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Cidadão Independente

Guitarrista requisitado, Fernando Catatau esquece de tudo quando se trata de seu Cidadão Instigado

Por Leonardo Dias Pereira Publicado em 08/09/2009, às 18h47

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Cidadão Instigado, com Fernando Catatau à frente - ROBERT ASTLEY SPARKE
Cidadão Instigado, com Fernando Catatau à frente - ROBERT ASTLEY SPARKE

Assim que saltou do táxi, Fernando Catatau me cumprimentou e se desculpou pelo ligeiro atraso naquele que era o último compromisso de seu dia - totalmente consumido pelo último ensaio na banda do músico Otto, um dos vários para os quais ele empresta a sua guitarra virtuosa (Vanessa da Mata e Instituto são alguns dos outros). Mesmo preocupado em agilizar suas malas e todas as coisas para a viagem que faria com o pernambucano no dia posterior numa turnê pelos Estados Unidos, o assunto em pauta envolvia seu principal cartão de visitas: o Cidadão Instigado, banda liderada por ele e composta ainda por Régis Damasceno (guitarra e vocal), Rian Batista (baixo e vocal), Clayton Martin (bateria) e Kalil Alaia (engenheiro de som e responsável pelos barulhinhos eletrônicos e efeitos nos shows).

"Eu toco em vários projetos e com vários artistas, mas a minha prioridade sempre vai ser a banda. São quase mais de dez anos e é nela que eu dirijo a minha criatividade", diz ele. Em 2005 o álbum Cidadão Instigado e o Método Tufo de Experiências, segundo da banda, impressionou por sua originalidade, colocando no mesmo caldeirão eletrônica, indie rock e pitadas de música brega - trinca evidenciada numa rápida zapeada nos discos empilhados na beirada da sala de Catatau, de artistas como Kraftwerk, Jesus & Mary Chain e Genival Santos. Aliás, "brega" é um termo que ele considera como uma maneira preguiçosa de classifi car sua arte. "O pessoal se apegou àquelas duas músicas do disco ['O Pobre dos Dentes de Ouro' e 'O Pinto de Peitos'] e fica repetindo isso, que tem música brega e tal. É música romântica apenas. Se fosse assim, a gente teria que dizer que 'Changes' do Black Sabbath, também é música brega."

Depois de quatro anos de expectativa, a banda finalmente lança agora, graças ao Prêmio Pixinguinha patrocinado pela Funarte vencido por eles, Uhuuu! "A gente costuma falar isso entre a gente", despista Catatau, mas bem que o título poderia simbolizar o alívio de um apuro passado durante as gravações: "Com a verba do projeto, resolvemos fazer algo mais caprichado e gravamos num gravador analógico, com fita de rolo e tudo o mais. Mas perdemos toda a primeira etapa por conta de um problema no gravador", revela. O prejuízo só não foi maior porque boa parte das novas músicas já vinham sendo tocadas nas apresentações e o jeito "foi começar tudo de novo", diz Catatau, com toda a sua simplicidade.

As composições de Uhuuu! apresentam uma faceta mais acessível, quase pop, da banda, com músicas de refrãos grudentos, como de "Escolher pra Quê" e "Como as Luzes". "Não sei se estamos tão mais acessíveis. Talvez o que tenha contribuído para isso seja o fato de eu estar cantando mais neste álbum, já que no anterior era quase tudo meio que falado." Para quem foi aconselhado a parar de cantar na primeira apresentação, até que Fernando Catatau chegou bem longe. "Terminamos o show e um cara veio falar que o som era demais, mas que precisávamos de um vocalista", se diverte. Quando retornar da turnê com Otto, a banda pretende excursionar para divulgar Uhuuu! Mas, pra quem pensa que os festivais independentes serão o foco, o Cidadão mostra seu lado indignado: "Acho esses festivais e a entidade que os organiza [Abrafin] uma máfia. São sempre as mesmas bandas e toda vez que nos chamam é pra fazer show quase de graça. Não tenho mais idade pra desvalorizar a minha música. Até brincamos entre a gente que vamos fazer a Abramim - Associação Brasileira dos Músicos Independentes".