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O Escudo

A Guerra nas Estrelas era uma fantasia da era Reagan. Com Bush, agora é o mais caro sistema de defesa antimíssil da história o homem. Ele nunca foi testado com sucesso. Jamais será terminado. E tornou-se completamente desnecessário

Jack Hitt Publicado em 11/02/2008, às 14h14 - Atualizado em 22/02/2008, às 15h58

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A plataforma de petróleo que virou o SBX, o maior radar de defesa do mundo - AP/Imageplus
A plataforma de petróleo que virou o SBX, o maior radar de defesa do mundo - AP/Imageplus

I. churrasco no mar

A churrasqueira do escudo de defesa de mísseis dos Estados Unidos localiza-se voltada para a proa da unidade marítima de radar. Ela está em uma saliência, próxima dos barcos salva-vidas laranja-claros tipo James Bond. O chef, um cara de avental branco enrugado, começa a mexer no carvão. O Pentágono me liberou para visitar o Escudo. E então voei ao Havaí para uma visita ao radar SBX, ancorado no estaleiro de Pearl Harbor, para reparos. Até agora, no entanto, as informações que consegui são extremamente cautelosas - não hostis ou duvidosas de qualquer maneira - mas muito cuidadosas e consentidas. O engenheiro que conduz a visita no local não pode se identificar, e todos os seus comentários são em off.

Em nossa comitiva também estão três ou quatro burocratas cujos nomes não foram informados e cujos propósitos permanecem obscuros. No máximo, são vultos. Toda a conversa ocorre nesse delicado espaço de disponibilidade cuidadosa e monitorada, o gravador do assessor de imprensa agitando-se no espaço cada vez que abrimos as bocas. Então, quando saímos para céu aberto e o grupo barulhento de oficiais se concentra perto do parapeito, imediatamente começo a conversar com o chef. Logo estamos bem próximos do churrasco de costela de porco que assa em fogo lento - me sinto como se tivesse sido temporariamente enviado de volta ao planeta Terra. Claro que o chef não pode fazer um churrasco de verdade por aqui - tudo o que tem é essa grelha padrão. A primeira fascinação que a churrasqueira exerce sobre mim é, simplesmente, o fato de ela existir nesse ambiente.

Como a maioria dos norte-americanos, agarro-me à idéia de que a defesa antimísseis - o sonho de Ronald Reagan de um domo de segurança armado com um agrupamento de foguetes, lasers e interceptadores da era espacial, que poderia abater qualquer míssil disparado pelo "Império do Mal" - ainda é, em sua maior parte, teoria, noções irreais rabiscadas em um quadro-negro qualquer, nada além de uma enrolada disputa política nos talk-shows de domingo.

Não imaginava o quão real, em termos de informática, a coisa inteira se tornou. O escudo de defesa de mísseis norte-americano está funcionando a todo vapor. Uma das realizações menos anunciadas da administração Bush foi uma ordem sua de 2002, instruindo o Departamento de Defesados Estados Unidos a parar de perder tempo testando os equipamentos para saber se realmente irão funcionar e posicionar o Escudo de uma vez. O SBX é a parte do sistema que, de acordo com os projetistas, irá apontar a trajetória de um míssil balístico intercontinetal (ICBM) se aproximando e direcionar em sua trilha de vôo um interceptador de alta velocidade, que existe e já está escondido e em estado de alerta - em silos no Alasca e na Califórnia. No último verão, quando os norte-coreanos dispararam alguns mísseis, os Estados Unidos ligaram o Escudo. E o sistema foi aprovado.

Os silos interceptadores no Alasca são tripulados por uma unidade permanente da Guarda Nacional. O SBX tem duas equipes completas trabalhando em escalonamento rotativo e constante. Eles têm uma academia de ginástica muito bem equipada e dizem que uma TV de tela plana está para chegar. A bordo, estão em casa, confortáveis. Esse é meu ponto: o Escudo tem uma churrasqueira de jardim.

Você lê "O Escudo" na íntegra na edição 17 da Rolling Stone Brasil