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Elton John: Entrevista Rolling Stone

Em conversa reveladora, o músico fala sobre ser pai, discute o preconceito e recorda as décadas de 70 e 80, além de celebrar o bom momento com o disco The Union, gravado com Leon Russell

Por Austin Scaggs Publicado em 11/05/2011, às 15h22

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Elton John está na capa da edição 54 da <i>Rolling Stone Brasil</i>
Elton John está na capa da edição 54 da <i>Rolling Stone Brasil</i>

Vestido com um paletó preto folgado, chinelos de oncinha com detalhes dourados e óculos de lentes amareladas, Elton John me convida para entrar em seu apartamento de Los Angeles e me apresenta a família: David Furnish, seu parceiro há 17 anos, vestido com um roupão de banho às 10 da manhã, e seus dois cocker spaniels, Marilyn e Arthur. Encolhido em um carrinho está o novo membro, o filhinho deles, Zachary Jackson Levon Furnish-John, que tinha chegado apenas nove dias antes, por meio de uma barriga de aluguel, no Natal. "Ele disparou para fora", diz Elton, olhando para o filho com ar de adoração. "Parecia uma cena de O Sentido da Vida, de Monty Python. O obstetra teve que segurar." Segundo ele, tornar-se pai foi "a sensação mais incrível". Elton, que geralmente é bem impressionável, orgulha-se de ter cortado o cordão umbilical: "Parece uma lula!"

Elton tem este imóvel em West Hollywood há três anos. As paredes estão cobertas com arte contemporânea e fotos icônicas. "Não há nada que eu colecione com mais paixão do que fotografia", diz ele, que também junta peças de porcelana e vidro e argolas de guardanapo. Em sua principal residência nos Estados Unidos, em Atlanta, demoraria horas para dar uma olhada em suas coleções. Elton também tem propriedades no sul da França, em Londres e em Veneza - e 14 hectares de terras em Old Windsor, na Inglaterra.

Confira ao lado fotos que não estão na edição impressa

Passando a pilha de 1,5 metro de altura de presentes de bebê, o apartamento se abre em uma ampla ala de estar. Não há poluição no ar de Los Angeles nesta manhã, e a janela virada para o leste oferece vista límpida para o pico nevado do Mount Baldy, a quase 100 quilômetros de distância. Elton aponta para o Sunset Boulevard, para um anúncio gigantesco da animação Gnomeu e Julieta, que ele e Furnish produziram. O filme estreia este mês no Brasil e sua trilha é recheada de canções de John. Perto dali, mais para o sul, fica o clube Troubadour, onde o músico fez duas apresentações lendárias em 1970 e deu início à sua carreira nos Estados Unidos, causando grande sensação. "Eu nunca passo por aquele lugar sem pensar nisso", diz. Ao longo dos últimos 40 anos - com 35 álbuns de estúdio e incontáveis singles, colaborações e compilações de sucessos -, Elton John vendeu mais de 250 milhões de álbuns, inserindo-se assim na lista dos dez artistas que mais venderam na história.

Em sua segunda noite no Troubadour, ele olhou do palco e viu seu herói, o pianista Leon Russell, no meio do público. "Leon era o cara", diz. "Eu tive muitas influências no piano: Allen Toussaint, Ian Stewart, Booker T., Little Richard, Fats Domino, Garth Hudson, Jimmy Smith, Jerry Lee Lewis... Mas eu queria ser Leon. Ele tinha tocado em tudo que eu adorava: Delaney and Bonnie, todos os discos de Phil Spector, gravações com Frank Sinatra e a Wrecking Crew. Ele passava aquele clima country, mas com rockabilly e gospel e soul, tudo misturado." Russell, em seu auge comercial, levou Elton para fazer turnê com ele no início da década de 1970. Mas, pouco depois disso, eles perderam contato.

Veja abaixo o making of da sessão de fotos:

Em dezembro de 2008, Elton participou de Spectacle, o programa de variedades musicais conduzido por Elvis Costello, em que ele discorreu longamente sobre Russell, que não via e com quem não tinha falado havia 38 anos. Um mês depois, teve a ideia de voltar a fazer música com seu herói, que mal estava conseguindo sobreviver. "Ele estava fazendo turnê só para colocar comida na mesa, tocando em lugares pequenos e perdendo o respeito próprio", diz Elton.

A dupla foi para um estúdio em Los Angeles com o produtor T Bone Burnett e o parceiro de composição de Elton havia 44 anos, Bernie Taupin. The Union é a volta de Elton às suas raízes country e soul, e as letras de Taupin revisitam o imaginário do Oeste Selvagem de Tumbleweed Connection, o triunfo que criaram em 1970. Na última faixa de The Union, "In The Hands of Angels", Russell agradece Elton por fazer sua carreira reviver. "Eu pensei: O que posso dar para um sujeito que tem seis casas e dez vezes tudo?", diz Russell. "A única coisa que eu podia dar a ele era uma canção."

"No último terço da minha vida, quero fazer os álbuns que tiver vontade", diz Elton. Aos 63 anos, ele continua fazendo mais de cem shows por ano, além de cuidar de uma empresa de gerenciamento de artistas e de sua fundação contra a Aids, que já arrecadou mais de US$ 220 milhões desde 1992 e beneficia programas em 55 países.

Ao longo de quatro horas, Elton falou sobre The Union e os altos e baixos do superestrelato. Ele estava acomodado em um sofá em L que tinha por cima um quadro de Juang Yi Hi de um lado e, do outro, uma fotografia em papel brilhante de Steven Klein, de um modelo masculino usando sunga. Sir Elton senta sempre em postura perfeita de pianista.

Onde está o piano?

Não tenho nenhum aqui. Tenho pianos em Windsor e em Atlanta, mas não gosto muito de pianos. Eles medem quase três metros, ocupam muito espaço, e eu nunca toco. Ser pianista no palco é a maior frustração - é por isso que eu era tão acrobático no começo. Aprendi com Little Richard, Fats Domino e Jerry Lee Lewis como conseguir um pouco de atenção. Fats costumava empurrar o piano pelo palco com a barriga. Eu sempre quis ser alguém como Jimi Hendrix - dá para fazer um monte de coisas com uma guitarra. O que se pode fazer com um piano? Você pode enfeitá-lo, pular em cima ou se deitar em baixo.

No ano passado, você fez mais de 100 shows. Por que trabalha tanto?

Eu tenho amor incondicional pelo que eu faço. E, desde que fiquei sóbrio [em 1990], cada show é uma ocasião absolutamente prazerosa para mim. Não que não fosse prazeroso antes, mas eu posso descer do palco para a minha vida maravilhosa, com David na minha vida, e equilíbrio. E o público. Eu aprecio a plateia muito mais agora que consigo enxergar as pessoas. Eu fiz cirurgia corretiva nos olhos há oito anos, e agora consigo enxergar os rostos e os cartazes e os discos que as pessoas erguem. Dizem que os Stones estão velhos demais e deveriam parar. Quer dizer, você consegue imaginar chegar para Keith [Richards] e dizer: "Pare de tocar guitarra"? Alguém ia dizer isso a Muddy Waters? É tipo: "Vá se foder!" Eu faço 110, 120 shows por ano. Faço o show com banda, o show com Leon, o show com Billy Joel, o show solo de Elton, o show Elton/Ray Cooper, o show Elton/orquestra. No ano passado, eu toquei mais de 80 músicas diferentes. Eu nunca fico entediado. Sou agitado. Igual ao Jack White. Adoro gente assim. Ele sempre está fazendo alguma coisa. E Brandon Flowers, Elvis Costello e Dave Grohl. Nós deveríamos montar uma banda. Vamos nos chamar de Fidgets [agitados]. Eu vou tocar teclado.

Você leu a autobiografia de Keith Richards?

Não li. Parte de mim quer ler, mas outra parte faz parecer que isso só vai me levar de volta a coisas ligadas a drogas. Eu fiquei meio desestimulado quando soube da coisa do pênis de Mick [Jagger]. Sou um grande fã de Mick. Se eu falasse que Bernie Taupin é um filho da puta desgraçado e tem pau pequeno, ele provavelmente nunca mais iria falar comigo. Ele não é um filho da puta desgraçado e não tem pau pequeno - acho que não, nunca vi. É tipo: por que fazer isso? Principalmente com uma pessoa com quem você tem uma relação de trabalho.

Nas bancas dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro a partir desta sexta, 11, e em todo Brasil até 23/3.

Como anda sua relação com Bernie Taupin?

Nós nunca tivemos qualquer discussão sobre música, e acho que também nunca tivemos nenhuma discussão pessoal. Houve vezes em que eu me comportei muito mal, e ele foi muito conciso, dizendo que não aprovava. Quando passamos um tempo separados [no final da década de 1970], ficou um certo mal-estar no ar. Acho que nós dois nos sentimos um pouco culpados. Eu me orgulho muito de nunca termos falado mal um do outro. E nunca escrevemos uma música no mesmo recinto. Eu nunca, jamais sinto qualquer diferença em escrever uma música agora ou quando estava escrevendo "Your Song", em 1969. Eu ainda sinto a mesma alegria ao dizer: "Bernie, escute isto".

Qual foi a primeira música que você tocou para seu filho Zachary?

Nós voltamos para cá dois dias depois que ele nasceu, e eu coloquei para tocar músicas de Natal do King's College Choir em Cambridge, e ele estava no meu colo. Era "Hark! The Herald Angels Sing", e eu não aguentei. Chorei e chorei e chorei.

Ele já tem um iPod?

Tem. Mas nós colocamos versões tipo canção de ninar de músicas de Led Zeppelin, Bob Marley e Beatles. Dedicated to the One I Love, de Linda Ronstadt, Tapestry, de Carole King, Greatest Hits, de James Taylor e Simon and Garfunkel e Kate Bush, porque nós a adoramos muito. E também um pouco de Chopin e Mozart.

Você acompanha a música moderna e disse há pouco tempo que "os compositores de hoje são bem ruins". Deve haver alguém por aí de quem você gosta...

Eu gosto de bandas que construíram sua reputação ao vivo. Bandas de verdade, como Vampire Weekend, Arcade Fire e Black Keys. Nós tocamos com uma banda em um especial com T Bone, a Punch Brothers, e eu quero fazer um álbum com eles. São fantásticos, a melhor banda de jam que eu já vi. A produção de Jon Brion é incrível. Para mim, eles são a novidade mais emocionante. É para onde eu quero ir.

Você tocou piano e cantou em "All of the Lights", de Kanye West. Como isso aconteceu?

A gente se cruzou em Honolulu em janeiro do ano passado. Ele é um gênio absurdo. Ele é uma cruza de Miles Davis com Frank Zappa. 808s & Heartbreak é o álbum mais sensual desde What's Going On. Ele tocou para nós a faixa "All of the Lights" e foi maravilhoso. Tipo: "Uau, isto aqui é diferente". Quer dizer, ele fez sample de Bon Iver! Essa é a genialidade dele. O álbum novo dele é uma obra-prima.

Você se vê em Lady Gaga?

Todo artista tem um período de cinco anos em que tudo que faz dá certo, e daí você trabalha com a adrenalina. Foi o que aconteceu comigo de 70 a 75. A gente fazia dois álbuns por ano pelo menos, singles separados, lados B, entrevistas de rádio e televisão, turnês... e nunca era trabalho. Era só alegria, no auge da criatividade. É um período mágico. É por isso que Gaga está passando. Eu ouvi o álbum novo, é fantástico. O primeiro single, "Born This Way", é o hino que vai substituir "I Will Survive". Nem consigo imaginar em como vai ser enorme.

Em junho de 2010, você tocou no casamento do [radialista conservador] Rush Limbaugh. Como você quebrou o gelo com aquele público?

Eu subi no palco e disse: "Aposto que vocês estão se perguntando que porra eu estou fazendo aqui". Não dava para acreditar que eu tinha sido contratado para tocar. Achei que era piada. Eu tive uma conversa com ele antes, e ele disse: "Eu não sou antigay, eu quero que você venha, traga David". O meu objetivo é que Rush diga: "Eu apoio as uniões civis", e se eu ligasse para ele agora acho que talvez ele concordasse. Ele foi uma das primeiras pessoas a nos dar parabéns pelo bebê. Aquele casamento foi o maior público de republicanos para o qual eu já toquei - Clarence Thomas estava lá -, e certamente foi a melhor plateia do ano. Eles foram ótimos, porra.

Você recebeu US$ 1 milhão e também muitas críticas. O que passou na sua cabeça ao aceitar?

Eu sabia que todo mundo ia querer a minha cabeça por causa disso, e foi o que aconteceu. Eu compreendo por quê. Mas fiz minha lição de casa primeiro. Eu não ia jogar fora 40 anos de tentar fazer coisas boas simplesmente embolsando um monte de dinheiro e fugindo. A única maneira de se resolver qualquer coisa é por meio da comunicação, plantando sementes. E nos Estados Unidos há muita divisão. Eu quero derrubar muros e construir pontes. Eu provavelmente sou o homossexual mais famoso do mundo, e adoro esse fato. Com isso, eu tenho uma responsabilidade, e eu às vezes incomodo outros homossexuais quando toco no casamento de Rush Limbaugh e faço outras coisas do tipo. Mas eu tento fazer o que acredito que seja certo.

Bernie Taupin me disse que The Union é "com certeza a melhor coisa que fizemos nos últimos 30 anos, caramba". Você concorda?

Acho que sim. Estávamos no lugar certo, tentando ressuscitar uma pessoa que adoramos. E com a experiência de T Bone e as letras maravilhosas de Bernie, e tocando ao vivo no estúdio... Tenho muito orgulho do disco. Vendemos 300 mil exemplares sem tocar no rádio, e esperamos chegar a disco de ouro.

No programa Spectacle, de Elvis Costello, você falou de Leon Russell no pretérito, como se ele estivesse morto ou desaparecido. Qual tinha sido a última vez que você tinha falado com ele?

Eu não sabia o que ele estava fazendo. Tinha visto o nome dele por aí, tocando em clubes pequenos, mas não falava com ele desde 1971 ou 72, quando toquei no Fillmore East. Eu me sentia muito triste por ter perdido o contato com ele, por ele obviamente estar passando por uma fase ruim - porque quando você vê que alguém está tocando no Coach House [casa de shows em Los Angeles], dá para ver que a pessoa não está ganhando muito dinheiro.

Em janeiro de 2009, você e David estavam fazendo um safári na África, e Leon de repente começou a tocar no seu iPod.

Eu sou o maior ludita [que se opõe a novas tecnologias]. Não tenho iPad, iPhone, computador nem telefone celular. Eu nem sabia mexer em um iPod - é ridículo. Então, nós estávamos indo almoçar, estávamos no parque nacional Kruger, e David estava passando os artistas, e eu disse: "Ah, Leon Russell! Vamos tocar Leon!" Quando ouvi Leon cantar "Back to the Island", uma onda incrível de tristeza e alegria tomou conta de mim, e eu comecei a chorar. David ficou horrorizado! Ele perguntou: "Qual é o problema?" Eu respondi: "Isto me fez voltar à época mais maravilhosa da minha vida, quando eu conheci o meu ídolo no clube Troubadour. Eu realmente fico furioso com o fato de ele ter sido esquecido".

The Union remete à sua obra-prima de 1970, Tumbleweed Connection.

Eu me senti muito seguro escrevendo para esse álbum, como não me sentia há muito tempo. Antes mesmo de eu ter pensado em fazer esse álbum com Leon, a gravadora sugeriu: "Faça um álbum natalino", e eu quase matei todo mundo. Um disco Motown? Não. Nada disso oferece qualquer tipo de criatividade para mim. Acho que eu encontrei um novo caminho. Eu sabia que eu precisava voltar para trás para ir para a frente. Eu não sou do tipo que fica enterrado no passado, mas eu voltei e escutei Tumbleweed e Madman, e era melhor do que eu era capaz de imaginar. Ao ouvir Tumbleweed mais uma vez, percebi que não é necessário ter um single de sucesso para vender um disco. Eu ainda adoro a parada pop, e ainda adoro música pop, mas não preciso tentar competir. Estar no disco de Kanye West já me basta.

Você bebia antigamente?

Um pouco. Eu bebia um pouco de vinho, mas não muito. Eu nunca fui de beber muito até começar a cheirar, daí eu bebia só para fazer o pó baixar.

Recentemente, você disse a Lily Allen que "ainda seria capaz de cheirar muito mais" do que ela. Naquela época, você era um aspirador?

Na década de 80, era sim. George Harrison costumava dizer: "Vá com calma no pó da marcha". Eu passei muitas noitadas com os meus contemporâneos. Eu me lembro de estar com George às 8 da manhã [risos]. O sol estava nascendo, então eu disse: "Sabe o quê? Que tal você tocar 'Here Comes the Sun' [Lá vem o sol]?". E ele tocou! E foi demais! Às vezes era divertido, era um afrodisíaco para mim. Mas, nas duas últimas semanas, eu estava usando sozinho no meu quarto. O pó despertava o lado negro da minha alma.

Você cheirava no palco?

Não durante os shows, mas antes dos shows. Eu não sabia estar fora do palco, então eu trabalhava o tempo todo. Foi o meu trabalho que me salvou. Eu continuava subindo no palco, e só Deus sabe como eu soava. Mas, pelo menos, eu estava lá fazendo discos e tocando. Até 1990, a minha vida era só a minha carreira.

Você recebeu um voto de confiança de John Lennon na entrevista lendária que ele deu à Rolling Stone em 1970. Onde vocês se conheceram?

Eu visitei John quando ele estava fazendo um vídeo na Capitol. Eu estava bem nervoso, mas John foi tão simpático e doce, e depois ele me convidou para tocar em "Whatever Gets You Thru the Night". Durante um ou dois anos, nós andamos muito juntos. Nós dávamos tanta risada, tínhamos tantas conversas ótimas, usávamos tantas drogas...

Ele prometeu que, se essa música chegasse ao número 1, faria um show com você. E chegou. Como foi esperar a apresentação com John no Madison Square Garden em 1974?

Antes, o John viu um show em Boston em que eu estava o mais espalhafatoso possível. Eu voltei para o bis com uma roupinha que era um biquíni de caixa de chocolate [risos]. Fazia anos que ele não ia a um show, e ficou surpreso com todas as luzes e o som. Ele ficou tipo: "Agora as coisas são assim, é?" No Garden, nós ensaiamos e ficou ótimo, mas ele estava fisicamente doente antes do show - fazia muito tempo que não subia em um palco. Yoko foi ao show e levou uma gardênia para ele - nunca vou me esquecer disso. E nunca vou me esquecer da recepção que ele teve naquela noite. Tipo oito minutos de aplausos de sacudir o chão. Ele ficou emocionado de verdade. Nós saímos todos naquela noite, fomos ao hotel Pierre, e foi a reconciliação dele com Yoko. Uma noite fantástica. Depois disso, nunca mais o vi muito, e também não precisava ver. Ele tinha voltado com a mulher que amava, estava feliz de verdade.

Tantos amigos seus tiveram fim trágico... Onde você estava quando John Lennon foi morto?

Eu estava na Austrália, no avião de Brisbane para Melbourne. Quando nós pousamos, pediram para o grupo de Elton John ficar no avião, e eu pensei imediatamente: "É a minha avó", porque ela era idosa. Quando disseram que tinha sido John, eu nem conseguia acreditar. Fomos à catedral em Melbourne no exato momento em que fizeram a vigília em Nova York. Cantamos hinos e choramos. Foi um momento cheio de emoção. John realmente tocou a minha alma. Isso já aconteceu tanto na minha vida. Com John, com Gianni [Versace], com a princesa Diana, e com a minha amiga Linda Stein. Quatro dos meus amigos foram assassinados. John era tão adorável. Quando eu penso nele, lembro-me de como o John foi agradável com a minha mãe e o meu pai - quer dizer, ele os levou ao aeroporto. Eu me lembro de ir a um restaurante russo em Nova York, e quando John foi ao banheiro meu pai colocou a dentadura dele na bebida de John. Nós não parávamos de rir.

A última música de The Union, "In the Hands of Angels" é Leon fazendo um agradecimento a você por, basicamente, ter salvado a vida dele.

É, ele me chama de Governador, e eu o chamo de Mestre. Foi a última faixa que nós gravamos. Leon chegou ao estúdio e disse: "Ontem à noite, no hotel, eu escrevi esta música. Quero gravar sozinho, com o piano"; T Bone, eu, meu empresário e [o diretor] Cameron Crowe ficamos na sala de controle. Obviamente percebemos de cara o que aquilo significava. Nós choramos. Foi cheio de emoção, um homem simplesmente dizendo obrigado. Foi um dos momentos mais lindos da minha vida. Leon entrou na sala de controle e disse: "Obrigado por ter salvado a minha vida".

Essa é uma história e tanto.

A música em The Union é fenomenal, mas ver uma pessoa recobrar o orgulho foi a melhor experiência que eu tive em um estúdio, e eu já tive muitas experiências maravilhosas. Quando você vê um homem que ama, seu ídolo, voltar à vida... Leon passou tantos anos só pagando o aluguel, fazendo turnê em um ônibus velho e fodido que quebrava o tempo todo, tocando um pianinho elétrico Yamaha. Mas mudamos isso. Comprei um piano de cauda, mandei para a casa dele e disse: "Agora, você tem de tocar sempre em um piano de cauda". Ele comprou um ônibus novo. Eu liguei para o Leon no Ano-Novo, e ele disse: "Eu comprei um ônibus novo, é lindo. Posso convidar você para visitar o ônibus agora!" Ele falou: "Você ganhou um bebê, eu ganhei um ônibus".