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Importação em Alta

Momento econômico favorável põe Brasil na rota dos megashows internacionais

Carla Navarrete e Gonzalo Navarrete Publicado em 13/08/2007, às 17h37 - Atualizado em 31/08/2007, às 19h27

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Rolling Stones em Copacabana: Brasil vira mercado para as megaturnês - Guto Costa
Rolling Stones em Copacabana: Brasil vira mercado para as megaturnês - Guto Costa

U2, Pearl Jam, Franz Ferdinand, Black Eye Peas, Daft Punk, Yeah Yeah Yeahs, The Strokes, Coldplay, Linkin Park, 50 Cent, New Order... a lista das atrações internacionais que desembarcaram no Brasil nos últimos tempos indica uma fartura para todos os públicos e gostos. Para as gerações que viviam em um deserto de atrações internacionais na década de 80 ou que testemunharam um fluxo irregular na década de 90, o atual período passa a impressão de que o Brasil definitivamente entrou no circuito internacional dos grandes shows. Apesar de ainda bem distante da variedade e freqüência de mercados como o europeu, o norte-americano e o asiático, o Brasil tem dado passos eficientes para se inserir no contexto internacional.

Para as cinco grandes empresas especializadas na produção de shows internacionais no país, uma série de fatores econômicos explica o momento favorável: dólar baixo, crescimento do mercado de entretenimento (incluindo a tendência mundial de migração do bolo publicitário para o patrocínio de shows e espetáculos culturais) e a união regional entre produtoras do Brasil, Argentina, México e Chile para gerar volume de público e conseguir trazer as turnês mundiais para a América Latina.

"Há poucas empresas colocando dinheiro no mercado de entretenimento e de cultura. Estamos restritos aos bancos e operadoras de celular. Está bom, mas poderia estar melhor", analisa Pedro Bianco, presidente da produtora Dançar, uma das pioneiras em marketing cultural, que envolve desde a contratação dos artistas até a viabilização e a prestação de contas de incentivos fiscais. Em um mercado relativamente pequeno e onde a concorrência é acirrada, não existe um nicho específico para a atuação de cada produtora. De fato, não é incomum que existam duas ou três empresas competindo pelos mesmos artistas, o que acaba elevando bastante o valor dos cachês. Porém, mais do que dinheiro, um dos principais empecilhos acaba sendo a agenda dos músicos, que dependem de brechas nas turnês internacionais mais rentáveis para tocar na América do Sul.

"É muito difícil um artista vir exclusivamente para o Brasil, então o fechamento do show depende de um pacote mínimo com Argentina e Chile. Nos EUA, os artistas podem fazer uns 30, 50 shows. No Brasil, são três ou quatro", explica William Crumfli, diretor artístico da Mondo Entretenimento, empresa responsável pelas recentes turnês locais de Jack Jonhson, Black Eyed Peas, White Stripes e New Order. A carreira de Crumfli começou nos anos 70, com festas em danceterias de São Paulo, e culminou com a organização do show do Queen em 1981, no Morumbi (SP), para 85 mil pessoas.

As produtoras são unânimes em admitir que a participação de patrocinadores é hoje fundamental para a concretização dos megashows no Brasil. Em muitos casos, as verbas originadas de empresas de telefonia móvel e fabricantes de bebidas chegam a corresponder a pelo menos 50% dos custos envolvidos em uma produção. "Na América Latina, os megaconcertos só se tornam possíveis quando existe o suporte do patrocínio. Um grande número de empresas tem na música um componente importante em sua estratégia de comunicação com os jovens", explica Luiz Oscar Niemeyer, dono da PlanMusic, que trouxe as últimas turnês de Moby (2005), U2 e Rolling Stones (2006) ao Brasil. Um dos pioneiros desse mercado, Niemeyer iniciou sua carreira na Artplan, de Roberto Medina, e foi coordenador-geral do primeiro Rock in Rio (1985), além de ter no currículo algumas edições do Hollywood Rock (1988, 90, 92 e 93), além de shows de Paul McCartney (1990), Eric Clapton e Bob Dylan (ambos em 1991).

Em média, a negociação para se trazer um artista internacional dura de três a quatro meses. Se a banda for do porte do Pearl Jam, as dificuldades são maiores. No caso do grupo de Seattle, a preocupação maior era com a segurança (em 2000, fãs morreram esmagados em um show na Dinamarca). "Eles não faziam mais shows para o público em pé, somente sentado. Só mesmo aqui que voltaram a fazer show em pé", explica Alexandre Faria, diretor artístico da CIE Brasil, empresa integrante de uma corporação internacional que atua também na Argentina, Chile, México e Colômbia, além de Estados Unidos e Espanha. Medir os riscos também faz parte do processo de escolha do artista contratado. "Nas décadas anteriores, dependia-se muito do retorno da bilheteria. O mercado hoje está mais maduro e profissionalizado. Antes da venda dos ingressos, já temos uma projeção de custos e uma receita coberta pelos patrocinadores", conta José Luis Volpini, sócio-diretor da Accioly Entretenimento, cujo mais recente projeto foi de peso: a banda irlandesa U2, em uma co-produção com a PlanMusic, de Niemeyer.

Garantida a viabilidade econômica, resta aos produtores ajustar as expectativas dos patrocinadores com as exigências dos artistas. "Este é um dos pontos mais críticos e nós ficamos bem no meio", explica Volpini, da Accioly. "Por um lado, o patrocinador quer colocar famosos com a sua logomarca em áreas vips. Já os artistas não querem ingressos caros nem áreas vips. É uma questão de respeito com os fãs e um terreno no qual ainda estamos aprendendo a pisar." Foi o que aconteceu na última passagem do U2 pelo Brasil, em fevereiro último, quando 175 mil ingressos evaporaram em questão de horas, fenômeno típico nos EUA. A área vip foi cancelada na última hora por exigência da banda e a parte dianteira do palco foi repassada para os fãs que chegaram com mais antecedência ao estádio do Morumbi, após dias de plantão no local. Produtores ainda enfrentam casos de excentricidade dos artistas contratados. "A maior bizarrice foi no caso do White Stripes, quando o Jack White pediu para organizarmos seu casamento com a modelo Kate Elson no encontro das águas do rio Negro e Solimões, com pajé e tudo", diz Crumfli, da Mondo. A banda abriu mão do cachê no show de Manaus, mas aproveitou para levar a MTV e realizar uma gravação no local.

Mesmo com a aparente "fartura" de megashows, ainda há megastars que continuam a fazer parte somente dos sonhos mais remotos dos fãs brasileiros. Os mais difíceis são naturalmente aqueles com cachês na casa dos US$ 5 milhões, como Madonna e Michael Jackson. Tanto a PlanMusic quanto a Accioly estiveram recentemente bem próximas de trazer a turnê "Confessions", de Madonna. "Apesar de ter tudo definido, antes do martelo final ser batido, assuntos de ordem pessoal fizeram com que os shows da América Latina não se concretizassem", lamenta Niemeyer. As versões para a desistência vão desde o fato de a cantora "querer se dedicar mais ao papel de mãe" até uma questão de 'custo x benefício': como a turnê já havia sido bem lucrativa, o esforço de um deslocamento até a América Latina seria dispensável. Quem sabe em 2007?

As principais produtoras de shows internacionais no Brasil

PlanMusic: Figurinha fácil nos festivais das décadas de 80 e 90, Luiz Oscar Niemeyer retornou ao circuito dos megashows com os caríssimos concertos do U2 e do Rolling Stones em 2006. Quem já trouxe: Moby, U2 e Rolling Stones?Quem vai trazer: Coldplay (fevereiro)

Mondo: Uma fusão das empresas W.A e Transe iniciada há cerca de três anos. "Temos um sócio em Miami, que analisa as propostas de bandas interessadas em descer para a América do Sul", diz o diretor artístico William Crumfli. Quem já trouxe: White Stripes, Black Eyed Peas, RBD, New Order. Quem vai trazer: Simple Plan (jan.)

CIE Brasil: Corporação que atua na Argentina, Chile, México, Colômbia e no Brasil (desde 1999, quando se associou à Stage Empreendimentos. Quem já trouxe: Pearl Jam, Red Hot Chili Peppers, Rush, Eric Clapton, Alanis Morissette. Quem vai trazer: Roger Waters (março)

Accioly: Em cena desde 2003, tem como foco associar artistas ao perfil dos patrocinadores, garantindo receita para a realização dos shows e retorno em termos de imagens para as empresas-clientes. Quem já trouxe: U2, Robbie Williams e DJ Tiesto.

Dançar: Com quase 25 anos no mercado, organiza espetáculos e eventos culturais para empresas do mercado corporativo, atuando desde a produção até a viabilização de incentivos fiscais. Quem já trouxe: Alessandro Safina e Bárbara Hendrix, Ray Charles, Jethro Tull, Suzanne Vega. Quem vai trazer: David Bowie