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As Alegrias do Sexo Vampiresco

Os vulgares e sensuais segredos por trás do sucesso da série True Blood

Por Vanessa Grigoriadis Publicado em 18/10/2010, às 20h31

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<b>SANGUE QUENTE</b> Alexander Skarsgård, Anna Paquin e Stephen Moyer, os protagonistas de <i>True Blood</i> - Matthew Rolston
<b>SANGUE QUENTE</b> Alexander Skarsgård, Anna Paquin e Stephen Moyer, os protagonistas de <i>True Blood</i> - Matthew Rolston

Há alguns anos, Anna Paquin não estava feliz. Ela viajava muito a trabalho, quase como uma cigana, e estava cansada de sempre ser chamada para interpretar a garota inteligente e articulada em filmes independentes. "Estava procurando algo diferente, um desafio", ela conta. "Tinha feito muitos papéis estranhos e [de personagens] torturados, queria tentar uma coisa nova." Por isso, agarrou a chance de interpretar Sookie Stackhouse, a garçonete caipira e telepata de True Blood, a série vampiresca da HBO - agora altamente bem sucedida, com mais de 12 milhões de telespectadores por semana nos Estados Unidos (em uma rede de TV paga!). "A Sookie é doce, boa e pode te arrebentar usando salto alto e vestido", diz a atriz de 28 anos. "Não é assim que as pessoas me viam." Ela ri um pouco, com a voz cheia de sarcasmo. "Sabe, a garota de cabelo escuro deve ser séria", afirma. É engraçado ver Anna, uma ativista de esquerda com uma rica inteligência emocional, dar uns amasses em um vampiro em True Blood, o que não deixa de ser uma empreitada imensamente tosca. Afinal, ela também é vencedora do Oscar - uma das atrizes mais jovens a ganhar esse prêmio - por seu papel em O Piano, de 1993, aos 11 anos. Antes disso, era uma garota que tocava violoncelo em uma cidade pequena da Nova Zelândia, com pais que insistiam em aulas de música erudita para os três filhos na esperança de que eles formassem um trio de câmara ("Éramos aquele tipo de família", conta) e, depois do sucesso do filme, ela voltou para a escola. "Comecei a trabalhar um pouco, até a atuação virar algo que eu estava procurando conscientemente, não uma coisa que meus pais me deixavam fazer para me divertir um pouco", diz.

Depois de estrelar em X-Men como Vampira, Paquin frequentou a Universidade de Columbia por um ano e morou em Nova York, onde quer ser "enterrada", conta, de tanto que ama a cidade. Estava preocupada por se mudar de volta para Los Angeles, onde nunca se sentiu confortável, porque é "no fundo uma garota gótica de 14 anos", afirma. "Eu era skatista - não era ótima, mas era boa em ficar com cara de tédio enquanto os meninos andavam de skate." Ela ainda escuta Metallica e Nirvana no fone de ouvido enquanto malha, e mal disfarça sua irritação com quem possa tentar obrigá-la a fazer algo que ela não queira - como o dentista, com quem se consultou na adolescência, que sugeriu que ela fechasse o diastema, espaço entre os dentes. "Enquanto ele colocava o dedo na minha boca e dizia que poderia consertar aquilo, eu pensava 'ok, e eu podia morder seu dedo agora mesmo'", conta.

Hoje, True Blood não só tornou Anna uma estrela maior do que ela era na época de O Piano, mas ela também conheceu o marido, Stephen Moyer, no set. Ele faz seu par amoroso vampiresco, Bill Compton, veterano da Guerra Civil norte-americana com quem Sookie perde a virgindade. Essa não é a grande única mudança de sua vida: há alguns meses, Anna Paquin causou polêmica quando decidiu se assumir bissexual, algo que afirma "não ser novidade" para ela, mas que sempre escondeu em Hollywood. Foi convidada para fazer um anúncio de utilidade pública pró-gays, no qual celebridades aparecem explicando por que apoiavam os direitos gays, e pensou: "Por que não?" Contaria a todos quem realmente era. "Não sei qual foi a reação, mas que bom que fiz isso", diz. "Há um impulso tão grande de transformar isso em algo sensacionalista, quando na verdade eu esperava dizer que é normal e nada interessante." Sorri. "Eu me sinto muito sortuda agora. A vida está ótima." Aí está: a liberação pode vir em vários disfarces, e às vezes até via uma série de TV novelesca e trash sobre vampiros.

O mito moderno sobre vampiros foi criado em 1816, quando alguns amigos, entre eles Lord Byron, seu médico John Polidori e Mary Shelley, foram a uma vila no lago Genebra para o verão. Chovia muito e havia nuvens de cinzas devido a erupções vulcânicas, então eles decidiram ficar em casa e se divertir lendo histórias de fantasmas uns para os outros. Isso não era suficientemente assustador, então Byron os desafiou a criar suas próprias histórias. Shelley, que tinha apenas 18 anos, sonhou com a ideia de Frankenstein. Polidori inventou uma história chamada "O Vampiro", que reformulava o mito antigo de vampiros, que até então eram cadáveres fedorentos, com lábios inchados e unhas em forma de garras. A partir daí, se tornaram um novo ícone do sexo - parte predadores, parte sedutores românticos.

Não é de surpreender que, quase 200 anos depois, os puritanos norte-americanos transformassem essa figura complexa em um maricas insosso como Edward, o personagem de Robert Pattinson em Crepúsculo, a imagem dominante do vampiro nos últimos cinco anos. A saga Crepúsculo é essencialmente uma alegoria sobre castidade, uma espécie de fantasia pré-adolescente sobre manter os homens em um estado de agonia perpétua. O subtexto de Crepúsculo é claro: se Edward transar com Bella, ela poderá ser arruinada para sempre, então os dois simplesmente correm por aí, nunca consumando seu amor. Um escritor afirma que as histórias de vampiros para garotas de Crepúsculo são "o equivalente ao pornô lésbico para homens: ambos criam uma atmosfera de abandono sexual que não é ameaçadora". Stephen King é mais claro sobre o apelo dos vampiros para os jovens, tanto garotos quanto garotas: "A impotência nunca é uma ameaça, pois os anseios sexuais dos vampiros são completamente orais", já alegou. "Eles são especialmente interessantes para adolescentes inseguros sexualmente."

Há algo estranhamente parecido entre os escritores dos romances vampirescos - quase sempre são mulheres e cristãs devotas. Stephenie Meyer, de Crepúsculo, é mórmon, e Charlaine Harris, autora da série de livros Sookie Stackhouse, na qual True Blood se baseia, é episcopal e foi guardiã de sua igreja local. Os vampiros podem ser sedutores para elas, mas também são genuinamente assustadores. "Prefiro ser humana, essa é minha opinião", diz Charlaine. "Sei como quero que as coisas aconteçam no final da minha vida. A imortalidade é um fardo pesado. Gosto de saber que só tenho este tempo para fazer de mim o que posso ser." Ela também não é fã de sangue: "Quanto a isso, é algo que superei - chega de menstruação!", comemora a senhora de 58 anos. "Adoro ter passado por aquilo e saído do outro lado."

Obviamente, este não é um complexo do qual o criador de True Blood, Alan Ball, sofra, embora ele fique arrepiado com a ideia de ser um vampiro. "Não sei se eu gostaria de comer pessoas", alega. "Acho que pensaria: 'Opa, estou te machucando?'" Ball é de uma cidade pequena que agora faz parte da região metropolitana de Atlanta, e ainda tem sotaque sulista, embora não tão carregado quanto o dos personagens do programa. True Blood é muito diferente da última série de Ball, A Sete Palmos, um seriado que durou cinco temporadas e era sobre uma família disfuncional que comandava uma funerária e a s relações na presença da morte - a atual é sobre sexo na presença da morte. Ball acertou a fórmula perfeita da TV: uma mistura do sucesso cult dos anos 60 Dark Shadows, o fenômeno feminino de Buffy, A Caça-Vampiros e o pornô leve exibido por alguns canais na madrugada.

Ele conseguiu criar essa receita superficial porque a ideia de vampiros celibatários é ridícula. "Para mim, vampiros são sexo", conta. "Não entendo uma história de vampiros em abstinência. Tenho 53 anos, não ligo para adolescentes. Acho que eles são irritantes e desinformados." Na série dele, cada buraco disponível é usado para sexo: gay, heterossexual, entre humanos e seres sobrenaturais. Só que nenhum desses é tão bom quanto o sexo com vampiro, que pode acontecer n o ritmo alucinante de 120 batidas por minuto enquanto simultaneamente devora o pescoço de alguém e faz seus olhos revirar. Moyer diz: "Se pegarmos do nível básico, os vampiros criam um buraco no pescoço onde não existia um antes. É como tirar a virgindade - romper o hímen, criar sangue e, depois, beber o sangue virginal. E há algo afiado, o canino, que pulsa e penetra dentro desse buraco, então isso é muito sexy. Acho que isso torna os vampiros atraentes". Ele ri um pouco. "Além disso, o Robert Pattinson é o máximo, não?"

Sexo, na verdade, é o que forma True Blood, o que lhe dá sua relevância cultural. É uma metáfora adequada para a nova revolução sexual: com a aids não mais vista pela maioria dos jovens como uma ameaça, uma cultura do sexo tomou conta dos Estados Unidos, online e offline, de uma forma que teria sido impensável nos temerosos anos 80 e 90. "Eu estava na faculdade no início da aids e passei minha vida com medo de sangue porque ele transmite o HIV", conta Denis O'Hare, que interpreta o vampiro rei do Mississippi no seriado. "Agora, d e repente, nossa cultura parece ser banhada em sangue." Vampiros podem matar em True Blood, é verdade, mas seu sangue é um veículo de transcendência, de êxtase - no programa, é vendido nas ruas como a droga "V" e até melhora o desempenho sexual quando você o bebe.

Só que sexo não é nada sem violência no mundo de True Blood, então há muito dela também. Recentemente, no set, Eric Northman - interpretado por Alexander Skarsgård - o vampiro de mil anos que veio das terras nórdicas e se tornou dono de bar na Louisiana, está ensopado de sangue, junto com sua coadjuvante lésbica de voz rouca. Outro v ampiro e stá s entado no c ano, a marrado c om correntes de prata, o rosto queimado. Mais um deles foi reduzido a líquido e derramado em uma taça gigante de vidro, que fica no bar. Até Anna Paquin tem um pouco de sangue no pulso. "Meu Deus", espanta-se Ball, andando pelo set e olhando a carnificina. "É a batalha dos vampiros i ncrivelmente gostosos." Hoje, o t rabalho a caba rapidamente, com várias promessas de vingança e retribuição. Anna diz para alguns vampiros: "Voltem para o buraco de onde vieram, suas aberrações frias!" Caninos são tirados de pequenas caixas turquesa e e ncaixados nos dentes. Vampiros grunhem enquanto cuidam de seus ferimentos e, uma hora, os atores começam a b rincar uns com os outros entre tomadas. "Sabe como todos em Glee têm de fazer uma turnê pelo país?", pergunta Anna a Moyer. "Imagine se tivéssemos de fazer isso?"

"Onde estamos n esta s emana?", responde Moyer, adorando a piada. "No Arkansas Pavilion!"

"Teríamos quatro semanas de ensaio, e alguém faria um número de sapateado com uma coleira de prata", continua a atriz. " Poderíamos montar um show de aberrações."

"Não", contesta Moyer, com um sorriso largo. "Já sei: seria um show de sexo na quermesse. Sexo ao vivo, 2 dólares!"

True Blood usa uma ótima piada para estabelecer seu drama: os japoneses desenvolveram uma bebida sintética para vampiros chamada Tru Blood, então agora eles podem viver - bom, talvez não viver, mas pelo menos existir - sem se alimentar de humanos. E já que não têm de esconder mais quem são, podem "sair do caixão" para se juntar aos humanos. Ball faz uma metáfora bastante óbvia com a perseguição aos gays, com vampiros lutando por direitos iguais e fundamentalistas religiosos tentando enterrar estacas em seu coração, mas ele também diz que esse não é exatamente o objetivo do programa. "Tenho dificuldade em ver vampiros com uma metáfora para gays e lésbicas", alega. "Só porque os vampiros em nosso show são, na maior parte, assassinos cruéis e predadores, e sou gay, então não quero realmente dizer: 'Ei, gays e lésbicas são basicamente assassinos amorais e cruéis'."

Se alguns humanos são muito receptivos aos vampiros em True Blood, muitos desses imortais simplesmente não querem se rebaixar ao nosso nível. É compreensível. Até um dos vampiros mais sinistros em True Blood, Eric Northman, é lindo, poderoso e faz sexo com quantas mulheres (e homens) deseja, às vezes em pé com a mulher pendurada em uma roda de tortura. Mais recentemente, estava nu, prestes a penetrar o namorado do rei vampiro por trás, quando enterrou sem cerimônias uma estaca em suas costas. Alexander, filho mais velho do ator Stellan Skarsgård, parece quase geneticamente programado para representar o personagem Eric. O mal parece ser tão parte de seu DNA que ele também foi chamado para ser o namorado desprezível de Lady Gaga, aquele que a empurra em uma sacada no vídeo de "Paparazzi". "Aquele dia foi muito divertido", conta. Aos 33 anos, ele é o ideal platônico da fantasia de vampiro europeu trash - alto, pálido, com uma mecha de cabelo loiro que cai para o lado quando ele se mexe, o que não é frequente. "Gosto de pensar no Eric como se ele fosse um leão", afirma, quando o encontro em um restaurante em Los Angeles. "Ele parece estar sempre relaxado, seu batimento cardíaco provavelmente é de 15 por minuto, mas você não sabe se ele vai agredir, atacar ou bocejar."

Skarsgård dirige um Audi R8 esportivo preto, usa perfume Hermès e namora a atriz Kate Bosworth. Foi um astro infantil em Estocolmo, onde nasceu, mas deixou a profissão de lado aos 13 anos. Depois da escola, entrou para o serviço militar, obrigatório na Suécia, e passou 15 meses na marinha, com um lançador de Granada pendurado no ombro. "Fiz isso porque achei que seria interessante", conta, pedindo uma cerveja. "Não porque amava armas - foi uma experiência egoísta para mim. Vi isso como um desafio pessoal." Ele começou a pensar em atuar novamente depois disso e, aos 20 e poucos anos, quando acompanhava o pai em uma viagem a Hollywood, um agente marcou para ele um teste para o filme Zoolander. "Eu disse: 'Claro, vou tentar - é uma aventura legal para um cara de Estocolmo ir a um teste de verdade em Hollywood'." Foi escalado como modelo e, embora isso não tenha mudado sua vida, fez com que ele gostasse de atuar novamente. Então se mudou para Los Angeles, comprou um Cadillac Eldorado 1981 e morou com quatro amigos suecos em uma casa com piscina. "Um era diretor, outro ator, e o outro só fumava baseado - era músico, mas só ficava sentado fumando maconha", diz. "Estávamos tão duros que os três dormiam no mesmo quarto."

A conversa continua assim - nada sobre sexo, nada muito pessoal. "Não quero que as pessoas saibam demais sobre mim", admite quando começo a pressionar. " É mais fácil para as pessoas esquecerem a descrença assim. Há um risco quando as pessoas o veem em um papel e estão assistindo ao Alexander Skarsgård. Além disso, aprendi com meu pai a manter a integridade e proteger a família - você pode falar sobre algumas coisas, sobre outras, não." Só que há uma maneira na qual ele está disposto a se revelar. Em True Blood, como na maioria dos programas nos quais os atores têm de ficar nus por um bom tempo, as atrizes usam um tapa-sexo, u ma espécie de tanga com as laterais cortadas, e o s atores cobrem suas partes pudendas com uma meia, para não aparecer nada. "Fico o máximo de tapa-sexo", diz Anna Paquin. "Embora eu não finja pensar que, na 18ª hora de filmagem, alguém no set ligue se meus peitos estão à mostra." Skarsgård, por outro lado, rejeita a meia em suas cenas com homens e mulheres. "Não quero uma meia me cobrindo, é ridículo", afirma. "Se estamos nus na cena, então estou nu. Sempre fui assim."

A maldade de e rica inda não conseguiu atrapalhar Sookie e Bill, pelo menos por enquanto. Anna Paquin nem se importa com as mordidas de vampiro que aguenta: ela as descreve como "ter sua c arne aberta por duas agulhas muito grandes". Para a maioria de nós, pode parecer terrível, mas não para ela. "Tenho dez furos na orelha, um piercing no umbigo e outro na língua", conta. "Minha língua, descobri, não é exatamente adequada para um piercing, porque a membrana é próxima demais da ponta, e a bolinha de baixo fica batendo nos dentes. E ele me fez falar assoviando, o que não é exatamente bom para uma atriz." Além disso, deve ter doído, certo? "Bom", diz. "não tenho problema com isso". Moyer e Anna começaram a namorar alguns meses depois do início do programa. Ela tinha acabado de se mudar de Nova York para Los Angeles, ele havia acabado de chegar de Londres, e a emissora os colocou no mesmo hotel. Eles começaram a tomar café da manhã juntos todos os dias em um café em West Hollywood e contaram um ao outro absolutamente tudo sobre eles mesmos. O primeiro beijo aconteceu na tela, mas, quando entravam no intervalo das filmagens, perceberam que queriam continuar conversando por telefone à noite. "Era algo do tipo: 'Tudo bem fazer isso, não?'", conta Moyer. "Não tem que acontecer nada aqui, é só uma empolgação!" Em poucos meses, a namorada de Moyer estava fora do caminho. Moyer é o oposto de Alexander Skarsgård - animado, aberto e gosta de flertar, chamando qualquer mulher com menos de 80 anos de "querida". Pode não gostar muito de Skarsgård se esfregar nu em sua namorada, mas lida bem com isso. "Uso meia nas minhas cenas, mas não tenho nada a esconder", diz, fungando um pouco. "Só acho que pode ser constrangedor para a equipe." Aos 40 anos, é ator há quase 20, desde que saiu de Essex, onde foi criado, filho de uma secretária e de um vendedor de vidro. Amava comprar discos e nunca ficou tão triste quanto quando Elvis e John Lennon morreram. Tentou tocar piano e trompete, mas acabou líder do coro local na adolescência e formou uma banda com os amigos.

Moyer recebeu a ligação para participar de True Blood no mesmo d ia em que s eu apartamento foi r oubado. "Quando suas coisas são roubadas, você fica muito mais consciente do que é importante - leve a câmera se quiser, mas não leve a fita que está nela. Perdi todas as fitas de sexo, em que apareço chupando as pessoas quando era jovem. Era para ser meu ganha-pão." Na conversa, fica claro que Moyer gosta das peculiaridades sexuais do programa. Ama que os vampiros sejam um método de liberação sexual para Sookie. "É sobre levar as coisas a um ponto no qual as pessoas normais da sociedade não achariam que seria bom uma jovem caipira fazer", afirma, depois se perde em uma fantasia. "É interessante pensar em sexo como a busca por um momento em conjunto que é uma combinação gloriosa de orgasmo e da união sexual que pode levar à morte. Já leu As Cidades da Noite Vermelha, de William Burroughs? As pessoas transam presas a nós corrediços em elástico, e, quando a ejaculação acontece, o chão se abre." Sorri um pouco. "Mas o Bill conseguiria trazê-la de volta, não? Hmm." Logo depois de dividir sua fantasia, ele vai embora. "Tenho de encontrar uma carne angélica e virginal. Até mais tarde!", diz.

Aí está uma evidência de que uma bela história de amor pode desabrochar no meio de um programa de TV sobre vampiros. Afinal, True Blood não trata apenas de sexo e sangue e, como vimos, também não é sobre perseguição aos gays. Ball, o criador da série, afirma que é sobre algo completamente diferente: é sobre autossatisfação, sobre se libertar das algemas da repressão, abrir mão das coisas que o definem - seja você vampiro, seja humano - para encontrar a pessoa verdadeira por baixo de tudo. Ball já enfrentou muitas mortes: quando era adolescente, sua irmã morreu em um acidente de carro no qual ele também estava e, em seguida, seus avós e seu pai morreram. "Para mim, a morte era uma realidade, uma companhia, uma força que simplesmente estava lá na vida e poderia aparecer a qualquer momento", diz. "É difícil eu me interessar por histórias que ignoram a morte, o que a cultura do marketing norte-americano gosta de fazer: fingir que a morte não existe, que dá para comprar a imortalidade - compre esses produtos e v ocê será jovem e f eliz para sempre." Em vez disso, Ball descobriu outro caminho para a felicidade. Finalmente soltou as amarras de sua típica criação norte-americana, na qual aprendeu cedo a reprimir seus sentimentos, e saiu do armário aos 33 anos. "Fui convenientemente bissexual por muito tempo, então pensei: 'Qual é, a quem estou enganando?'", conta. "Tenho de dizer, foi o maior passo que já dei em direção ao bem-estar emocional, para parar de sentir que tinha de esconder quem sou. Não estou dizendo que ser gay é o que me define, mas, ao mesmo tempo, se você sente que tem de esconder isso, é isso que acaba te definindo. Você o mantém escondido e o segredo se torna você." Novamente, True Blood é pura diversão sacana. "Sabe, trabalhar em A Sete Palmos era deprimente às vezes, mas True Blood é muito diferente - é sobre arquétipos, subconsciente, mitologia e satisfação de desejos", afirma. "Sou como um garoto indo ao playground todos os dias."