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Parque de Diversões do Rock

Reformulado e domesticado, o festival Lollapalooza reinventa seu lugar na música

Mateus Potumati Publicado em 21/09/2007, às 18h01

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Eddie Vedder, do Pearl Jam: eternamente engajado - Janaína Félix
Eddie Vedder, do Pearl Jam: eternamente engajado - Janaína Félix

Em 1990, o vocalista Perry Farrell queria fazer uma turnê de despedida para sua banda, o Jane's Addiction. Unindo de megalomania a um sincero espírito comunitário, ele agregou grupos do efervescente underground norte-americano - além de excentricidades como um circo de bizarrices e números de monges shaolin - e transformou o réquiem do grupo em um festival itinerante que cortaria o país de leste a oeste. Em dois anos, seu Lollapalooza se consagrou como o Woodstock daquela geração, traduzindo e alimentando a revolução comportamental que tomou os Estados Unidos.

Encerrado em 1997, o Lollapalooza ressurgiu há três anos, com novo formato e perspectiva. A edição de 2007, ocorrida de 3 a 5 de agosto no Grant Park (centro de Chicago), o consolidou novamente como destino obrigatório do verão norte-americano. Mais do que isso, completou sua transição de ícone da contracultura para um rentável negócio. Mediante um acordo de US$ 5 milhões fechado entre Farrell, a produtora C3 Presents e a prefeitura de Chicago, o evento será parte do calendário oficial da cidade pelo menos até 2011. Cada um dos oito palcos leva o nome de uma empresa, que em alguns casos ainda estende sua marca a outros pontos do parque. A empresa de telefonia AT&T oferecia um "oásis" onde o público podia se refugiar no ar- condicionado e pegar gratuitamente miniventiladores (que tinham pouco efeito sob o calor de 35 graus). Também de graça, quem fosse até a tenda PlayStation podia testar os videogames da Sony. Mais do que o hype corporativo, porém, causou controvérsia a área VIP. Por até US$ 75 mil (preço da diária de uma tenda para 30 pessoas), privilegiados tinham direito a ar-condicionado, bufê e open bar. Diante das regalias, os ocupantes pouco pareciam se importar com a visão lateral e distante que tinham do palco.

Mas nem tudo na reedição do Lollapalooza é posicionamento de mercado. A responsabilidade ecológica esteve em alta, dos copos biodegradáveis ao abaixo-assinado contra a poluição do Lago Michigan. Boa parte dos shows contou com tradução simultânea para deficientes auditivos. Nem as crianças ficaram de fora: uma tenda "Kidzapalooza" oferecia aos minirroqueiros de cortes de cabelo punk a shows especiais com o elenco do filme Escola de Rock. A política foi abordada por alguns artistas e teve seu auge no show do Pearl Jam, quando um veterano da guerra do Iraque foi levado ao palco.

Musicalmente, o Lollapalooza mantém sua tradição de diversidade, unindo estilos e expondo artistas em ascensão ao público de nomes consagrados. Grupos como The Hold Steady, Clap Your Hands Say Yeah, LCD Soundsystem e Lupe Fiasco fizeram apresentações históricas. A julgar pela multidão que os aguardava, o show do Cansei de ser Sexy, cancelado por um vôo atrasado, também prometia.

O fato de o evento acontecer em Chicago também não é acaso: além de ter "a melhor estrutura para shows no país" (conforme as palavras de Perry Farrel), a cidade tem uma notável estrutura hoteleira e de transportes, o que se traduziu em 167 mil pagantes nos três dias e prateleiras de discos e suvenires vazias na noite de domingo. Se o novo Lollapalooza ainda causa estranheza aos mais ortodoxos, ele cumpre o papel essencial de um festival: unir uma banda ao seu público. E, assim, Perry Farrel dá seu jeito de permanecer relevante.