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O punk brega acabou. Wander Wildner agora é o "Gonzo"

Marcelo Ferla Publicado em 11/02/2008, às 14h27 - Atualizado em 13/02/2008, às 11h53

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Rui Mendes
Rui Mendes

Wander Wildner, o homem que não consegue ser alegre o tempo inteiro, morreu. É bom contar logo para Alexandre, zelador do prédio do bairro paulistano de Perdizes onde mora o músico gaúcho de 48 anos nascido em Venâncio Aires, a capital da erva-mate, que peregrina pelo mundo desde criança, quando a família mudou para Porto Alegre (capital dos que moram no Sul do mundo), e acumula São Paulo, Rio de Janeiro, Novo Hamburgo, Florianópolis e Guarda do Embaú no passaporte virtual de seus lares passageiros. Quase tudo é passageiro na vida desse velho beat, ex-vocalista do Replicantes - quarteto punk que ganhou notoriedade nos anos 80 -, que desde os 90 voa em carreira solo. É bom contar logo para Alexandre, o zelador, porque o filho de seu José Luiz, ex-funcionário da gráfica do jornal Correio do Povo, e de dona Judith, professora, ex-colega de escola de Elis Regina, não existe mais. "'Seu' Wander é uma pessoa, como assim posso dizer, muito fashion", definiu Alexandre enquanto eu esperava o elevador.

Minutos depois, descobri que o cara que me recebeu em casa naquela tarde abafada, com um bigode anos 70 de fazer inveja a Chuck Norris emoldurando a dentadura que remete a Shane McGowan está desconstruindo o estereótipo que atraiu fãs ardorosos Brasil afora em nome de um artista muito menos elegante. E bem mais feliz. O Wander Wildner fashion era o baladeiro que propagava o amor e suas dores pelo circuito alternativo nacional, o punk brega em extrato puro. Sua fase Waldick-Soriano-encontra-Joe-Strummer compreende discos lançados entre 1996 e 2005: Baladas Sangrentas, Buenos Dias, Eu Sou Feio&Mas Sou Bonito e Paraquedas do Coração, além das coletâneas Ritmo da Vida e 10 Anos Bebendo Vinho, e do Acústico MTV Bandas Gaúchas (com Bidê ou Balde, Cachorro Grande e Ultramen). "Wander é um artista que amamos na MTV", diz Anna Butler, diretora de relações artísticas da emissora musical. "Ele é único, tem uma personalidade forte, não tem medo de se arriscar. Isso é raro."

Nada raro é vê-lo acumulando trabalhos. Simultaneamente, há dois novos a caminho, para fechar o ciclo amar-demais-ser-um-bom-rapaz-foi-o-meu-mal: o DVD Uma Noite no Ocidente (em fase de edição), gravado ao vivo em Porto Alegre; e o CD La Canción Inesperada (em fase de mixagem), com faixas inéditas de estúdio. Além de Wander (guitarra e voz), as bases foram gravadas com o baterista Rodrigo Barba (ex-Los Hermanos) e o baixista Flu (ex-De Falla).

"Cansei do Wander Wildner, ele ficou muito o cara do punk brega", dispara Wanderley Luiz Wildner, a pessoa física que me abriu a porta do apartamento de dois quartos com dependência de empregada - onde guarda o figurino de muitas camisas floridas, calças de couro e ternos xadrez que estão sendo aposentados - com um sorriso largo e um disco do Beastie Boys como trilha sonora. Logo ele relativiza e diz que, de alguma forma, La Canción Inesperada já aponta para o novo caminho: "É um disco velho para mim, mas é novo musicalmente, não se trata de um trabalho romântico", analisa. "Gravei as bases e dei as faixas para o Berna [Cepas] e o Kassin produzirem, e só depois botei as vozes. Quando ouvi o que eles fizeram, quase não reconheci as músicas." E Kassin continua: "É uma evolução dos primeiros discos dele, com trumpete, cello e um conceito mais pensado. Talvez seja o primeiro álbum de verdade dele".

Você lê "O Jogador" na íntegra na edição 17 da Rolling Stone Brasil