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iPad: Aqui Não Pode

A nova invenção da Apple é objeto de desejo mundial – mas não pode ser aproveitada por completo no Brasil

Por Pablo Miyazawa Publicado em 20/07/2010, às 03h43

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ILUSTRAÇÃO: GERSON NASCIMENTO
ILUSTRAÇÃO: GERSON NASCIMENTO

Exatos 50 dias após o lançamento do iPad nos Estados Unidos, a Apple se tornou a empresa de tecnologia mais valiosa do planeta. O upgrade mercadológico (que deixou a Microsoft para trás) não foi mero acaso: menos de um mês após a chegada do novo aparelho às lojas, a empresa de Steve Jobs já comemorava a impressionante marca de um milhão de peças vendidas.

O número poderia ser mais vistoso, não fosse a dificuldade imediata do público médio em compreender para que diabos serve o iPad. A máquina, cujo preço varia de US$ 499 a 829 (dependendo dos recursos oferecidos) e que se assemelha a um celular iPhone tamanho família, possui tela de dez polegadas sensível ao toque e recursos semelhantes aos de um notebook: acessa a internet via wi-fi (os novos modelos também conectam via 3G) e permite a instalação de softwares - os "apps" - de variadas utilidades. Há desde ferramentas de leitura (que simulam a experiência de folhear livros e revistas) a softwares musicais, games, ferramentas de texto, mapas, tabelas de futebol e guias de cinema - em suma, tudo o que já pode ser realizado em um iPhone, mas sem a função telefone.

As coincidências entre os dois produtos vão além da aparência e dos recursos: as produtoras independentes que hoje desenvolvem aplicativos para o iPad já possuem experiência prévia com programas para o celular da Apple. E a tendência persiste entre as empresas brasileiras. "Não são apenas diferenças físicas como tamanho de tela e peso, mas de consumo também", compara Gustavo Ziller, sóciodiretor da agência Aorta, responsável por 20 aplicativos para iPhone e que produz atualmente três programas para o iPad. "Um exemplo são os textos longos de jornais: no iPhone, são inadequados para leitura; no iPad, são mais palatáveis."

"Em termos técnicos, não há diferença", adiciona Guilherme Coelho, sóciodiretor da ZeroUm Digital, empresa com 20 apps para iPhone no currículo (e dois projetos para iPad em andamento). "Com mais espaço na tela, é possível mostrar mais informações, trazendo flexibilidade na diagramação do conteúdo e possibilidades de interação com o usuário."

A quantidade de aplicativos (na loja online App Store, chegam à casa dos milhares) não é vista como um limitador para os produtores. "O segredo é se colocar no lugar do usuário", diz Douglas Kawazu, chefe de produto da Interactive Experience (seis apps para iPhone e alguns para iPad em projeto). "É pensar o que você gostaria que existisse no aplicativo."

"Antes do desenvolvimento, vale uma pesquisa na App Store, já que tudo que se imagina tem lá", ensina Simone Mozzili, sócia-diretora da Bubbledot, que trabalha em dois apps para iPad. "O aplicativo precisa acrescentar algo, para o usuário deixar de baixar um quase igual."

É muito graças à inventividade dos aplicativos que o iPad é considerado um possível propulsor de mídias já estabelecidas, como a TV, o cinema e os videogames. Alguns especialistas da indústria acreditam que a união de vários quesitos (tamanho da tela, recursos, praticidade) fará o público aos poucos abandonar as maneiras convencionais de navegar na web, consumir filmes e programas e jogar games - da mesma forma que o iPod quebrou paradigmas na música e o iPhone fez o mesmo pela telefonia.

Para os brasileiros que importarem o iPad, o grande problema é a atual falta de acessibilidade: para tirar o máximo do produto, é preciso cometer delitos. Uma vez que a loja online que comercializa aplicativos aceita apenas clientes residentes nos países onde o iPad foi lançado oficialmente (nos Estados Unidos e em alguns países da Europa), o usuário deve se cadastrar utilizando um endereço estrangeiro, além de usar um número de cartão de crédito emitido naquele país (uma alternativa são os gift cards, cartões que possuem códigos que são trocados por créditos na loja virtual). A Apple, por sua vez, teria parado de repor com rapidez os estoques de iPad, o que obriga o possível comprador a fazer uma encomenda e buscar o produto semanas depois. O motivo não declarado da escassez proposital seria evitar que turistas revendam o iPad ilegalmente em seus países.

Assim como acontece com qualquer produto de sucesso desenvolvido pela Apple, o iPad não está blindado das críticas. Uma das questões envolvendo a máquina é o fato de ela não rodar sites com a tecnologia Flash. Há também quem critique a ausência de uma câmera, os problemas de usabilidade ou o fato de o aparelho não ter nenhuma utilidade específica. As regras rígidas da Apple em relação ao conteúdo dos aplicativos também são alvo de reclamação - a empresa restringe programas que tenham conteúdo "inapropriado", de cunho sexual ou que ironizam figuras públicas. Mas nada parece perturbar os fanáticos pela empresa, que costumam organizar verdadeiras procissões diante das lojas para adquirir as novidades no dia do lançamento.

Por meio de sua assessoria, a Apple declarou que "ainda não tem data de lançamento" para o iPad no Brasil, mas é sabido que milhares de peças já foram importadas para cá desde 3 de abril. Além de resolver as limitações técnicas, o lançamento nacional (que deve ocorrer no segundo semestre) poderá ajudar a converter possíveis usuários ainda descrentes. "A pessoa se torna fã abissal do aparelho com cinco minutos de contato", diz Ziller, da Aorta. "Meu palpite é que vai bater as vendas de iPhone, competindo diretamente com netbooks e tablets.

"O iPad vai pegar, assim como aconteceu com o iPod e o iPhone", completa Rafael Prada, diretor de conteúdo da Interactive Experience. "É uma questão de tempo e, claro, preço."