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Os Últimos Dias

Quinze anos após a morte do líder do Nirvana – a banda que chegou ao topo sem perder sua independência –, Kurt Cobain deixa um legado que ultrapassou o rock

David Fricke Publicado em 08/04/2009, às 10h37 - Atualizado em 20/02/2013, às 16h17

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PARA A ETERNIDADE
Morto aos 27 anos e elevado rapidamente a mito, Kurt Cobain deixou um legado artístico sem precedentes
na história recente - RETNA/GRUPO KEYSTONE
PARA A ETERNIDADE Morto aos 27 anos e elevado rapidamente a mito, Kurt Cobain deixou um legado artístico sem precedentes na história recente - RETNA/GRUPO KEYSTONE

Era a manhã de 8 de abril de 1994 quando o corpo de Kurt Cobain foi encontrado em Seattle, após seis dias desaparecido. Naquele instante, o líder e principal compositor do Nirvana não deixava apenas uma esposa - Courtney Love, uma filha - Frances Bean - e milhões de fãs órfãos ao redor do mundo: ele também entrava para o mítico e seleto grupo dos gênios da música que se foram cedo demais. Em uma entrevista longa e assustadoramente premonitória, ocorrida quase seis meses antes do suicídio (e a última que concedeu para a Rolling Stone EUA, o cérebro do Nirvana discorre com como vente sinceridade sobre fama, paternidade e o futuro de sua banda, além de admitir estar em um dos momentos mais felizes de sua vida.

Desarrumado e sem camisa, Kurt Cobain para no meio da escada que leva ao camarim do Nirvana, nos bastidores do Aragon Ballroom,em Chicago. Oferece a um visitante um gole do chá que tem nas mãos e diz, com uma voz sem expressão: "Estou muito grato por você ter vindo ao pior show de toda a turnê".E ele está certo. A apresentação dessa noite - a segunda das duas realizadas no local, na primeira semana da primeira turnê da banda nos Estados Unidos em dois anos - foi uma porcaria. A acústica cavernosa do lugar transformou até músicas mais corrosivas como "Breed" e "Territorial Pissings" em massas sonoras indistinguíveis,e Cobain foi atormentado a noite inteira por problemas no retorno do vocal e da guitarra. Mesmo assim, houve momentos de brilhantismo: o uivo rasgado de Cobain cortando o eco abismal no explosivo refrão de "Heart-Shaped Box" ; uma versão atordoante de "Sliver". Mas eles não tocaram "Smells Like Teen Spirit" e, em troca, receberam vaias quando as luzes se acenderam.

De acordo com a imagem de Cobain perpetuada pela imprensa - "irritadiço, reclamão, esquizofrênico descontrolado",como ele mesmo coloca com precisão -, o cantor e guitarrista de 26 anos deveria ter demitido o técnico de som, cancelado esta entrevista e voltado para o hotel revoltado. Em vez disso, passou o pós-show no backstage paparicando sua filha Frances Bean, uma bela e sorridente garotinha loira de 1 ano. Mais tarde, de volta ao hotel e armado com um maço de cigarros e duas garrafas de água Evian, Cobain aparece pensativo, com dificuldades para explicar que o sucesso não é exatamente uma droga - pelo menos não tanto quanto costumava ser - e que a vida anda muito bem. E melhorando.

"Foi tão rápido e explosivo", diz, com a voz sonolenta e grave, sobre sua primeira crise de autoconfiança, ocorrida em conseqüência do sucesso fulminante de Nevermind (1991). "Não sabia como lidar com aquilo. Se houvesse um curso do tipo 'rock star para principiantes', teria me inscrito. Poderia ter me ajudado."

"Ainda vejo descrições de rock stars em algumas revistas- 'Sting, o cara do meio ambiente', e 'Kurt Cobain, o chorão, neurótico que odeia tudo, o estrelato, sua própria vida'. E é engraçado, porque nunca estive tão feliz. Especialmente na última semana, já que os shows têm ido muito bem - tirando o de hoje. Sou um cara muito mais feliz do que as pessoas pensam.

"Cobain percorreu um caminho longo, cheio de obstáculos,para atravessar todo o último ano e chegar até aqui. A produção de In Utero (1993), esperada sequência de estúdio de Nevermind, foi assombrada por mudanças de título e de faixas na última hora, além de uma desavença entre a banda, a gravadora Geffen e o produtor Steve Albini sobre o potencial comercial do álbum - ou a falta dele. O casamento de Kurt com Courtney Love - munição de primeira para os fofoqueiros de plantão desde que o casal trocou votos em fevereiro de 1992 - esteve nas manchetes novamente em junho, quando ele foi preso em Seattle, supostamente por ter atacado Love durante uma briga doméstica. A polícia encontrou três armas na casa,mas nenhuma acusação foi feita e o caso foi arquivado.

Você lê esta matéria na íntegra na edição 31, abril/2009