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Keith Richards Lembra Bons e Maus Momentos em Livro

Por David Fricke Publicado em 13/01/2011, às 16h23

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Em <i>Vida</i>, sua autobiografia, o guitarrista dos Rolling Stones escreve sobre amores e desafetos - PETER LINDBERGH
Em <i>Vida</i>, sua autobiografia, o guitarrista dos Rolling Stones escreve sobre amores e desafetos - PETER LINDBERGH

"Não acho que tenha buscado isso", diz Keith Richards em um grunhido baixo. O guitarrista dos Rolling Stones está falando de encrenca, do tipo que percorre sua autobiografia, Vida, como um trem desgovernado: drogas, policiais, reabilitações, morte e a relação turbulenta entre Richards e a outra metade dos Glimmer Twins (e amigo de infância), o vocalista Mick Jagger. "É simplesmente como as coisas aconteceram", conta Richards, sentado no escritório de seu empresário, em Nova York, e tomando um coquetel de fim de tarde em um copo de plástico vermelho. "Conflitos surgem o tempo todo, especialmente se você trabalha em uma unidade tão coesa." Há uma risada ressoante. "Se estou em conflito com alguém, isso significa que alguém está em conflito comigo."

O título do livro de Richards é uma descrição simples e precisa do conteúdo: os altos, baixos e excessos que desafiaram o guitarrista de 66 anos, do nascimento até agora, relatados vividamente em sua cadência e sintaxe natural de pirata moderno. Vida abre com uma história cômica de um resgate de último minuto em Arkansas, durante a turnê dos Stones em 1975. Depois, Richards, que escreveu o livro com o autor britânico James Fox, fala bastante e com profundidade sobre sua infância no pós-guerra - o filho único de pais divorciados no bairro barra-pesada de Dartford, em Londres - e o resgate emocional que encontrou no blues norte-americano, a formação dos Rolling Stones e sua ligação criativa com Jagger.

Richards relata a rotina diária e sórdida de seu caso de amor com a heroína, que se encerrou em 1979. "Se não tivesse relembrado essa questão, algo teria ficado ausente", sustenta. "Quando me drogava, estava totalmente convencido de que meu corpo é meu templo, posso fazer o que quiser com ele e ninguém pode me dizer sim ou não." No entanto, Richards também conta os danos de suas escolhas: a perda do caubói cósmico e colega de vício Gram Parsons, a decadência infernal de Anita Pallenberg, amante de Richards, e a morte de seu filho pequeno, Tara, em 1976, enquanto ele estava em turnê. "Deixar um recém-nascido é algo pelo qual não posso me perdoar", diz Richards em Vida. "Na primeira vez em que falamos disso", conta Fox, "Keith não conseguia falar mais do que cinco palavras. Então, percebemos que tínhamos de voltar a isso. Ele contou que pensava naquilo toda semana."

Fox entrevistou Richards pela primeira vez em 1973, para um jornal de Londres. Para Vida, Fox diz que ele e o músico "falaram em tópicos e períodos, nunca cronologicamente", durante vários dias seguidos, até três horas por dia, começando no final de 2007. O livro inclui testemunhos oculares de pessoas próximas a Richards, como a cantora Ronnie Spector ("um amor antigo") e o saxofonista Bobby Keys, mas Fox não conversou com os outros Stones. "Tentei", diz, observando: "Há uma tradição de um não ter nada a ver com o livro do outro".

Vidaé feito de duas histórias: uma sobre música, mau comportamento e sobrevivência, e a outra um relato apreciador, perplexo, às vezes indignado, da vida de Richards com Jagger, incluindo suas batalhas por controle da banda. "Tinha uma sensação de que Mick não teria problema algum com a verdade", alega Richards, que fica quieto por um momento. "Não há dúvidas de que eu era tão irritante para ele quanto ele pode ser para mim." Jagger leu Vida, diz Richards, "e ficou um pouco incomodado". Mas o guitarrista insiste: "Mick e eu ainda somos grandes amigos e ainda queremos trabalhar juntos". A prova do guitarrista: ele e Jagger conversaram no meio do ano sobre novidades dos Rolling Stones para 2011. Há outra daquelas risadas estremecedoras. "Dá para imaginar a vida correndo suavemente e todos concordando com tudo?", pergunta Keith Richards. "Não aconteceria nada. Não haveria blues, não haveria 'happy'", responde, referindo-se a sua icônica explosão de alegria em Exile on Main Street, de 1972. E certamente não haveria Vida.