de uma voz quase sempre embargada, o vocalista do quarteto monno, Bruno Miari, 27 anos, esconde uma personalidade sensível e um flerte com o desconhecido. Sempre bem-humorado e com uma queda por interjeições empolgadas, é difícil acreditar que aquele seja o dono da voz e da persona perturbada incorporada nas performances do grupo de Belo Horizonte (MG).

Formado por Miari (vocal e guitarra), Euler Teixeira (baixo), Guilherme Coelho (guitarra) e Gustavo "Koala" Simoni (bateria), o monno (grafado com letras minúsculas) lançou um EP homônimo no final de 2005, carregado de guitarras pesadas, influências de bandas como Sonic Youth e Nada Surf e letras inspiradas em relacionamentos, fenômenos paranormais, física quântica e outras experiências que vão além da compreensão dos homens.

Ou pelo menos da maioria. O mix inusitado garantiu para a banda um lugar cativo na programação do circuito de rock independente no eixo Belo Horizonte-Rio de Janeiro-São Paulo e rendeu a participação no festival Pop Rock Brasil de 2006 (o maior do gênero na capital mineira), com cerca de 3 mil pessoas entoando os versos do principal sucesso, "Nada de Mais".

A performance de Miari no palco, um transe semelhante a uma mistura de Thom Yorke com Chico Xavier, evoca o desconhecido e remete à teoria da projeciologia (ciência que estuda experiências fora do corpo) e temas como EQM (experiência de quase morte), bioenergias e autoconsciência. Toda essa inspiração mística surgiu das conversas do vocalista com uma tia. "Sempre falo com ela sobre alguns desses assuntos", conta, fazendo uma pausa para citar outras de suas influências: "Tem esse cara, o Valdo Vieira, que trabalhou muitos anos com Chico Xavier e criou uma teoria sobre a projeção dos corpos astrais. Tem isso, fora o fato de eu gostar muito de física quântica e do [físico austríaco] Fritjof Kapra".

Ao mesmo tempo, Bruno fala com naturalidade de suas experiências em relacionamentos amorosos. Grande parte das músicas do primeiro EP foi baseada em vivências com uma ex-namorada, e são justamente essas que garantem a resposta mais forte do público no quadro de recados do site da banda. "Foi meu primeiro relacionamento, e muitas das letras são palavras que eu pensei que ela pudesse estar dizendo para mim." Esse é o caso de "Lugar Algum", que descreve os momentos em que o casal passava longos períodos trancado dentro de seu quarto. "Tem um tanto a ver com o que estávamos vivendo e com a melancolia do rock'n'roll", explica, justificando o tom reflexivo das melodias.

Os versos das letras do Monno - todas em português - quase nunca rimam entre si, o que não é nenhum demérito, pelo contrário. Somadas ao som distorcido das guitarras de Miari e Coelho, elas parecem ampliar as percepções, como acontece no longo silêncio que antecede a faixa sem nome revelada aos 10 minutos e 28 segundos de "Um Dia".

Com sete músicas, o novo EP dos mineiros deve sair em setembro. "O disco está vindo mais dançante, com uma roupagem mais atual. A gente está superansioso. Agora vamos para a fazenda fechar a última música", adianta Miari, referindo-se ao estúdio móvel onde gravaram o novo disco. "Essa faixa é a ovelha negra por ser folk e por sair do quarteto duas guitarras, bateria e baixo."

O resultado da dedicação do monno pode ser conferido no recém-lançado single "Carta pra Depois" (uma porrada com baixos distorcidos e bateria altíssimos e dobras de vocal inebriantes), que também traz a balada "Agora". Ambas as faixas já podem ser conferidas nos shows do banda, cujo principal ingrediente é a sempre performática apresentação de Miari. "Quando tocamos ao vivo, dá um branco e deixo as coisas rolarem", conta. "Eu queria que todo mundo pudesse ter essa experiência um dia, de subir no palco e extravasar."