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A Nova Rainha do Hip-hop

Kanye West diz que ela poderia ser a melhor MC de todos os tempos. Então por que Nicki Minaj está sempre de mau humor?

Por Brian Hiatt Publicado em 11/05/2011, às 15h25 - Atualizado em 23/11/2012, às 11h12

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FOTO EDWARD KEATING
FOTO EDWARD KEATING

Pela milésima vez hoje, Nicki Minaj está aplicando uma grossa camada de gloss rosa brilhante em seus lábios protuberantes, examinando-se em um espelhinho de mão. "Não estou acostumada a usar maquiagem por horas e horas", diz a rapper. "Faz meu rosto parecer bleh." Nicki havia passado o dia todo docemente bem-humorada, mas agora fechou a cara, escondida debaixo de um bonitinho chapéu de palha. Enquanto seu utilitário esportivo com motorista se arrasta rumo a Santa Mônica, Nicki está cada vez mais perto de ter um ataque de diva. "Você tem que prestar atenção", ela rosna para o assistente, que acabou de dar orientações de direção questionáveis ao motorista, explicando o caminho para um restaurante chinês em um shopping.

O motorista acha que ela está falando com ele e se vira para protestar. Sob a sombra de seu chapéu, Nicki rola seus olhos grandes, escuros e pintados de rímel verde. "Não estou falando com você, senhor", ela diz (o sotaque é perceptível - ela mudou de Trinidad, sua terra natal, para o Queens, Nova York, quando tinha cerca de 5 anos). "Você poderia, por favor, apenas me deixar em paz? Estou falando com ele!" Ela ainda está olhando para o espelho, trabalhando em seus lábios.

São 16h e Nicki, 25, não comeu desde o café da manhã. Dormiu por quatro horas na noite passada, que é mais do que de costume. Ela encara uma infindável turnê promocional de Pink Friday, seu álbum de estreia - que deve consolidar seu status como principal artista feminina do hip-hop norte-americano.

Em agosto de 2010, ela coroou dois anos de participações especiais (colaborando com todo mundo, de Mariah Carey a Gucci Mane) com um espantoso verso em "Monster", de Kanye West: Nicki muda de estilo, vozes e personalidade de um compasso para outro, fazendo rap com uma fúria enlouquecida que é como se Ol' Dirty Bastard fosse multiplicado por Busta Rhymes. Virou seu truque registrado - como se ela estivesse determinada a compensar a falta de vozes femininas no hip-hop providenciando umas cinco ou seis ela mesma.

Kanye West ficou impressionado. "A artista mais assustadora na área no momento é Nicki Minaj", disse ele. "De todo mundo, ela tem o maior potencial para ser a rapper número dois de todos os tempos, porque ninguém vai ser maior que Eminem." O próprio Eminem ofereceu sua aprovação a Nicki, participando como convidado do insano single "Roman's Revenge", de Friday.

Mas o patrono-chave de Nicki Minaj foi Lil Wayne, que a contratou para seu selo, Young Money, em 2009, servindo como mentor da rapper. A gravadora esperou o momento certo para lançar o álbum de Nicki, deixando que ela construísse uma reputação por meio de mixtapes e participações especiais - a mesma estratégia que fez de Wayne um superstar antes do lançamento de Tha Carter III, em 2008. Em outubro, Nicki estava presente, ao mesmo tempo, em sete singles da lista Hot 100 da parada norte-americana.

Em certo nível, as múltiplas personalidades de Nicki, sua habilidade de mudar sua voz da doçura de uma garotinha para um rosnado gutural no meio de uma frase, refletem seu treinamento dramático: no ensino médio, ela se formou na escola LaGuardia Arts, também conhecida como a escola do filme Fama. Mais cedo naquele mesmo dia, em um momento em que resolveu baixar a guarda, ela falou sobre como se empenha no ensaio de seus versos: "Odeio passar o texto na cabine do estúdio", disse, soando claramente como alguém do showbiz. Nicki se orgulha do fato de que ela e o rapper Drake - uma ex-estrela da série adolescente canadense Degrassi: The Next Generation - estão oferecendo uma face diferente ao hip-hop. "Houve uma época em que você tinha que vender uns quilos [de drogas] para ser considerado um rapper de verdade", diz ela. "Mas agora é como se Drake e eu estivéssemos aceitando o fato de que fomos à escola, amamos atuar, amamos o teatro, e isso é ok - e é especialmente bom para a comunidade negra saber que é ok, que é aceitável."

A verdadeira personalidade de Nicki pode ser difícil de detectar. "Em um minuto sou uma irmãzinha inocente, e no próximo estou gritando com 18 cabeças", ela afirma mais tarde. "Definitivamente acho que a vida imita a arte ou a arte imita a vida. As pessoas costumavam me dizer: 'O que há de errado com você? Você só fica sentada lá pensando e fiando deprimida'. Sempre fui uma pensadora."

Enquanto o motorista para no shopping para finalmente pegar comida, ela já está se acalmando. Nicki está morando em Los Angeles há meses, mas não viu muito da cidade além de seu apartamento e do estúdio de gravação onde trabalhou em Pink Friday. Ela não se permite ter tempo para fazer nada que não seja trabalhar: seu plano de cinco anos inclui uma carreira cinematográfica, uma linha de perfumes, uma marca de roupas e talvez discos que a mostrem também cantando, além de fazer rap. "Há esse medo de não ser perfeita", ela revela. "Existem algumas músicas que eu só não componho porque tenho medo de não satisfazer minhas expectativas do que elas poderiam ser. Não estou competindo com outras pessoas. Eu rivalizo comigo mesma."

Ela não tem qualquer problema em localizar a fonte de sua ambição. "Quando cheguei à América, ia para o meu quarto e ajoelhava na beira da cama e rezava para Deus me fazer rica para que eu pudesse cuidar da minha mãe. Porque eu sempre achei que se eu cuidasse da minha mãe, ela não precisaria ficar com o meu pai, e era ele, na época, quem nos trazia dor. Nós não queríamos ele por perto de jeito nenhum, e assim eu sempre senti que ser rica curaria tudo, e foi isso que me incentivou."

O pai de Nicki Minaj tinha problemas com drogas e álcool, vendeu os bens da família para sustentar o vício, abusou de sua mãe, e certa vez ateou fogo na casa da família enquanto sua mãe estava dentro. "Lembro-me de haver muita briga, muitos gritos - havia buracos nas paredes por causa dos socos raivosos", recorda, "e a polícia sendo chamada o tempo todo. Eu estava desapontada com meu pai, porque só queria que ele fosse meu 'Papai', a pessoa alegre da qual eu me lembrava, e estava com medo, muito medo, de que algo acontecesse com a minha mãe. Tinha pesadelos com isso." Seus pais ainda vivem juntos, e seu pai não está feliz em ver seu passado divulgado - ela fala sobre isso com detalhes em uma faixa mais antiga, "Autobiography". "É o preço que você paga quando abusa de álcool e drogas", diz. "Talvez um dia sua filha fique famosa e conte para todas as revistas a respeito, então pensem sobre isso, pais que querem ficar loucos por aí."

Nicki manda seu assistente, um cara jovem e estiloso conhecido como S.B., pegar camarão com molho de alho para ela. Há boatos de que o sempre presente S.B. é o namorado dela - em seus constantes posts sobre ela, o MediaTakeOut, um popular site de fofocas, chegou até a sugerir que os dois são casados (o site também desconfia das generosas curvas de Nicki, divulgando recentemente uma foto que supostamente data de "antes de ela colocar seus implantes"). "Ele não é meu namorado", ela afirma. "Não acredito que você me perguntou isso! É um dos meus melhores amigos de onde eu vim. Mas vou mandar ele embora." Ela ri. Talvez esteja brincando.

"Não se deve contratar amigos", continua, pensativa. "Mas é bom ter alguém por perto que sabe quem você realmente é." Ela ainda sabe quem é? Nicki olha para suas unhas, pintadas com o púrpura-escuro do clipe de "Monster". "Às vezes é tudo um borrão", murmura.

Algumas horas mais tarde, nicki minaj entra em um pequeno estúdio da rádio pop de L.A., KIIS FM, e as adolescentes sentadas no chão de pernas cruzadas imediatamente ficam loucas, gritando com uma intensidade raramente ouvida desde que o programa TRL, da MTV, saiu do ar. Essa é a base principal dos fãs de Nicki, suas "Barbs" - diminutivo de Barbie, um de seus apelidos autoaplicados. Enquanto um DJ entrevista a rapper, uma garota grita espontanea mente a cada poucos minutos. "Eu a amo tanto", ela diz. Na primeira fila, uma morena usando um top brilhante olha para ela sem piscar, como se estivesse disposta a trocar de lugar com Nicki.

Ao mesmo tempo, Nicki está encarando a si mesma: S.B. deu a ela o exemplar de uma revista que parece ser totalmente dedicada a fotos sexy de Nicki Minaj, e ela está fascinada. É difícil culpá-la ou aos fãs: embora tenha só 1,55 m de altura, há uma qualidade superlativa, cartunesca na beleza de Nicki, mesmo sem as perucas rosa e loiras e as roupas perigosamente justas que ela usa no palco ("Nicki Minaj" foi, inclusive, uma fantasia popular de Dia das Bruxas no ano passado). Hoje ela está montada, e seu traje tem um vago ar de Stevie Nicks: jeans gastos, botas de Pocahontas, uma jaqueta de veludo cortada para mostrar sua pele nas mangas.

No início de sua carreira, Nicki se apoiava em uma tática comum das rappers, se apresentando como uma superaberração polimorfa ("Got that Supersoaker pussy" - "Peguei essa boceta Superabsorvente", ela rimou na música "Slumber Party", de Gucci Mane, lançada em 2008). Ela já se declarou bissexual, mas agora afirma "que garotas são sexy, mas não vou mentir e dizer que saio com mulheres". Mas aí ela começou a perceber que tem um apelo especial com as jovens. "Não quero dizer que ela teve uma crise de identidade", diz Mack Maine, presidente da Young Money. "Mas ela não sabia se devia parar de usar palavrões."

Nicki conta: "Uma vez que comecei a fazer shows em estádios, me senti desconfortável em dizer: 'Onde estão minhas cadelas malvadas?', porque as pessoas estavam levando suas filhas de 8 anos. E essa menina vai dizer: 'É, Nicki Minaj, sou uma cadela malvada?' Então agora eu subo lá e digo: 'Onde estão minhas Barbies?'" Em Pink Friday, ela fala de sexo minimamente. "De qualquer modo, sexo é a última coisa na minha cabeça no momento", afirma - embora suas sessões de fotos ainda sejam sensuais. "Fotografia é diferente. Você pode ser uma puta em suas fotos."

Minaj costumava se apresentar como "Nicki Lewinsky" em contraponto ao "Presidente Carter", de Lil Wayne, mas agora o seu foco é assumidamente feminista. "I am not Jasmine, I am Aladdin" ["Não sou Jasmine, sou Aladdin" ], ela proclama em "Roman's Revenge". "Tenho o mesmo poder que os garotos", ela decreta. "Tenho o mesmo tapete mágico. Não há nada de diferente entre eu e os garotos, exceto que eles têm um galhinho e um par de frutinhas, e eu não. Não me sinto inferiorizada. Não quero que minhas garotas se sintam daquele jeito. Quero que sintam que mesmo que você tenha um trabalho normal, se você chegar ao cargo de vice-presidente da companhia, devia ganhar a mesma coisa que um homem no mesmo cargo ganharia. Você deveria exigir a mesma coisa."

Algumas das predecessoras de Nicki não compartilham esse sentimento todo de irmandade, entretanto Lil' Kim, em particular, atacou a jovem rapper repetidas vezes. Nicki, por sua vez, sem usar o nome da rival, a eviscerou em "Roman's Revenge": "Shoulda sent a thank-you note, you lil' ho - now I'm a wrap your coffin with a bow" ("Devia ter mandado uma nota de agradecimento, sua putinha - agora eu vou amarrar um laço em seu caixão"). "Todo grande rapper tem um grande senso de humor", diz Nicki. "Acho que eu obviamente puxo isso de Lil Wayne e caras como Jay-Z; eles são ótimos. Também pego de caras como Larry David - ele é muito sarcástico."

Neste final de semana, Minaj está voando para Miami para celebrar a saída de Lil Wayne da prisão, e depois para o outro lado do país para visitar mais estações de rádio. Não há fim previsto. "O que 'Aproveite seu sucesso' quer dizer? Sempre me dizem isso, e é como se eles quisessem que eu fosse para uma ilha nadar em uma jacuzzi, mas não é o que eu gosto", afirma ela, parecendo irritada. "Gosto de poder ajudar minha mãe, de poder fazer com que minhas sobrinhas cheguem à faculdade. É estressante, mas eu não trocaria por nada no mundo. Às vezes você quer tirar umas duas horas extras de sono, mas este é só o início. Estamos apenas começando."