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Ficha completa sobre o The Doors

Ray Manzarek e Robby Krieger recordam a amizade com Jim Morrison e comentam a biografia The Doors Por The Doors, que acaba de ser lançada no Brasil

Paulo Cavalcanti Publicado em 13/08/2010, às 16h46 - Atualizado em 20/05/2013, às 18h48

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Jim Morrison em foto publicada no livro <i>The Doors Por The Doors</i> (Editora Agir) - Paul Ferrara
Jim Morrison em foto publicada no livro <i>The Doors Por The Doors</i> (Editora Agir) - Paul Ferrara

Acaba de ser lançado no Brasil o livro The Doors Por The Doors, de Ben Fong-Torres (Editora Agir). Torres, que foi editor da Rolling Stone norte-americana nos anos 60 e 70, viu em primeira mão a banda despontar para o estrelato e se tornou amigo dos integrantes. Ele entrevistou novamente Ray Manzarek, Robby Krieger e John Densmore para o livro e costurou tudo com declarações feitas por Jim Morrison, o polêmico vocalista da banda, que morreu em 1971, na França, depois de sofrer uma overdose de heroína. O resultado é um panorama claro e vasto sobre trajetória e música da banda.

Torres também falou com o pai, George Morrison, e o irmão do cantor, Andy Morrison, um ponto alto para o livro, já que os familiares raramente se manifestam sobre ele. Agora na meia idade, os ex-membros do The Doors podem refletir sobre sua juventude e não se furtam em falar dos excessos que cometeram nos anos 60. Mas, em termos de excesso, ninguém batia Morrison. Os problemas de Morrison com a bebida sem dúvida atrapalharam muito a banda. Os ex-membros do The Doors deixam isso bem claro, mas também são carinhosos com o problemático amigo. Em uma conversa por telefone, o tecladista Ray Manzarek e o guitarrista Robby Krieger falaram sobre o livro, o legado do The Doors e, é claro, também recordaram Jim Morrison.

Ray Manzarek

Existem inúmeros livros sobre o The Doors. O que esse traz de novo?

Sem dúvida é o livro definitivo sobre a banda. Pela primeira vez conseguimos juntar todas as informações e opiniões sobre o The Doors e dar uma cara objetiva. A verdade está aqui. Tivemos a sorte de trabalhar com o nosso amigo Ben Fong-Torres e ele foi primordial em organizar mais de 40 anos de memória. Torres é um cara que pode seduzir pelas palavras, por isso ele foi o cara ideal para amarrar o livro.

Hoje Jim Morrison é um ícone. Mas deixando isso de lado, como você lembra dele?

Eu não lembro desse Jim Morrison que estampa camisetas. Eu lembro do meu amigo, do cara com quem estudei cinema, que andava na praia comigo viajando em ácido e falando de cinema e poesia. O cara com quem eu fundei uma banda de rock e com que eu dividia os quartos de hotel durantes as turnês.

Fale um pouco do infame show de Miami em 1969, quando Jim Morrison foi acusado de mostrar seu órgão sexual em pleno palco.

Bom, Miami foi uma espécie de alucinação coletiva. O público acreditou naquela coisa do "Rei Lagarto", que Jim Morrison era um ser dionisíaco que conduzia as massas para orgias. Mas ninguém apresentou nenhuma evidência, nunca apareceu uma foto de Jim mostrando o órgão sexual. Eu estava lá no palco ao lado dele, não vi nada. É que aconteceu em Miami, terra natal de Jim, no sul dos Estados Unidos, um lugar muito conservador. Jim ficou muito magoado de todas essas acusações terem partido justamente do local onde ele nasceu. A curto prazo isso nos prejudicou. Ninguém mais queria nos contratar, muitos promotores tinham medo que Jim "repetisse a dose".

Vocês pensaram em chamar alguém para o lugar de Morrison?

Sim, houve uma discussão a respeito logo após a morte dele. Nós gostaríamos muito de ter Joe Cocker e Iggy Pop. Imaginem The Doors com Joe Cocker! Mas ele era um grande astro, dificilmente toparia. Não achamos ninguém adequado e havia muita pressão para o grupo seguir em frente. Eu assumi os vocais meio na pressa. Eu sei que muita gente criticou meu jeito de cantar, as comparações com Jim Morrison. Logo vimos que a energia de antes tinha acabado e que no final seria fútil chamar alguém pra entrar no lugar de Jim. E fechamos as portas.

E o recém-lançado documentário When You're Strange? O que achou dele?

Para mim, é o complemento ideal para o livro. É narrado pelo Johnny Depp, o que pode ser mais cool do que isso? Falando sério, é o melhor registro visual sobre o The Doors. Acho que Tom DiCillo, o diretor, soube mostrar bem o outro lado de Jim, enfatizando seus interesse por poesia, literatura, cinema e teatro. E tem muitas cenas raras da banda, também.

Por que você acha que ainda existe tanto interesse em torno do The Doors?

A banda representa duas coisas: verdade e liberdade. Fizemos a música da geração que cresceu nos anos 60 e quebrou as barreiras políticas, sociais e sexuais. Presenciamos um monte de revoluções comportamentais. A banda marcou aqueles tempos em que a guerra do Vietnã comia solta e Martin Luther King era assassinado... Ouvir The Doors é como fumar o primeiro baseado.

Robby Krieger

O que você lembra do Jim Morrison?

Ah, Jim era um dos caras mais bacanas do mundo, mas somente antes de beber!

O que a meditação transcendental significou para a banda?

Eu, Ray e John nos conhecemos num curso de meditação transcendental. Foi muito bom, a prática da meditação ajudava a organizar os pensamentos e também serviu como fonte de inspiração para muitas músicas, especialmente do nosso primeiro álbum [The Doors, de 1967]. Com a meditação percebemos que não havia necessidade de tomar LSD para expandir a mente. Bom, não no caso do Jim. Ele praticou um pouco de meditação, mas continuou tomando LSD!

Como surgiu "Light My Fire"?

Eu não era compositor, nunca tinha me arriscado a escrever nada. Mas quando assinamos o contrato com a gravadora Elektra, houve uma pressão para que apresentássemos material próprio. Em 1967, se você só gravasse covers, estava morto no mercado fonográfico. A ideia para "Light My Fire" surgiu quando eu pensei nos quatro elementos, terra, água, fogo e ar. Fogo, com certeza era o que pegava. Eu criei a melodia e a letra, mas todo mundo contribuiu, especialmente Ray, que veio com aquele grande arranjo.

O que vocês sentiram quando Jim foi para Paris, local onde acabou morrendo em 1971?

Nós ficamos felizes. Ele podia relaxar, ficar mais na boa depois de toda a confusão de Miami, com o processo em cima dele e tudo mais. Talvez ele voltasse de lá com coisas novas. As coisas estavam melhorando, tínhamos lançado o disco LA Woman [1971], que foi bem aceito. Mas começamos a ficar preocupados. Não tínhamos noção do que acontecia com Jim em Paris, não sabíamos que ele estava bebendo muito e abusando das drogas.