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Dudu Bertholini

Estilista e jurado de TV, ele não quer perder sua personalidade para o mundo da ficção

Por Carina Martins Publicado em 10/12/2009, às 17h54

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FORA DO GUETO - Bertholini não quer fazer roupas para um público específico - Divulgação
FORA DO GUETO - Bertholini não quer fazer roupas para um público específico - Divulgação

Dudu Bertholini morre de medo de virar um personagem. Para o risco, colabora o fato de há duas temporadas expor em um reality show a sua figura alta, falante, vestida sempre com o mesmo estilo que propõe para as mulheres poderosas de suas coleções e com o cabelão de dar inveja em qualquer dependente de chapinha às vezes solto, às vezes metido em turbantes. Mesmo assim, o medo até agora é bobagem: mesmo com participação fixa no Brazil's Next Top Model, no canal pago Sony, é mesmo como estilista da Neon que Dudu é reconhecido, e cada vez mais.

Você começou a se destacar profissionalmente muito cedo, quando ainda era um estudante de moda. Onde você acha que acertou de cara?

Numa combinação de ousadia com humildade. Honestamente, acho que é isso. Nunca tive medo de trabalhar, catar alfinete, carregar sacola. Achava que valia para estar perto das pessoas que eu admirava. Comecei meu primeiro estágio na minha primeira semana de aula na faculdade. Trabalhava no Phytoervas Fashion, e trabalhei um ano sem ganhar um puto. No final, eu era um dos poucos estagiários que tinha ficado até o evento em si, e isso já tinha me rendido um emprego bom na produção. Mas, ao mesmo tempo que catava alfinetes, já ia fazendo o meu próprio trabalho. Na semana em que eu estaria me formando - não terminei o curso até hoje -, eu apresentei meu primeiro desfile na São Paulo Fashion Week

Quais você acha que são os maiores erros dos estudantes de moda e clichês dos jovens estilistas?

Os estudantes acham que por serem universitários e criativos são mal aproveitados, que não podem arrumar a sala, catar alfinete, buscar cafezinho. É um erro, porque você buscar cafezinho e dar palpite pro seu chefe são coisas que devem estar no mesmo nível. Já o maior erro dos jovens estilistas é separar a criação do desenvolvimento da parte prática da coisa. Uma boa ideia tem de estar atrelada à realização. Uma criação sem estrutura é uma criação utópica. Se ele tem jeito para fazer camisetas e começa fazendo camisetas inteligentes tem muito mais chances de dar certo do que achar que tem que fazer uma alfaiataria complicadíssima.

A Neon é uma marca de estilo muito forte. Você tem medo que em algum momento isso acabe se voltando contra a criação e a grife vire refém da própria identidade?

Toda marca corre esse risco, assim como todo artista em todas as áreas. A fórmula que faz o sucesso pode ser seu próprio veneno. O segredo é manter sua identidade e se renovar ao mesmo tempo. Por outro lado, a informação de moda hoje é muito segmentada, não existe mais aquilo de tendência, as marcas não querem ser boas em tudo. Tem que ter identidade própria para sobreviver ao mercado, tem que criar uma personalidade, e os clientes vão atrás das marcas com cuja personalidade se identificam. Não tenho medo de virar refém, seria como se eu fosse refém de mim mesmo, e isso não vai acontecer.

Com esse grau de comprometimento com um visual específico, dá para pensar em como aquilo vai se adaptar às consumidoras? Ou o que se espera é criar um desejo para que as consumidoras se adaptem a ele?

Você tem que estar em sintonia com seu mercado, entender o preço, as questões geográficas etc. Não é você que cria e as pessoas que se adaptam. Não.

Como você se sente vendo uma criação sua sendo usada por alguém em quem ela não fica bem ou sendo mal usada?

Quando você cria, está sujeito à interpretação das pessoas. Tem surpresas positivas e negativas, mas ver alguém interpretando sua roupa sempre é legal. Você só sabe que seu negócio deu certo quando pessoas de esferas diferentes da sua entendem o que você está fazendo, senão é só um gueto. Sempre vai acontecer de ver alguém usando algo que não está caindo bem, assim como às vezes você vê mulheres lindas ou usando as peças de forma que você não espera. Mas tem que admirar. O mau gosto, aliás, é uma coisa de que eu gosto, tem um ponto de vista, um humor. Prefiro o mau gosto à falta de gosto.

Como está sendo a experiência de ser jurado do Brazil's Next Top Model pelo segundo ano?

Eu admiro muito a profissão de modelo, para mim pose é algo muito importante, até mesmo na minha personalidade. Por isso acho que modelo pode até ser burra no sentido de não ter cultura geral, mas sempre vai ter que ser sensível e ter uma inteligência corporal. Mas para mim a experiência no programa é uma novidade, porque estou acostumado a vender meu trabalho, algo sobre o qual eu tenho controle total. E em um programa de TV você é só uma parte do produto.

Apesar de ser relacionado à moda, é um programa de TV e as personalidades acabam virando personagens. Você tem medo de que isso acabe criando uma imagem sua sobre a qual você não tem controle?

Tenho. Isso é uma questão que eu tive mais antes. Agora eu acho que já tenho controle suficiente disso, mas sem dúvida há um medo muito forte. Mas acho que quem me conhece como estilista não vai mudar a imagem que tem de mim. E quem não conhecia passa a conhecer - olha que coisa boa para minha marca.

Quem precisa de um personal stylist urgente?

A Dilma [Rousseff ].

*O programa Brazil's Next Top Model é exibido pelo canal pago Sony, às quintas, às 21h (clique aqui para saber dia e horário das reprises). O episódio desta quinta, 12, conta com a participação especial de Ricardo Franca Cruz, editor-chefe da Rolling Stone Brasil.