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Mais celebrado artista de quadrinhos dos últimos 25 anos, Frank Miller fala sobre a primeira experiência solo como diretor em The Spirit

Por Pablo Miyazawa Publicado em 14/01/2009, às 11h05

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Frank Miller: novo da franquia <i>300</i> se chamará <i>Xerxes</i> - Divulgação
Frank Miller: novo da franquia <i>300</i> se chamará <i>Xerxes</i> - Divulgação

A primeira rodada de entrevistas com Frank Miller para a divulgação de The Spirit, em uma suíte do mítico hotel Waldorf Astoria, em Nova York, começou sem a presença do próprio: pouco acostumado a ser o centro das atenções, o renomado autor de histórias em quadrinhos de 52 anos chegou atrasado para falar sobre sua primeira experiência solo como diretor de longas-metragens. A obra em questão: um thriller de aventura estilizado e com toques surrealistas, estrelado por nomes como Samuel L. Jackson, Eva Mendes e Scarlett Johansson e inspirado na obra homônima do quadrinista norte-americano Will Eisner - falecido em 2005 e um dos mentores artísticos e espirituais de Miller. Hesitante e sem disfarçar a timidez, o criador de clássicos das HQs como O Cavaleiro das Trevas, Sin City, 300 e Ronin revelou detalhes sobre The Spirit, que estréia em 5 de fevereiro nos cinemas brasileiros.

Como você escolheu o elenco do filme?

Meu ponto de partida foi aquilo que eu e Will Eisner tínhamos em comum, que era o amor por Nova York e lindas mulheres. E para combinar com as mulheres, era preciso encontrar um cara boa pinta. E Gabriel [Macht, que interpreta o personagem-título] acabou se encaixando perfeitamente para o papel. No fim das contas, tudo deu certo.

Você aceitou o convite para dirigir The Spirit logo de cara?

Quando me convidaram, primeiro eu disse: "Não, eu de jeito nenhum mexeria no trabalho do meu mentor". Depois, mudei de idéia e resolvi que não deixaria ninguém mais encostar nesse filme. De alguma maneira, senti que era o melhor cara para o serviço, que eu entendia o trabalho de Eisner melhor do que qualquer um.

No filme, por que você mudou a origem do Spirit?

Eu não exatamente mudei. O que fiz foi pegar uma das principais histórias escritas pelo Eisner, "A Origem do Spirit", e a "exagerei" um pouco. Se eu fosse repetir cada detalhezinho que ele criou quando tinha seus vinte e poucos anos, eu jamais seria perdoado. Tive que definir um foco. Naquele tempo, Eisner era um experimentador, um inventor, e muito do que ele criou funcionou lindamente, brilhantemente. E muita coisa do que ele criou também era terrível. Sempre achei que a história da origem do Spirit que ele escreveu era um tanto descuidada, algo que ele criou só para dar uma origem ao personagem. Decidi dar um significado maior à história, para fazer do Spirit um herói com mais substância.

O que você gostaria que Will tivesse dito para você sobre o filme?

[Risos] Bem, eu ficaria bem feliz se Will Eisner me dissesse: "Fico satisfeito que ele não carrega uma arma... mas as garotas são lindas, e isso vai me ajudar a vender um monte de livros!"

Quantas vezes ele aparecia na sua cabeça durante as filmagens?

Pouco... apenas uma vez a cada minuto. Durante as filmagens, Deborah [Del Prete, produtora] e eu conversamos constantemente sobre Will e suas intenções para com o personagem. Eu cheguei a desenhar storyboards do filme inteiro - de vez em quando, duas vezes: um storyboard da maneira que eu teria feito a cena; depois, do jeito que Will a faria. Daí, o que acontecia é que acabávamos escolhendo o jeito que ele teria feito mesmo.

Quantos cortes diferentes você fez antes da versão final?

Deborah e eu trabalhamos como loucos no roteiro, inclusive durante as filmagens. Mas mantivemos na versão final quase tudo o que filmamos. Acho que só houve uma única cena removida inteiramente, umas coisinhas pequenas.

Vocês pretendem publicar os storyboards que você desenhou?

Sim, os storyboards serão publicados na forma de livro pela editora Dark Horse Comics em 2009, e já adianto que existem centenas de desenhos. O que eu fiz muito foi deixar a equipe rodando o filme, voltava para o apartamento onde estava hospedado e passava a noite alinhando as ilustrações. Assim, no dia seguinte, os atores tinham uma bela idéia do que seria filmado.

Quanto você dormiu entre um dia e outro de filmagens?

Muito pouco. [Risos]

Como compara sua experiência na direção em The Spirit com a de co-dirigir Sin City [2006] com Robert Rodriguez?

The Spirit foi muito mais difícil, porque eu estava fazendo o trabalho totalmente sozinho. [Em Sin City,] não havia me dado conta de quanto Robert Rodriguez trabalhava, cuidando de toda edição, a fotografia, e a produção. Mas também foi uma sensação incrivelmente prazerosa ver minhas próprias idéias serem levadas em conta e ter total acesso aos atores o tempo todo.

O escritor de quadrinhos inglês Alan Moore odeia todas as adaptações de suas obras para o cinema. Você, pelo contrário, se envolve, palpita, participa. Você acha que é diferente dele porque já pensa nas adaptações para o cinema quando produz as suas histórias?

Não penso exatamente na adaptação, porque já existe uma relação natural entre as duas mídias. Agora, acho que Alan e eu somos tão diferentes porque um de nós decidiu ser um diretor e o outro resolveu ser um crítico. [Risos]

Existe alguma outra história em quadrinhos que você gostaria de dirigir? Coisas produzidas por Will Eisner, talvez?

Na verdade, não. Eu não teria coragem de encostar no trabalho mais recente de Will Eisner. The Spirit combina perfeitamente comigo porque foi criado durante seu período romântico, e eu sou um cara muito romântico. O período naturalista dele, apesar de eu apreciar seu trabalho realizado nessa época, eu não me arriscaria a dirigir.

E suas próprias histórias, se arriscaria a dirigir?

Bem, eu estou planejando a seqüência de Sin City. Eu não gosto de falar de projetos que não estão totalmente garantidos, porque muitos nem chegam a ser realizados.

E os boatos sobre a seqüência de 300, é para valer?

É pra valer. Estou trabalhando nisso atualmente, escrevendo a história. A história vem antes de qualquer outra coisa.

Quando você decidiu que queria desenhar quadrinhos?

Quando eu tinha seis anos, entrei na cozinha da minha mãe segurando umas folhas de papel dobradas e rabiscadas, falando pra ela que iria fazer aquilo pelo resto de minha vida. Todos os personagens que desenhei podiam voar, tinham poderes e tudo o mais... Isso está no meu sangue desde que eu era uma criancinha.