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Relacionamentos, Índia e burocracia: M.I.A. conta os bastidores de um dos melhores discos de 2007

Brain Hiatt Publicado em 21/09/2007, às 17h10

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"Apenas tentei fazer algo que não existia" - Susanna Howe
"Apenas tentei fazer algo que não existia" - Susanna Howe

Maya "m.i.a." Arulpragasam passou a última virada de ano em um gueto em Baltimore (Estados Unidos), onde participou de uma tradição local de gosto duvidoso: perto da meia-noite, a rapper e cantora cingalesa apontou uma arma para o céu e disparou. "Me senti mal", conta M.I.A., 30 anos, que foi persuadida a puxar o gatilho pelo seu anfitrião na cidade, o produtor gangsta Blaqstar, que trabalhou em três faixas de seu novo disco. Ela ficou com medo de que a bala pudesse "ricochetear em algum lugar, acertar um passarinho, atravessar uma janela e acertar uma velhinha".

Nenhuma velhinha foi maltratada durante a realização de Kala, uma mistura complexa de batidas eletrônicas pulsantes, percussão indiana e sirenes que remetem a bombardeios. Ao longo do caminho, M.I.A. esteve em cinco países, conduziu um grupo de 25 percussionistas de rua indianos, enfrentou um término de relacionamento com um namorado que foi também um de seus produtores e recebeu assistência diplomática de Bono Vox, vocalista do U2.

M.I.A. toma café em seu apartamento, na região barra-pesada de Bedford-Stuyvesant, no Brooklyn (Nova York). Na parede perto do banheiro, há um recorte de jornal amarelado que traz uma manchete que explica muito de sua vida ultimamente: "EUA recusa visto para rapper por causa de sua música".

Parece que o governo norte-americano estava pronto para encontrar o pior em M.I.A.: suas letras flertam com o apoio à luta armada pelos oprimidos do mundo e ela declarou publicamente - de brincadeira - que era "uma refugiada terrorista do Terceiro Mundo" e que seu pai foi membro dos Tamil Tigers, um grupo que usava homens-bomba contra o governo do Sri Lanka. Em março de 2006, a imigração dos Estados Unidos lhe negou um visto de trabalho quando planejava começar a gravar seu segundo disco com Timbaland. Ela finalmente conseguiu seu visto em julho, depois que Bono interveio junto a oficiais do governo sob o comando do presidente da Interscope-Geffen-A&M, Jimmy Iovine.

M.I.A. nasceu na Inglaterra, mas sua família logo se mudou de volta para o Sri Lanka, onde ela passou os dez anos seguintes graças à guerra civil. "Minha formação psicológica foi determinada por aqueles dez anos." Uma de suas lembranças é a de soldados batendo em sua porta e procurando por seu pai: "Minha mãe estava grávida do meu irmão e o exército veio interrogá-la. Eles bateram nela". Ela se mudou para Londres aos 10 anos, onde morou em um conjunto habitacional - lá, um vizinho irlandês apontou uma faca e lhe roubou seu rádio. Ela começou a escutar o hip-hop que tocava no rádio do vizinho, o que ajudou a definir seu futuro. "Eu ficava louca para conhecer tudo sobre aquela música", conta.

Quando o assunto é seu ex-namorado - o DJ e produtor Diplo -, ela fica atrapalhada e derruba o café. Antes do lançamento de seu primeiro disco, Arular (2005), Diplo produziu a primeira mix tape de M.I.A., Piracy Funds Terrorism (2004). Eles começaram a sair, mas acabaram se sentindo mais concorrentes do que colaboradores. Ela diz que Diplo recebe muito crédito por seu sucesso. "Por que ele é homem? Eu fui lá e bati na porta dele. Ele teve sorte." Diplo responde: "Eu a fiz estourar nos Estados Unidos. Ela sempre volta e me pede ajuda". Ele lamenta que as pressões da carreira tenham arruinado o que poderia ser uma relação perfeita: "Se ela trabalhasse em uma lanchonete, eu teria casado e tido filhos", diz. "Mas ela tem sangue de popstar - e é difícil namorar uma popstar."