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O Brasil que o Mundo Vê

Na busca por repercussão e boa reputação, cinema brasileiro tem vida dura no exterior

Pablo Miyazawa Publicado em 14/10/2008, às 12h17

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Sucesso local de <i>Tropa de Elite</i> ainda não se refletiu no mercado norte-americano - Divulgação
Sucesso local de <i>Tropa de Elite</i> ainda não se refletiu no mercado norte-americano - Divulgação

Em abril, o filme Os desafinados, um apaixonado tributo à bossa nova dirigido por Walter Lima Jr. e ambientado parte em Nova York, parte no Rio de Janeiro, teve sua primeira exibição pública - no festival Cine Ceará, em Fortaleza (CE). Quatro meses depois, o cineasta fluminense compareceu a outra exibição aberta do longa. O palco, desta vez, foi o cartão postal nova-iorquino Central Park, cenário de uma das principais seqüências do filme. Co-escrito pelo próprio diretor, Os desafinados foi rodado em 2005. Entre o início das filmagens e sua estréia nacional, em 29 de agosto de 2008, se foram mais de três anos e meio.

"Inicialmente, queríamos lançá-lo no Brasil em maio", Lima Jr. conta, à mesa de um bar de hotel em Manhattan, dois dias após a exibição ao ar livre, assistida basicamente por brasileiros residentes na cidade. "Por que não lançamos? Porque havia três blockbusters para estrear só naquele mês [Homem de Ferro, Speed Racer e Indiana Jones 4]". Ele continua: "Nosso país tem 2 mil salas. Quando esses filmes grandes entram, tomam 400 salas cada um. Sobram 400 para os restantes. O mercado foi estrangulado, as salas viraram igrejas, supermercados. Você tem que brigar por um espacinho".

Se as produções internacionais podem atrapalhar a vida útil de um filme brasileiro em sua própria terra natal, o mesmo pode ser dito quando o terreno a ser explorado é o estrangeiro. Lutando constantemente por espaço e expressividade, o cinema nacional ainda depende mais da atuação e boa vontade das distribuidoras do que de seus próprios méritos para garantir desempenhos satisfatórios no mercado internacional. Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles e Katia Lund, pode ser considerado um exemplo expressivo de longa brasileiro que deu certo lá fora graças a uma série de ações bem-sucedidas, potencializadas pelo apelo global do enredo e sua bem produzida exploração da chamada "estética da pobreza". Se fosse possível eleger um sucessor natural de Cidade de Deus, esse seria Tropa de Elite.

Produção brasileira mais vista de 2007 (2,4 milhões de espectadores nos cinemas), o longa do carioca José Padilha rendeu R$ 20,3 milhões, graças ao impulso de uma campanha viral gerada pela venda do filme em camelôs. Se a expectativa da indicação ao Oscar 2008 não se concretizou - O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias foi escolhido para representar o Brasil na disputa -, a repercussão internacional foi formalizada com o prêmio máximo no Festival de Berlim. O Urso de Ouro parecia estabelecer as chances de Tropa em Hollywood, e criou a expectativa de que a história do Capitão Nascimento receberia um cuidado especial de sua distribuidora nos Estados Unidos, a TWC (The Weinstein Co.), afim de conseguir um lançamento com repercussão e possíveis indicações ao Oscar 2009. Não foi exatamente isso que aconteceu.

A tão alardeada chegada de Tropa de Elite nos Estados Unidos, já rebatizado Elite Squad, aconteceu em 19 de setembro último, meses após o previsto e da maneira mais discreta possível - em uma única sala de cinema em Nova York. Coincidência ou não, a crítica local não poupou o filme. A revista Variety já o havia massacrado meses antes. Na semana do lançamento, o New York Times publicou uma resenha em que chamou o filme de "feio", "desagradável" e "de rasa profundidade" e lhe concedeu a nota mínima. "Na verdade, o lançamento nos Estados Unidos não foi planejado", dispara Padilha, se eximindo de qualquer responsabilidade.

"A TWC, que tinha os direitos de distribuição do filme, simplesmente os repassou para terceiros, que não se dedicaram muito, restringindo o lançamento a uma cidade." Dessa forma, a Zazen Produções, da qual o diretor é sócio, praticamente não teve influência nas decisões a respeito de como deveria ser a divulgação ou a distribuição. "De minha parte, fiz apenas uma entrevista por telefone. Fiquei com a impressão de que a TWC simplesmente não se interessou pelo filme nos Estados Unidos", lamenta.

Você lê esta matéria na íntegra na RS Brasil 25, outubro de 2008