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De Volta e Maior do que Nunca

Uma década depois de seu último show, o patrono do indie, Pavement, prepara a turnê da volta

Por Gavin Edwards Publicado em 18/05/2010, às 15h13

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CRESCIDOS - (Da esq. para a dir.) Nastanovich, Malkmus, West, Ibold e Kannberg - JOHN CLARK
CRESCIDOS - (Da esq. para a dir.) Nastanovich, Malkmus, West, Ibold e Kannberg - JOHN CLARK

"É preciso um grupo especial de pessoas para permanecer junto em uma banda por mais de dez anos", diz o vocalista e compositor do Pavement, Stephen Malkmus. "Talvez você seja irlandês, ou seja casado, ou esteja disposto a passar por terapia, ou seja realmente legal. Mas nós não estávamos a fi m disso." Então, uma década atrás, durante o último show da banda, Malkmus pendurou um par de algemas simbólico no pedestal do seu microfone. "Estava todo mundo de saco cheio, quer admitissem, quer não."

Mas, para a surpresa do grupo, a pavementmania não parou de crescer na última década - e agora os cinco membros da banda estão juntos em um espaço para ensaios sem aquecimento em Portland, Oregon, a fim de ensaiar para a turnê de reunião, agora em 2010. O baixista Mark Ibold soube de tudo por meio de uma mensagem de texto de Malkmus: "Está rolando. Pode começar a ficar tenso".

Malkmus e o guitarrista Scott Kannberg (também conhecido como "Spiral Stairs") fundaram a banda em 1989, juntando guitarras barulhentas, melodias pegajosas e versos crípticos de palavra cruzada, como "protein delta strip" ("tira de proteína delta"). O Pavement gravou cinco álbuns e Malkmus despontou como um dos maiores compositores dos anos 90. A banda nunca ganhou muito dinheiro (ou sequer teve empresário), mas se destacou na cena independente, por onde espalhou uma extensa influência. "O Pavement foi a primeira banda que eu ouvi e que me fez pensar em como eles tiravam aqueles sons", diz Avey Tare, do Animal Collective. "E nunca tinha assistido a algo como eles em um show de rock. Estavam pirados, zoados e ainda assim era perfeito."

Quando os ingressos para o show de setembro, em Nova York, foram colocados à venda com um ano de antecedência, 20 mil deles foram vendidos em poucas horas. Ibold ainda está em choque. "Deus, vamos ter que fazer direito." A turnê, que começou em março, com datas na Nova Zelândia e na Austrália, segue para a Europa em maio e para os Estados Unidos, em setembro. Malkmus está ansioso pelo relativo conforto de uma turnê com o Pavement - com sua nova banda, o Jicks, Malkmus diz, "Viajamos de classe econômica".

Os shows do Pavement eram notoriamente instáveis - eram brilhantes ou displicentes. "Houve mais consistência conforme fomos atravessando os anos 90", diz o percussionista Bob Nastanovich. "Espero que este ano não tenhamos nenhum desastre humilhante. Uma das razões pelas quais estamos ensaiando novamente é tentar evitar um ataque de música ruim."

Para poder ensaiar para a turnê, o baterista Steve West precisou ligar para o selo do Pavement, Matador, e pedir cópias dos álbuns da banda. Nastanovich, por outro lado, escuta Pavement o tempo todo, porque é um dos grupos favoritos da esposa dele. Como ele diz: "Não acho que eu conseguiria arrumar uma namorada que não fosse fã do Pavement".

Depois de terminar a banda em 1999, Malkmus lançou quatro álbuns com o Jicks. Os outros voltaram à sua vida normal, como se o Pavement jamais tivesse existido. "Não consigo tocar com mais ninguém", diz Nastanovich, que tinha um papel pouco comum como percussionista, fazedor de barulho e hype man (uma espécie de apresentador, mais comum no mundo do rap). Ele conseguiu vários empregos na indústria das corridas de cavalo, como criador e agente de jóquei, entre outros. Kannberg lançou dois álbuns sob o nome Preston School of Industry e é proprietário de um bar em Seattle, embora esteja se preparando para se mudar para Melbourne com sua noiva australiana. West canta na banda Marble Valley e trabalha como pedreiro na Virgínia. Ibold toca com o Sonic Youth e trabalha de barman no Great Jones Cafe, em Nova York. Ele está preocupado em não perder muitos dias de trabalho - depois que o Pavement encerra o ensaio, ele costuma pegar o último voo para poder trabalhar

um turno no dia seguinte.

Em Portland, o Pavement caminha lentamente para o pequeno palco. A banda passa metodicamente por versões instrumentais de seu repertório. No intervalo entre as músicas, Malkmus lê o The New York Times e até faz as palavras cruzadas. Antes de cada música, Nastanovich diz o título para ajudar o iluminador: "Shady Lane", "We Dance", "Range Life". "Noventa por cento do show vai ser composto das músicas mais óbvias", diz Malkmus, "porque é isso que eu gostaria de ver como fã em um show de reunião".

No fim da tarde, a banda se solta. Eles brincam com uma cover de Mudhoney, "Touch Me I'm Sick", e começam a improvisar em "Debris Slide", do EP de 1991, Perfect Sound Forever. No começo é só um riff estridente, mas os caras prosseguem e o azem soar como um dos melhores ganchos da história do rock. Então eles vão dissecando a música em partes: só uma linha de baixo ou a guitarra de Kannberg. Depois ligam o motor novamente, adicionando estática e guitarra até que as ondas sonoras se choquem contra as paredes. No fim de dez mágicos minutos, Malkmus balança a cabeça e a música termina. Quando pergunto se o Pavement vai continuar depois da turnê, a maior parte dos integrantes diz algo diplomático sobre ver se ainda estarão se divertindo no fim do ano. Malkmus, entretanto, encerra o assunto com firmeza. "Estou fazendo coisas novas, todos nós estamos", diz ele. "É bom ver estes meus amigos, e é estranhamente bom dar um fim a essa coisa do Pavement. A banda não volta em menos de 20 anos depois disso."