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O Pescador de Ilusões

Soberano dos universos virtuais, Shigeru Miyamoto só quer criar games que não tornem o mundo um lugar pior

Por Pablo Miyazawa Publicado em 17/05/2010, às 18h15

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FOTO: PABLO MIYAZAWA; ILUSTRAÇÃO SOBRE FOTO: GERSON NASCIMENTO
FOTO: PABLO MIYAZAWA; ILUSTRAÇÃO SOBRE FOTO: GERSON NASCIMENTO

" O maior criador de games de todos os tempos." A informação é inquestionável, até mesmo pela concorrência: Shigeru Miyamoto, designer japonês de sorriso fácil, tem no currículo uma lista de proezas, da criação de ícones digitais - Super Mario, Donkey Kong e Zelda, entre outros - à elaboração dos principais recursos dos consoles Wii e Nintendo DS. Aos 57 anos, ele representa a cara da Nintendo, assim como Steve Jobs está para a Apple e Bill Gates para a Microsoft - com a diferença de que Miyamoto não é o dono, mas um dos mais ilustres funcionários da fabricante japonesa de videogames. Para junho, no evento Electronic Entertainment Expo (em Los Angeles), ele se prepara para apresentar uma revolução tecnológica à altura do que planejam as concorrentes Sony e Microsoft. O peso da responsabilidade, Miyamoto descarta sorrindo: "Não tenho tempo de pensar se errei. Minha energia está direcionada em como posso criar algo realmente novo".

Por que as pessoas gostam cada vez mais de games? Esse interesse está fadado a acabar?

Houve um tempo no Japão em que o mercado de histórias em quadrinhos começou a recuar. As pessoas diziam que era o fim da indústria e que ela nunca iria se recuperar. É claro que não foi o que aconteceu: houve uma mudança no conteúdo e hoje esse setor está mais forte do que nunca. Algo parecido está acontecendo com o entretenimento interativo, e em consequência com os games. Os games continuarão a existir, só que haverá uma mudança no papel dos games na sociedade e uma evolução no conteúdo proporcionado por eles. Mas a indústria, em si, irá continuar.

O futuro do entretenimento interativo está nas mãos de grandes empresas? Ou será responsabilidade de poucos indivíduos - como você?

As duas coisas. Eu enxergo as empresas como grupos de indivíduos, e acho que as produtoras de games são talvez diferentes estruturalmente, se comparadas às corporações tradicionais. Mas você sabe por que as produtoras são fundadas? É porque são formadas por pessoas que não conseguem realizar o que desejam sozinhas, então se reúnem para alcançar os objetivos comuns.

E a ideia de que a indústria musical será salva graças a jogos como Guitar Hero e Rock Band?

Boa pergunta. A indústria precisa mesmo ser salva? Como criador de games, a música faz parte de meu trabalho. Estamos sempre procurando maneiras de fazer a música se relacionar com os games. Mas não acho que está em questão o modo como podemos "salvar a indústria". Na verdade, não tenho pensado muito nisso.

Que tipo de jogos você acha que os meus netos estarão jogando em 50 anos?

Não sei se as coisas serão assim tão diferentes. Tem tantos jogos clássicos que continuam consagrados atualmente. As pessoas ainda jogam Tetris! A minha esposa joga Dr. Mario todos os dias. Esses games antigos continuam a existir e ainda possuem apelo. O que teremos daqui 50 anos será influenciado pela tecnologia usada nas TVs e nos computadores, e vai muito depender de qual mídia for a determinante no momento.

Você acha que os produtores de games, assim como os caras de empresas como o Google e o YouTube, serão as celebridades da geração do futuro?

Se vamos nos tornar os rockstars desta geração, é bom que a gente comece a ficar mais bonito, se vestir melhor... [risos]. É que artistas brilham quando fazem arte. Criadores de games brilham de modo diferente. Mais do que ver os criadores e produtores se tornando celebridades, eu prefiro vê-los se tornarem cada vez mais criativos. Acho tudo ótimo. Na verdade, sou grato de existir gente que goste tanto de nosso trabalho.

A Rolling Stone norte-americana recentemente chamou você de "o Bob Dylan dos videogames"...

Nem sei como considerar isso... [risos]. Mas esse tipo de comparação pode ser um pouco ofensiva para o Bob Dylan. Afinal, Dylan é um deus.

Também lhe chamaram de "Disney dos Games"...

Eu não fico lá muito confortável com essas comparações. É uma daquelas coisas que nem sei bem como reagir. Se eu me mostrar muito feliz com esse tipo de comparação, posso ser percebido como arrogante. Mas, se eu digo que não gosto da comparação, é frustrante, como se não houvesse boa resposta para isso. O fato é que as pessoas adoram fazer essas analogias, não é mesmo?

Você acha que os games podem mudar o mundo ou serão só mais uma forma de entretenimento?

Fundamentalmente, sim. Os games são uma forma de entretenimento. Mas, pessoalmente, tento criar jogos que não tornem o mundo um lugar pior. E procuro manter isso sempre na cabeça quando estou trabalhando.