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Guerra Fria no Bolso

Com novo console que gera imagens em três dimensões, Nintendo se arrisca a ameaçar reinado portátil da Apple

Por Pablo Miyazawa Publicado em 11/05/2011, às 15h22

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ILUSTRAÇÃO: GERSON NASCIMENTO / IMAGENS: DIVULGAÇÃO
ILUSTRAÇÃO: GERSON NASCIMENTO / IMAGENS: DIVULGAÇÃO

Desde o surgimento do game Boy, criado pela Nintendo em 1989, os videogames portáteis mantêm uma aura mítica entre os usuários de tecnologia. No entanto, a recente popularização do iPod e, posteriormente, do iPhone (ambos fabricados pela empresa norte-americana Apple), modificou ligeiramente a constituição dos produtos que carregamos no bolso: ou seja, não basta mais ser útil, mas também tem que possuir múltiplas (e nem sempre úteis) utilidades, tal qual um canivete suíço. Multifunção se tornou a palavra obrigatória em se tratando de fetiche portátil.

Aparentemente na contramão de qualquer onda, a empresa japonesa Nintendo finge não se esforçar para manter um domínio do mercado de consoles de bolso que já se estende por mais de 20 anos. Seu próximo lançamento, o Nintendo 3DS, possui quase tantos recursos técnicos quanto um aparelho celular de última geração. São três câmeras, giroscópio e acelerômetros embutidos, duas telas (uma sensível ao toque) e acesso à internet via wi-fi. Para ser mais parecido com um iPhone, só faltaria mesmo o elemento mais básico dos celulares - permitir conversas faladas em tempo real. Não é o que acontece: em teoria, o 3DS serve "apenas" para jogar. Mas sua enorme quantidade de extras indicaria também uma tentativa da Nintendo de não deixar a concorrência invadir tanto o seu território.

"Está havendo uma receptividade muito maior desses gadgets. As pessoas estão mesmo se tornando mais 'espertas' em se tratando de tecnologia", concorda Bill Van Zyll, diretor da unidade da América Latina da Nintendo. "Hoje em dia compreende-se melhor todos esses recursos. Por um lado estamos evoluindo, mas há também um mercado mais acessível, já que a aceitação aos portáteis é mais ampla." Nos Estados Unidos, a máquina chega às lojas em 27 de março, com o preço sugerido de US$ 249,99; no Brasil, deverá chegar "nas semanas seguintes", a valores ainda não definidos. "Gostaríamos de lançá-lo no mesmo dia. Só teremos que ver como funcionará a logística da importação e das cadeias de distribuição", explica Van Zyll. A novidade para o mercado brasileiro é o fato de o aparelho trazer menus escritos em português, algo inédito em se tratando de um lançamento de console da fabricante japonesa no país.

No evento de apresentação do Nintendo 3DS para o continente americano, ocorrido em Nova York, em janeiro, a empresa ofereceu pistas de que começa a prestar mais atenção ao mercado de celulares multimídia cujas diretrizes são hoje ditadas pela Apple. Apesar de seus representantes negarem de forma veemente qualquer rivalidade ("Eu não acho que estamos necessariamente competindo com alguém. Todo mundo é jogador de games em potencial", diz Van Zyll), fica evidente que o foco de um produto como o 3DS não seria somente o tradicional público infanto-juvenil. O recurso que vem sendo alardeado como "a próxima grande revolução" é a possibilidade de o aparelho gerar imagens tridimensionais que podem ser apreciadas sem a utilização de óculos especiais. Graças a uma esperta manipulação de telas e imagens desfocadas, ele simula imagens em 3D na tela superior (a sensação existe graças a uma ilusão que oferece a impressão de falsa profundidade), enquanto a inferior traz recursos de sensibilidade ao toque.

Há poréns: o 3D só pode ser percebido por quem estiver jogando (vista de longe, parece que a tela está simplesmente borrada). Um botão regulador localizado do lado direito da tela superior colabora no ajuste da intensidade do efeito (ou pode desligá-lo por completo), uma vez que cada usuário perceberia o 3D de maneiras diferentes. A Nintendo despista quando questionada sobre possíveis consequências prejudiciais à saúde causadas pela ilusão de ótica, mas alega que o jogador sempre tem a opção de regular o nível de tridimensionalidade (além de alertar que a utilização do portátil deve ser restrita a pessoas acima de 6 anos).

"Não é só diversão, é imersão", definiu Reggie Fils-Aime, presidente da Nintendo, dando a entender que o 3DS deveria ser interpretado como um gadget diferenciado. Na prática, porém, ele é o que parece ser: um videogame de bolso recheado de recursos avançados, mas cujo principal propósito é rodar jogos. O iPhone, por sua vez, vem se garantindo cada vez mais como uma plataforma eficiente para games. Em alguns anos, é bastante provável que Nintendo e Apple resolvam se enfrentar assumidamente pelo mesmo mercado. Pode até vir a ser uma guerra, mas por enquanto não passa de uma rivalidade velada, ao melhor estilo "morde e assopra".