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As Armas e os Barões Assinalados

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Por Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá Publicado em 23/09/2008, às 16h26

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Infelizmente um país não se faz apenas com homens e livros, como queria o escritor Monteiro Lobato. Mais certo estava Camões em cantar aqueles que "entre gente remota edificaram novo reino". Os exércitos e a indústria bélica estão na gênese da maior parte das nações, e o Brasil não é diferente. Mesmo sem uma "guerra de independência de Portugal", os militares sempre tiverem papel preponderante na história do país, como mocinhos ou como bandidos. É um triste fato que as guerras impulsionam o desenvolvimento. Se Napoleão não tivesse invadido Portugal, o Brasil não teria virado a sede do Império Lusitano e talvez só se libertasse junto com as outras colônias portuguesas na África nos anos 1970. "Coincidentemente", a história da indústria de defesa no Brasil se inicia exatamente com a vinda da família real em 1808. Foi no dia 13 de maio daquele ano que o príncipe regente Dom João fundou a "Fábrica de Pólvora da Lagoa Rodrigo de Freitas", próxima ao Forte de São Clemente, onde hoje fica o Jardim Botânico carioca.

Depois da independência, Dom Pedro I iria transferir as instalações para o município de Magé em 1825. Ainda hoje funciona lá uma das cinco unidades de produção da Indústria de Material Bélico do Brasil - IMBEL, empresa pública vinculada ao Ministério da Defesa e controlada pelo Comando do Exército. Foi neste local, com mão-de-obra escrava, que se produziu toda a pólvora utilizada nos fogos de artifício da coroação de D. Pedro II. E também todos os explosivos utilizados pelas forças brasileiras durante o banho de sangue da Guerra do Paraguai. O conflito de 1864 a 1870 contra as tropas do presidente paraguaio Francisco Solano Lopez, aliás, foi a única grande guerra regional do continente e a que teve maior participação de forças brasileiras em toda a história.

"Obviamente é quando as ameaças são mais visíveis que há um investimento maior na indústria bélica", avalia o almirante Carlos Afonso Pierantoni, vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança - ABIMDE. "Por causa da Guerra do Paraguai, chegamos a ter, em 1910, a 4ª maior esquadra de combate do mundo, formada principalmente por navios de fabricação inglesa. Mas quando finalmente nossas forças foram combater na I Guerra Mundial, o conflito já estava no fim". Ainda assim, foi na esteira do primeiro embate global, com a impossibilidade de comprar armas dos Estados Unidos e da Europa, que surgiram os primeiros fabricantes nacionais de espingardas (Boito) e de revólveres (Rossi), além da fabricante de munições CBC. Já durante a II Guerra Mundial, o núcleo do poder mundial havia atravessado o Atlântico e, em vez de contarmos com equipamentos ingleses, foi a vez de combatermos com armas, carros e navios norte-americanos. "A Marinha ainda tinha navios de fabricação inglesa e o exército usou alguns equipamentos franceses, mas o grosso mesmo viria dos Estados Unidos", conta o Almirante Pierantoni.

Mais uma vez, foi um conflito que impulsionou a modernização do Brasil. Para fazer parte do "esforço de guerra" ao lado dos "Aliados", Getúlio Vargas engoliu sua clara preferência pelo "Eixo" e recebeu o dinheiro e a tecnologia norte-americanos para a construção de nossa primeira siderúrgica, a Usina de Volta Redonda, pilar de toda a industrialização nacional, em especial da indústria automotiva. Em contrapartida, as armas e equipamentos made in USA, seriam a base das forças armadas nacionais pelas próximas décadas. Esse quadro somente iria começar a mudar com o golpe de 1964. "O Brasil vive de mitos, como a supremacia apenas no futebol e não a potência imperialista que os outros países do continente enxergam, e sempre viu a questão da defesa como algo secundário, com picos apenas na Guerra do Paraguai e no Tenentismo" alega Nelson During, do Defesa.Net. "Um dos mitos é que os Estados Unidos apoiaram o golpe militar". "Ao contrário, com a 'revolução', tivemos restrições impostas pelos Estados Unidos para manter o equilíbrio militar na América Latina, que eles consideram até hoje 'seu quintal', e rompemos o acordo de cooperação, o que nos permitiu ampliar nosso território marítimo para 200 milhas e hoje temos esse espaço para os novos campos de petróleo", acrescenta o vice-presidente da ABIMDE. "Além disso, com o aumento dos investimentos no setor de defesa para 5% a 6% do PIB no período, pudemos construir indústrias com capacidade de competir com as grandes do mundo, como a Engesa até os anos 1980 e a Embraer até hoje".