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Lei Di Dai

A verdadeira rainha do dancehall brasileiro

Ricardo Franca Cruz Publicado em 16/05/2011, às 12h44

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Lei di Dai, à frente do QG imperial: dancehall contra as safadezas do mundo - André Porto
Lei di Dai, à frente do QG imperial: dancehall contra as safadezas do mundo - André Porto

O que eu canto sou eu, não tem personagem aqui." É da Vila Ré, na zona leste paulistana, que vem a voz feminina do dancehall, o reggae de bases originariamente eletrônicas que surgiu em 1985: "Filha de preto, original do gueto", Lei di Dai, "a rainha do dancehall no Brasil". Nascida Daianne Nascimento, foi criada na roda de samba que rola até hoje no bar dos pais na ZL - "Os primeiros reggaes eu ouvi dentro de casa com meu pai, que usava camiseta do Bob Marley e ficava dançando na sala" - e virou Lei di Dai no começo de 2006, depois de quase dez anos de correria cantando. Seu reinado é a noite paulistana, e mesmo sem computador em casa, o MySpace e o YouTube. "Dois conto na lanhouse e já era", diz o tecladista Lucas Alemão, da banda QG Imperial, grupo de apoio que sempre acompanha Dai e manda brasa nos chamados "riddims", bases prontas de dancehall para os DJs, como são chamados os MCs na Jamaica, encaixarem seus improvisos e refrãos.

Lei di Dai se destaca em uma cena reggaeira que, como a do hip hop no passado, floresce forte nos guetos do país, pronta pra ser colhida e fazer cabeça, corpo e mente de quem se deixar levar. "A gente tem uma cena na nossa mão, se marcar show mesmo sem cachê vem todo mundo", diz Rafael Dumdum, baixista da QG, formada ainda pelos bambas Daniel Kultcha Man (guitarra) e Fabrício Jah Fya (bateria). Sambatuh, mentor do QG na cultura rasta, e Jimmy Luv, da família 7 Velas, que pôs Dai no MySpace, são apenas dois dos nomes que, junto com ela e o QG, querem incendiar a Babilônia. Aos 29 anos, Lei di Dai acredita no poder de real transformação da música. "Eu canto sobre positividade para ensinar o povo preto das periferias sobre eles mesmos, sobre a África e a cultura rasta." Dai e a QG Imperial alugam uma casinha na Vila Ré - a "fya house" ("fya", o patuá jamaicano para o inglês "fire"; o fogo purificador e transformador, não só aquele que acende o do verdinho) -, onde armam eventos reunindo o povo do reggae e trabalham nas músicas próprias - "Trabalhar pra vampiro não tem condição/ O salário é mínimo e máxima a pressão", ela canta em "Original do Gueto". São vários cantores, sempre com a própria QG Imperial tirando altos riddims.

Recentemente, Lei di Dai registrou sua poderosa voz com outros bambas, desta vez do dub, os cariocas do Digitaldubs Sound System, que lançaram neste ano a celebrada primeira compilação de riddims brasilis, "Digitaldubs Apresenta Brasil Riddims Volume 1" (Muzamba). "Assim que eu desci do busão na rodoviária, já tomei um enquadro da polícia, que revirou minha bolsa atrás de erva, pode?", ironiza.

Dai diz estar "dentro das estatísticas da Babilônia": "Sou preta, pobre e desempregada. Mas agora tenho o dancehall". Artista feita, ela afirma e firma que nunca vai ceder às pressões do mundo das celebridades, que exige pesos e medidas certinhas e formas de violão. "Eu me adoro! Tenho mó presença, onde chego tudo pára." Durante nossa conversa na fya house, só um pedido: "Sem o QG Imperial eu não seria nada, eles têm de estar na foto comigo, sim?". Sim, Dai.