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Imagem e Som

Pernambucanos do Julia Says brincam com instrumentos inusitados, sons eletrônicos e cenas de alto impacto

Márcio Cruz Publicado em 09/06/2008, às 12h47 - Atualizado às 18h16

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Diego (à esquerda) e Pauliño: energia e letras filosóficas
Diego (à esquerda) e Pauliño: energia e letras filosóficas

Os pais do Julia Says (seus integrantes a tratam assim mesmo, como a uma criança), A. Diego, 25, alto, vestindo bermuda e tênis, e Pauliño, 22, mirrado, de calças e chinelos, aguardam sentados na varanda da Casa das Rosas, em São Paulo.

A dupla, que me escolta em um atribulado passeio pela Avenida Paulista - e está no final de uma miniturnê de divulgação de seu EP homônimo -, não parece se importar com o ensurdecedor barulho das obras de restauração das calçadas e dos canteiros. Eles sorriem quando sugiro que adotem as britadeiras como instrumento musical, à la Tom Zé (eles já o fazem com garrafas), e abusam do "pronto", tradicional conectivo pernambucano.

O Julia Says faz pontes musicais, emotivas e memorialistas entre as coroações ao Rei do Congo e os ritmos da Zona da Mata, se utilizando de programação eletrônica, internet, plug ins e instrumentos pouco usuais.- Diego é de Olinda, Pauliño, de Recife. O resultado desse encontro, somado às bem-vindas influências de Tom Zé, Gorillaz e Mombojó, contribuíram para a formação de um som energético com letras filosóficas. É o que acontece em "Barulhos".

"A gente gravou trechos inteiros e depois foi passando a tesoura para criar o arranjo", diz Diego, sobre a faixa. "Depois fomos recortando e colocando nas partes certas para encaixar. Bem experimental mesmo."

Batizada sob a inspiração do personagem principal do romance infanto-juvenil A Casa das Idéias, de Henrique Pedro Velludo, a banda foi criada em agosto de 2007 e aposta em temas complexos para suas letras, como a utilização da mídia por organizações terroristas. Diz "Mohamed Saksak", uma colagem de sons feitos ao vivo e outros reproduzidos eletronicamente: "Ele não tem nome, ele é apenas um suicida. (...) Será que ele matou por ideais, ou será que ele matou pela notícia nos jornais. (...) Ele é natural da cidade de Gaza. Eu sou natural da cidade de Goiana, Zona da Mata". O videoclipe, gravado em Recife e dirigido por Igor de Lyra (e disponível no YouTube), mostra um terrorista suicida pelas ruas da cidade e correndo por um canavial. O "atrevimento" rendeu à banda uma "quase" perseguição policial. "Passou um helicóptero quando estávamos gravando o clipe. Daí entrou um carro no canavial e achei que fosse do dono da propriedade. Quando vi, era o 190: 'Que é isso aí?'", lembra Diego. "A gente explicou que era um trabalho para a faculdade sobre choque cultural. Porque, se falasse que era clipe, teríamos que explicar muito mais coisa."

A pequena Julia fez sua segunda apresentação no festival Páteo do Rock, em outubro de 2007, e, um mês depois, fechava a distribuição de um EP pelo selo Bazuca Discos. Três meses depois, despontava como destaque do Rec Beat. O show foi ilustrado por trechos do filme Sonhos (1990), de Akira Kurosawa, e colagens de autoria de Igor de Lyra e da videomaker Milena Sá.

"A gente gosta dessa relação de unir som a imagem", explica Pauliño. "Tem o The Wall, do Pink Floyd, o Kraftwerk tocando 'Music Non Stop'... eles conseguem. São imagem e som, sem separar", explica Pauliño. "Um dia podemos fazer um negócio desses", finaliza Diego.